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sábado, 7 de julho de 2007

Atentai Brasileiros.

A imaginação, quando corrige a realidade, ilumina zonas que de outro modo seriam inalcançáveis. Com freqüência, a imaginação costuma também se converter em história e acaba sendo aceita como a única e irrefutável verdade. O verossímil, ainda que seja falso, pode criar um insuperável efeito de verdade. 

Quem vê ouve ou lê pode saber que uma história é reconstrução imaginária, mas, enquanto está vendo, lendo ou ouvindo, aceita que a ficção ocupe o lugar da verdade. São episódios distantes no tempo e, portanto, tecidos por uma aura mística. 

O leitor ou espectador termina esquecendo-se de distinguir entre o que é verdade e o que não é. O que lhe importa é o que permanecerá como verdade na memória deles. 

Muito mais difícil é converter o presente em fábula e lograr que essa fábula substitua o que todos viram e leram nos jornais e na TV.

Sobre o Brasil de Lula: pífio / assistencial / predador.

É possível juntar as premissas?
Todo o debate sobre crescimento gira em torno das diferentes formas de como o econômico, o social e o ambiental se combinam. O crescimento econômico razoável, com pleno emprego e destruição ambiental monumental é justamente capitalismo reformado. Então vamos partir para corrigir este terceiro ponto.

O Brasil segue três premissas negativas?
Ele tem um crescimento pífio, com uma política social de cunho assistencialista e problemas ambientais que se avolumam.

Populismo na América Latina: mais presente que nunca!

Resumo do artigo do historiador mexicano Enrique Krauze, publicado no Estado de SP.

Os dez mandamentos do populismo.

O populismo na América Latina adotou um amálgama desconcertante de posições ideológicas. Esquerdas e direitas poderiam reivindicar a paternidade do populismo, todas ao conjuro da palavra mágica "povo". Proponho dez traços.

1 - O populismo exalta o líder carismático.

2 - O populista não só usa e abusa da palavra: ele se apropria dela. A palavra é o veículo específico de seu carisma. Fala com o povo de modo constante, incita suas paixões, "ilumina o caminho", e faz isso sem restrições nem intermediários.

3 - O populismo fabrica a verdade. O governo "popular" interpreta a voz do povo, eleva essa versão à condição de verdade oficial, e sonha com decretar a verdade única. Os populistas confundem a crítica com inimizade militante, por isso buscam desprestigiá-la, controlá-la, silenciá-la.

4 - O populista usa de modo discricionário os recursos públicos.

5 - O populista divide diretamente a riqueza. "Vocês têm o dever de pedir!", exclamava Evita a seus beneficiários. Criou-se assim uma idéia fictícia da realidade econômica e entronizou-se uma mentalidade assistencialista.

6 - O populista alimenta o ódio de classes.

7 - O populista mobiliza permanentemente os grupos sociais. "O povo" mas uma massa seletiva e vociferante que caracterizou outro clássico, Marx - não Karl, mas Groucho: "O poder para os que gritam".

8 - O populismo fustiga sistematicamente o "inimigo externo". Precisa desviar a atenção interna para o adversário de fora.

9 - O populismo despreza a ordem legal. Há na cultura política ibero-americana um apego atávico à "lei natural" e uma desconfiança das leis feitas pelo homem.

10 - O populismo mina, domina e, em último recurso, domestica ou cancela as instituições da democracia liberal. Ele abomina os limites a seu poder, considera-os aristocráticos, oligárquicos, contrários à "vontade popular".

O populismo tem, além disso, uma natureza perversamente "moderada" ou "provisória": não termina sendo plenamente ditatorial nem totalitária. Por isso alimenta sem cessar a enganosa ilusão de um futuro melhor, mascara os desastres que provoca, posterga o exame objetivo de seus atos, amansa a crítica, adultera a verdade, adormece, corrompe e degrada o espírito público.

O Lula que milhões adoram! Apenas um covarde para mim!

De Marco Antonio Villa no Estado de SP.

a) Lula não sabe tomar decisões, não fica confortável diante delas. É uma característica pessoal. Em 1980, por exemplo, sumiu de vista em dias decisivos da greve em São Bernardo do Campo. "Cadê o Lula?", perguntavam todos. Estava em um sítio, perto de uma represa. Foram lá dar uma dura nele e ele reapareceu no dia seguinte, na assembléia da Vila Euclides. Lula tem uma dificuldade de tomar decisões que não começou na Presidência, ficou evidente em todos os momentos-chave de seu primeiro mandato e reapareceu agora, no primeiro trimestre de seu segundo governo. O apagão aéreo é apenas um exemplo de uma lista extensa.

b) O presidente Lula apresenta a lentidão de suas decisões como sapiência, como a elogiável capacidade dos líderes de decidir quando querem, como querem. É um recurso que não resiste nem mesmo a uma análise histórica. Grandes decisões foram tomadas no calor do momento. Se o presidente Lula estivesse no lugar de Dom Pedro I no momento em que recebeu a correspondência às margens do Ipiranga, dificilmente teria proclamado a Independência, provavelmente teria sugerido uma paradinha ali à beira do rio. O presidente acredita que, passando o tempo, as coisas se acomodam sozinhas. Governar não é isso.

c) A indecisão do presidente pode ser boa para ele, mas é péssima para o País.

d) Apostar no esquecimento é uma característica do conservadorismo político. Nos últimos tempos as pessoas têm falado muito da frase do Ivan Lessa, que disse que a cada 15 anos o Brasil esquece de tudo o que aconteceu nos 15 anos anteriores. O governo Lula atua em uma faixa que mistura essa máxima com a lógica de Delúbio Soares, que previu que toda a denúncia do mensalão acabaria em "piada de salão" - e tinha razão. Lula assumiu o segundo mandato e os protagonistas do episódio continuam em lugares importantes dos partidos que atuam junto com o governo. É a vitória do esquecimento.

e) O presidente Lula não gosta de ser um executivo, reunir equipes, levar relatórios para casa, pegar retornos técnicos e, com base nisso, tomar decisões. Nesse sentido, ele não preside. O presidente gosta do poder, é encantado pelo cerimonial do Palácio e por tudo o que é externo ao ato de governar. Gosta de fazer discursos com temáticas pessoais, autobiográficas. Gosta do mundo palaciano em que presidentes jamais são vaiados e exerce uma "Presidência do Espetáculo" que até lembra o Absolutismo, em que tudo é revelado. Nenhum governante sobreviveu à história apenas com sua cota de carisma. A dificuldade para decidir, em um presidente, não é só curiosidade. O País precisa de administradores reais.

Pés de barro do nosso "Governo".

Experimentamos, todos os dias, o contraponto entre as pretensões hegemônicas do Governo e as reações coletivas geradas por tais intenções. Por outro lado, num nível talvez mais profundo, este duelo insistente entre a hegemonia governamental e a contestação de todas as formas de grupos de veto, confronta o ideal de uma sociedade civil representada pelo regime da democracia republicana, vis-a-vis a agressiva realidade de uma sociedade que, com freqüência, apresenta perfis de incivilidade. Ideais e realidades: o componente civil a que aspiramos e o componente incivil que nos interpela e desnuda nossas incapacidades.

Thomas de Quincey escreveu que o poder se mede pela resistência. Se não há resistências visíveis, o poder hegemônico avança sem dificuldades e atua com efetividade sobre os flancos institucionais mais débeis (Partidos, Parlamento, Justiça, Forças Armadas, burocracias, manejo discricionário dos recursos orçamentários e fiscais). Se, ao contrário, há resistências e se essas resistências estouram nas ruas, se contrai, ou melhor, se escolhe como um tecido molhado. Há, então, duas hegemonias em ação: uma, efetiva, outra, virtual, a que se exerce com prepotência e a que se exerce por cálculo ou temor.

Embora a hegemonia atual devesse gerar no país sentimentos de governabilidade, ainda que com o preço de diminuir os conteúdos republicanos de nossa democracia, a contestação social, produz a impressão de um governo débil, encerrado em palácio, que não mostra a cara e que não se propõe a reagir. Hegemonias de pés de barro as temos chamado em outra oportunidade. Naturalmente, estes obstáculos poderiam superar-se, caso os partidos logrem recuperar a autoridade e o prestígio que tiveram quando começou nossa democracia e quando a colocamos em marcha.

Esta é a tarefa que se impõe hoje. Com efeito, não temos uma democracia com um sistema de partidos, competitivo e diferenciado, mas um sistema montado em torno de um partido presidencialista que, desde essa posição predominante, aumenta sua popularidade (se são confiáveis as pesquisas de opinião que isso indicam) e dispõe de recursos. A popularidade deriva dos resultados econômicos (agora erodidos pela inflação) e dos recursos do abundante superávit fiscal, do controle dos impostos em detrimento das províncias e do aumento do gasto público.

Aos Brasileiros do meu tempo!

Um dos rasgos negativos de nosso tempo é o crescimento progressivo de uma cultura relativista, que leva as pessoas a ocuparem-se cada vez mais do incidental ou conjuntural e cada vez menos do transcendente. 

Nos dedicamos a análise dos meios que empregamos em nossa atividade cotidiana, mas não nos detemos a refletir sobre os grandes fins e os altos valores sobre os quais se fundamenta a sociedade a qual pertencemos. 

A questão dos fins e dos valores é o que deveria ocupar o pensamento e o interesse prioritário de quem deseja viver em um mundo melhor.


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