O jornalista salva-se recorrendo ao exagero.
Giovanni Papini - Escritor
Itália, 1881 / 1956
O jornal é, de certo modo , o teatro histórico a domicílio, obrigado a fornecer em cada número a ração de terrível e ridículo necessária para conciliar a digestão ou o sono dos seres aos quais nunca acontece nada .
Por conseguinte , o jornalista tem de recorrer continuamente ao exagero , mas sobretudo à hipérbole e, se for caso disso, à invenção . Compete-lhe vencer , à força de fantasia e literatura amplificadoras, a espantosa uniformidade da vida humana .
O jornalista salva-se recorrendo ao exagero . Sob a sua pena , tudo assume um aspecto trágico ou satírico . Todo o terremoto que faça ruir duas casas é um «cataclismo de que não há memória outro igual»; uma rixa entre bêbados uma «luta na via pública»; uma manifestação de mendigos «uma revolta»; a assinatura de um tratado «uma data histórica»; um orangotango amestrado «um milagre da ciência ».
Os homens , na sua maioria sádicos , querem que o jornal lhes satisfaça o sadismo íntimo , pelo que tem de localizar , de país para país , todo o abrutalhado e malévolo que existe e apresentá-lo ainda mais bruto e mau .
Se há uma mulher de permeio , ou é possível fingir que há, junta ao bruto um pouco do porco : o famoso binômio romântico - amor e morte - traduz-se facilmente em sangue e esperma .
Giovanni Papini, “Relatório Sobre os
Homens ”