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terça-feira, 15 de junho de 2010

Livre-arbítrio.


Engraçado esse negócio que Deus nos deu livre-arbítrio... a tal possibilidade de decidir ou escolher em função da vontade própria, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante... Será?

Bem cedo aprendi a exercer esse tal do livre-arbítrio que Deus supostamente “deu”, e gostei muito.

Ainda pequeno, as minhas ações dependiam unicamente da própria vontade, portanto, era livre. Já imaginaram? Eu, pobre e preto, descobri que tinha total liberdade... E a liberdade, humano sou, obviamente deslumbrou.

Os meus grandes educadores, pai, mãe analfabetos e avô que assinava lindamente o seu nome, diziam-me sempre que, para exercer bem o meu livre-arbítrio, era preciso conhecer primeiro todos os lados da questão onde eu pretendia exercitar a minha vontade.

Conhecer todos os aspectos? Muito complicado e demorado! Para roubar duas ou três goiabas do quintal do vizinho precisava analisar os prós e contras de uma ação que eu chamava “obtenção de provimentos para a batalha”? Humm... Quando acabasse de pensar as goiabas já haveriam caído de moles. E quem gosta de goiaba sabe que as melhores são as meio verdes e vermelhas, comidas no pé.

Deste modo, exercendo o meu livre-arbítrio, eu retrucava que não era necessário. Afinal, o tal do livre-arbítrio fora-me dado por Deus, conseqüentemente, ficar analisando variáveis e tangentes de determinado assunto não só era pura perda de tempo, como uma falta de respeito. Deus poderia pensar que eu desconfiada do presente dele...

Se Deus deu, estava dado e fim de papo. Eu podia muito bem fazer o que quisesse sem precisar analisar nada. Eu não queria que Deus ficasse aborrecido comigo... Mesmo assim, pai, mãe e principalmente o meu avô, insistiam em mostrar-me o que achavam certo ou errado e eu... bom... fingia que ouvia. Tinha esse direito, não? Fazia parte do meu livre-arbítrio, ora pois! Eu era senhor e rei do meu livre-arbítrio.

Eu era livre. Livre como os passarinhos que caçava e enfiava numa gaiola para aprenderem que liberdade era coisa de gente, não de bicho. Deus só dera livre-arbítrio para os homens.

A memória retrocede-me neste instante aos meus onze aninhos. Recém entrara na puberdade. Os ossos doíam-me, os mamilos inchavam e a voz saía-me a cada dia pela boca com um som diferente. Às vezes chegava a pensar que não era eu, e sim um daqueles espíritos que costumam vagar pelos campos de Minas Gerais. O pior eram as espinhas e a farinha que minha mãe insistia que eu pusesse na cara para secá-las.

Nesse aspecto o meu livre-arbítrio não funcionava...

Lá na roça, naqueles tempos, tratamento dermatológico era emplastro de farinha de trigo, água, sal e mel pregado na cara antes de dormir. Dermatologista era coisa pra gente sabida e de “puuder”. Para falar essa especialidade médica o caboclo engasgava-se duas ou três vezes. Quando conseguia, balbuciava em cadência “dérrr-ma-tro-lo-gis-tra”, seguido de um sorriso amarelo. No alto do meu livre-arbítrio eu logo recomendava com o riso preso na garganta:

ocê devia procurar um otorrinolaringologista para melhorar sua dicção...
Sua quê? – respondiam-me já de mão alçada.

Dependendo de quem fosse o interlocutor recebia de resposta o rebolar “dozóio” ou um cascudo na cabeça. De qualquer forma saía da conversa a rir a bandeiras despegadas. E este era só um dos privilégios do tal do “livre-arbítrio”.

Quando os ossos pararam de doer aprendi que livre-arbítrio também significava poder... pois a cada dor eu fingia que não existiam e um dia as dores pararam. Então eu tinha poder... e liberdade.

Isso pensava até ao dia que o meu avô obrigou-me a ler um livro com textos de um tal de Heráclito... Cinco séculos antes de Cristo, lá na Grécia, o desgraçado escrevera aos prantos que, “Se tudo se torna tudo, cada coisa contêm em si o que nega”...

Coitado! Do Heráclito, obviamente!; não do meu avô, pobrezinho! Na sua santa ignorância havia ouvido alguém dizer que ler clássicos gregos fazia bem para a cultura... então ele me convencia que parte do meu livre-arbítrio era ler o que os gregos haviam escrito.

Até hoje, se numa livraria o acaso me leva a cruzar com uma Ilíada fico arrepiado.

Que decepção! Para encurtar a história, ao final do alfarrábio descobri que não era livre, não tinha poder algum e, pior, não era humilde, embora pertencesse à classe dos humilhados.

A partir daí comecei a duvidar do tal “livre-arbítrio”. E, morrendo de medo, cheguei à conclusão o "presentinho" de Deus era uma baita sacanagem. Para que me servia essa coisa que Deus me havia dado se nem das espinhas conseguia livrar-me? E que raio de livre-arbítrio tinha eu se me deixava convencer a ler livros de gente velha que tinha morrido há não sei quantos séculos?

Bom, na dor nos ossos o livre-arbítrio funcionara. Nas centenas de goiabas que comi empoleirado na árvore do vizinho, funcionara ainda melhor... mas nas espinhas não. Menos ainda nos trabalhos escolares que a freira me obrigava a fazer sem dar-me chance de exercer o meu livre-arbítrio...

Esse presente de Deus era presente de grego, isso sim!

Fizesse eu o que fizesse as espinhas continuavam. Para engrossar o caldo, o infeliz do Heráclito, que viveu chorando diante das conjecturas da vida, levou-me a acreditar que o meu valor como homem dependia sempre do que eu produzisse e não do conhecimento que possuísse.... Mas... para valer mais pelo que produzisse, do que pelo que sabia, eu devia saber mais para fazer melhor...

Que confusão!

O padre, de quem todos suspeitavam que era comunista, nas aulas de catecismo agravava ainda mais a bagunça. Dizia que estava nas Escrituras que “conhecimento gera sofrimento”. Danou-se! Eu queria saber de tudo mas não queria ser infeliz... E a coisa piorava quando se contradizia e citava Timóteo 2:4: “Deus deseja que todos os homens sejam salvos e que cheguem ao pleno conhecimento da verdade”.

Que tormentos eu passei por causa desse presentinho que Deus me havia dado.

Já adulto descobri que os religiosos pelo mundo afora consolam os desditados valendo-se da expressão para explicar até unha encravada... embora nas escrituras não exista um só versículo que mencione essa “concessão” divina. Os hermeneutas do espiritismo dizem que livre-arbítrio é um atributo da alma humana, ensinado pelos Espíritos, consubstanciado na Doutrina codificada...

No entanto, “Deus deu-nos livre-arbítrio”, murmuram todos eles comiserados para a mãe que chora pelo filho que matou a esposa porque esta não queria reatar o casamento.

Foi Livre-arbítrio do pai matar o filho cheio de crack porque não agüentava mais os vexames a que era submetido.

Livre-arbítrio Deus “deu” também ao assaltante para arrastar pela rua uma criança amarrada ao carro; ou matar uma velha senhora porque esta se agarrou afincada à bolsa onde tinha a aposentadoria recém sacada do banco.

E o comerciante que foi assaltado dez vezes; na undécima enfrentou os bandidos e morreu pela bala saída da arma de um deles? A ação e a morte desse comerciante foram em função da vontade própria, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante?

Quando o senador Aloísio Mercadante apresentou a sua burlesca renúncia em caráter irrevogável e depois revogou o irrevogável, será que ele optou, (os repórteres da TV Record falariam “oupitou”), por essa concessão divina tão especial do “livre-arbítrio”?

– “Deus deu ao homem o livre-arbítrio!” – respondeu-me certa vez o Cura do meu povoado de Minas Gerais, quando quis saber porque Deus não acabava com a Guerra do Vietnam. – “Ele não interfere quando os homens decidem matarem-se uns aos outros”... – arrematou ele... e eu entendi.

Entendi?

Tanto entendi que os anos passaram e vi Deus “dar” livre-arbítrio aos brasileiros para elegerem o Lula da Silva. E livre-arbítrio recebeu o Lula para envergonhar e humilhar o Brasil. Livre-arbítrio tiveram os petistas para roubarem descaradamente o erário nacional; para associarem-se com criminosos das FARC; para criarem dossiês falsos; para estarem tentando eleger para presidente da república uma assaltante de bancos, terrorista e mentirosa patológica...

Livre-arbítrio mostram os brasileiros ao acreditarem nas mentiras e vigarices lulistas; ao acaçaparem os impostos mais altos do mundo; ao fecharem os olhos à corrupção; ao fingirem não perceber a miséria e a ignorância em que vivem...

Aí eu me pergunto: uma criança que na infância é desprezada, surrada, violentada, estuprada e quando adulta vira criminosa, drogada, psicopata, ou pior, petista, nas ações ignominiosas que comete está realmente exercendo o tal livre-arbítrio que “recebeu” de Deus ou apenas imitando o que conheceu, aprendeu e experimentou na sociedade onde está inserida?

E o Amor?... palavra tão próxima com realidade tão distante... Faz esse sentimento parte do Livre-arbítrio?; ou é só um mero, este sim, atributo da alma humana?

Dizem que religião, política e futebol não se discutem... talvez porque o assunto acabe em briga por causa do tal do livre-arbítrio... O ser humano tem a mania de escolher o que pensar e decidir por algum tipo de conclusão para responder ou agir em conseqüência... segundo sua visão, quase sempre sem olhar todos os lados da questão.

Em nenhum lugar o tal do “livre-arbítrio” se vê tão claramente como no futebol... especialmente neste mês de Copa do Mundo... Mas vou poupar um pouco o teclado dos meus dedos e a você, leitor, a maçada de me ler. Recuso-me a tomar parte e fujo de qualquer discussão a respeito da bola. São absolutamente enfadonhas, desprovidas de sentido.

Nunca encontrei nada de extraordinário – ou divertido – em assistir a quarenta e quatro bolas correndo atrás de uma. Futebol não faz parte do meu cardápio de entretenimentos caseiros; muito menos ao ar-livre enfiado num estádio cercado por afluências de suores e fedentinas irrespiráveis.

Falar de bola jamais leva a remate algum. É um beco sem saída onde prolifera a discórdia dos diferentes livres-arbítrios... onde não há árbitros. Todos têm opinião formada, por mais absurda que seja, e os técnicos das equipes, as deles; as quais, sequer comportam a dos polemizadores que passam horas chovendo no molhado ao estilo Juca Kfouri e seus caninos vampirescos. Para quê?

Falar sobre futebol em nada contribui para o aprendizado do indivíduo. Isso penso. Em nada acresce ou decresce, quanto mais não seja permitir ao indivíduo exercer o seu livre-arbítrio para tergiversar sobre um tema que julga entender, mas na verdade não entende... porque nada há para entender.

O que há para entender em ver 44 bolas correndo atrás de uma ao som da voz de um Galvão Bueno grasnando as mais absurdas nescidades?

Qualquer discussão sobre esse esporte enfadonho requer uma vassoura para juntar o que foi dito a ver se restou algo a aproveitar. No entanto, reconheço, o assunto é um nivelador de massas e de classes sociais, cujo propósito, outro não vejo, senão induzir os menos ilustrados, os desprovidos de inteligência, a conversarem sobre alguma coisa enquanto vêem o tempo passar... permitindo-lhes a fantasia de se convencerem a si próprios que alguma capacidade têm para raciocinar... e exercer o seu livre-arbítrio.

Algo como acontece agora na África do Sul onde mais de um quarto da população negra está sendo devastada pela AIDS e ninguém teve o livre-arbítrio de usar os milhões gastos na construção de estádios para proporcionar melhores condições de vida a esses desgraçados.

No exercício pleno do tal do livre-arbítrio preferem olhar para as bolas, continuarem a morrer de fome e de AIDS e dar ora-bolas à tragédia humana em que se conspurcam... como fazem igualmente os brasileiros.

Que coisa estranha esse tal do Livre-arbítrio. Deus não foi certamente quem o deu. Se o tivesse dado teria impedido o ser humano de ter vícios. E o Homem, na sua essência, é um ser devasso, preso a dogmas, leis e preconceitos.

Arbítrio significa resolução que depende só da vontade do indivíduo. Livre arbítrio determina a decisão livre, a predição dessa vontade livre, consciente e sem vícios.

Livre-arbítrio, portanto, é só outra palavra inventada pelo homem para justificar vaidades, ambições, cobiças, genocídios e, principalmente para tirar de cima de si a culpa pelos erros cometidos, porque Deus lhe “deu” livre-arbítrio...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A primeira voz nacional contra o Lula

Sim, pela primeira vez leio palavras, de um brasileiro que julgo decente e digno, parecidas às que aqui venho escrevendo desde 2006. Eis algumas:
O PT é um perigo para o país e para a democracia”;

O Lula é, de fato, uma pessoa desonesta. Um demagogo”.
O autor é o cidadão brasileiro José Ribamar Ferreira, o extraordinário poeta conhecido como Ferreira Gullar.

E ele diz mais na entrevista que concedeu, em 08/06/10, ao Jornal “O Tempo” de Belo Horizonte: Leia e entrevista completa «AQUI».

“Espero que o Serra ganhe. Será um absurdo se o Lula, que empurrou a Dilma garganta adentro do PT, vá empurrar agora garganta adentro do país só pela vontade exclusiva dele”.
“O principal problema do Lula é ele não reconhecer o que ele deve aos governos anteriores. Tudo dele é “Nunca na história deste país...”.
Ele se faz dono de tudo o que ele combateu. Por que o Brasil passou pela crise da maneira que passou? Porque havia o Proer (programa de auxílio ao sistema financeiro). Mas o PT foi para a rua condenar o Proer dizendo que o governo FHC estava dando dinheiro para banqueiro. E a Lei de Responsabilidade Fiscal? O PT entrou no STF contra a lei. Ainda está lá o processo do PT para acabar com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O PT era contra o superávit primário,era contra tudo. Quer dizer, tudo o que eles estão adotando e que se constitui a infraestrutura da política econômica eles combateram. Agora o cara não reconhece isso: ele diz que fez tudo.
O Lula é, de fato, uma pessoa desonesta. Um demagogo. E isso é perigoso. Está arrastando o país para posições que são realmente inacreditáveis. O cara se tornar aliado do Ahmadinejad, o presidente de um país que tem a coragem de dizer que não houve o Holocausto? Ele está desqualificando mundialmente porque está negando um fato real que não agrada a ele. Então não pode.
O Brasil vai se ligar a um cara desse? É um oportunismo e uma megalomania fora de propósito. É um desastre para o país. Eu espero que a Dilma perca a eleição. Não tenho nada contra ela, mas contra o que isso significa.
O PT é um perigo para o país. O aparelhamento do Estado, o domínio dos fundos de pensão... Um sistema de poder que vai ameaçar a própria democracia. As pessoas têm que tomar consciência”.
Se eu tivesse assistido à entrevista teria aplaudido...

Mas também teria perguntado ao grande poeta (e digo grande porque realmente assim o vejo), em que mundo ele viveu ou se escondeu durante estes quase oito anos de desgoverno lulista? Porque só agora resolveu, quase às vésperas da eleição presidencial, manifestar tal opinião por um homem que só tem envergonhado o Brasil?

Onde estava durante o mensalão? E durantes todas as mentiras proferidas pelo Lula?

Quando Ferreira Gullar afirma: “As pessoas têm que tomar consciência”, eu me pergunto: será que só agora o extraordinário poeta, tomou ele próprio consciência do bandido que é o Lula?

É um pouco tarde para a tomada dessa tal “consciência” pois o dano está feito e o governo dos quarenta ladrões está quase no fim... de iniciar uma nova etapa de mais do mesmo... e certamente será pior.

O “oportunismo” e a “megalomania” do Lula descobertas agora por Ferreira Gullar já deram ao Brasil a triste e duradoura pecha de amigo de terroristas; de cúmplice ativo e participante do narcotráfico; de ser uma ditadura hipocritamente chamada de “democracia”;... de ser a explanada do sexo a céu aberto; de ser o campeão de assassinatos e de assaltos;... de ser o país mais corrupto da América Latina; de ser o melhor motel para o capital especulativo; de ser a nação com os juros mais altos do mundo; de ser a vergonha da diplomacia internacional...

Pelo respeito que tenho à obra, sobretudo à idade e à pessoa de Ferreira Gullar encerro por aqui.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Democracia no Brasil?

Pense com calma: – pelo fato de no Brasil o cidadão “poder” votar compulsoriamente para eleger deputado, senador, prefeito, governador e presidente, você acha que isso preconiza a soberania popular e faz do Brasil uma democracia?

Da minha parte, sinceramente não sei que nome dar à forma de organização política que prevalece no Brasil, mas sei que democracia não é. A despeito da compreensão intelectual do assunto, já vivi em países explicitamente democratas para saber a diferença. Hoje resido permanente num deles. Na Bélgica. (os âncoras da TV Globo diriam “em Bélgica”)

Quando morava em São Paulo e escutava que o Brasil se tornara uma democracia, inúmeras vezes tentei demonstrar por A+B que ainda estava bem longe disso. 


Não precisei muito tempo para dar-me conta que falava a ouvidos moucos. A TV Globo e suas alegorias altissonantes eram mais profícuas... e o raciocino dos brasileiros, agreste. Só de pensar fico arrepiado.

Pouco importa o lado do cristal por onde se olhe, a organização social brasileira sequer se assemelha a uma democracia. A começar pelo voto que é obrigatório, (passível de punição se não justificado), e a terminar nos jornais e blogs censurados pela justiça. 


Não devemos nos esquecer do autoritarismo regionalizado nos redutos petistas, da autocracia Sarney nos Estados do Maranhão e Amapá, dos despotismos em Mossoró/RN, Juazeiro/CE, Parnaíba/PI e de feudos exclusivos como Recife, Natal, João Pessoa ou Curitiba dominados por famílias.

Se me lembrar dos blogs políticos que censuram qualquer comentário que não lhes agrade ou contrarie a manipulação a que se propõem, o assunto renderá um bom par de meias.

Numa democracia plena, em exercício, não existe autoritarismo, nem autocracia, nem censura de espécie alguma; nem juizes se atrevem a cercear qualquer forma de expressão verbal ou escrita. 


No Brasil, entretanto, autoritarismo, autocracia e censura brotam e florescem por todos os lados e poros; em cada calçada de rua, no cruzar com um transeunte; na porta de entrada da agência bancária; na recepção de um hospital público; no balcão de uma delegacia de polícia; na fila do cinema; até no setor de reclamações de um supermercado... Inclusive, pasmem, é praticada a diário por aqueles que se dizem contra a censura e bradam a favor da democracia.

Estranha ironia... Absoluta hipocrisia... Tremendos caras-de-pau!

Por agora vou deixar os nomes de lado.

De igual modo, os princípios que regem a vida político-partidária no Brasil não comportam e nem aceitam um sistema competitivo-honesto e diferenciado de partidos como ocorre nos países europeus onde prevalece a democracia. Ao mesmo tempo, o povo brasileiro não tem princípios éticos nem morais suficientes para levá-lo a viver numa igualdade de direitos, nem capacidade para exigir esses direitos.

Democracia significa essencialmente direitos iguais e práticas que se revelem úteis e verdadeiras aos interesses dos cidadãos. 


Em outras palavras, viver na verdade. 


Mas viver na verdade requer uma atitude moral... Se o povo não a tem, é incapaz de exigi-la e elege políticos amorais o resultado jamais poderá produzir democracia.

Conseqüentemente, digam o que disserem, democracia como é entendida no resto do mundo civilizado é algo inexistente no Brasil.

No entanto, a maioria dos brasileiros, por mais que se lhes explique os parágrafos acima, evitando até detalhes que possam cansar-lhes os neurônios, permanecem firmes na falácia de viverem num sistema de soberania popular...

Infelizmente não têm a menor idéia do que significa soberania popular, mas o Lula foi eleito... para “atender aos interesses populares”. Que ironia!

Lá na roça onde fui criado há um ditado que diz: “se o corno gosta de desfilar com a galhada há que incentivá-lo encoxando mais a esposa”. 


Assim são os brasileiros em relação à democracia. 


Tal como o chifrudo, orgulham-se da bela figura que têm do lado, sem se importarem com os biscates extra-conjugais dela.


Os brasileiros enxergam na democracia apenas a beleza do conceito sem se aterem às contradições políticas abissais que os cercam, ao absolutista que colocaram no planalto e à corrupção profunda que os obriga a pagar os impostos mais altos do mundo.

O que se pode esperar de cegos vivendo vidas incultas? Bem disse aquele general que os brasileiros eram que nem carneiros; bastava saber pastoreá-los.

Assim tem sido graças à tática e metodologia de pastoreio iniciada no final da década de 50 do século passado, com ajuda da Central de Inteligência Norte-Americana [CIA] e aperfeiçoadas ao longo de quarenta e cinco anos pelas Organizações Globo.

Os brasileiros encheram-se de orgulho no “Petróleo é nosso”; repudiaram o parlamentarismo; confirmaram o presidencialismo; apoiaram o Golpe de Estado de 64; aceitaram o azarado e Zé-ninguém do Tiradentes como herói máximo nacional; criaram um fascínio pelos EUA e Paris tornou-se a Meca do bom gosto e das férias sonhadas... Embora, até hoje, não saibam distinguir socialismo de comunismo, presidencialismo de parlamentarismo e ditadura para eles seja somente um governo comandado por militares que seqüestram, torturam e matam os pobres defensores da liberdade...

Defensores geralmente de ideologia comunista ou petista, (de araque eu os via e não me enganei). 


O que mais gostava neles eram os gritos por liberdade e o fascínio que demonstravam por Cuba e pela União Soviética, países estes onde o sistema político, por eles tão admirado, restringia precisamente qualquer forma de liberdade, fosse de expressão ou do simples ir e vir.

Com o passar dos anos, para a opinião nacional brasileira, socialismo e comunismo tornaram-se “coisa” do demo e não se tocava mais no assunto. 


Democracia era o sonho a concretizar. 


Concomitante e paradoxalmente passaram a criticar os Estados Unidos como o grande inimigo da América Latina, mas almejavam ir morar em Miami ou em New York; copiavam-lhes, (e com a Internet mais copiam), as músicas, as roupas, as táticas empresariais, o American way of life e o emaranhado de lojas e restaurantes brasileiros exibem orgulhosos - até hoje - os nomes e promoções em inglês... apesar da maioria da população mal saber falar português corretamente.

No nascer a nova Constituição, em 1988, a mentira passou a ser autorizada legalmente... e a base da chamada "democracia" foi ferida de morte logo na maternidade. 


Pouco importaram os arremedos democráticos que ilustraram o governo de Fernando Collor e se sustentaram nos oito anos de FHC. Com o domínio do lulo-petismo a paródia da democracia deixou de existir. Acho que perdeu a graça...

Como acreditar que existe democracia no Brasil se entre os legítimos representantes não permeia a verdade? 


Como esses homens, que não estão habituados a pensar, nem a estudar e muitos deles mal sabem ler, podem se empenhar num diálogo democrático se não dizem a verdade? Ou, se o que dizem são apenas palavras saídas das suas próprias ambições?

Como acreditar que no Brasil existe democracia se o povo, por ter optado pelo presidencialismo, coloca num só homem o poder absoluto, esquecendo-se que o poder absoluto corrompe? 


Ao colocarem o poder na mão de um homem, permitem a esse homem corromper o poder... Exatamente como faz o Lula. E o faz muito bem feito, lixando-se até para as leis, Código Penal inclusive, sem pudor ou escrúpulos... e na maior das impunidades.

Nessa coisa confusa que no Brasil chamam “democracia” há homens que são mais iguais que outros... e numa democracia de fato ninguém está acima da Lei... mas no Brasil há um monte de criaturas muito acima dela...

De maneira geral, os brasileiros não compreendem que o Estado é uma criação do homem. Ignoram que é o homem em si, com os seus defeitos e ganâncias, quem corrompe o poder; não o inverso como acreditam. 


Não é o homem uma criação do Estado, embora para os brasileiros pareça exatamente isso; haja visto a dependência que procuram ter do Estado e o quanto este os incentiva a se tornarem dependentes com programas assistencialistas de bolsa para isto e para aquilo, sem se preocupar em criar meios e mecanismos que eliminem esse arrimo; o qual, diga-se, gera uma produção incalculável de votos para o partido que está no poder. 


Tampouco é o Estado que dá boca para difamar, ouvidos para a intriga e mãos para roubar... Conquanto que, no entendimento popular, seja precisamente isso que ocorre, pois crêeem que o indivíduo ao assumir um cargo público não tem outro remédio senão entrar no sistema; isto é, enredar-se, difamar e locupletar-se.

Essa compreensão distorcida de Estado servil versus servidor, - servidor de quem e para quem, - explica, em parte, o grande sucesso e fraudes que recebem os concursos públicos... Os batalhões de candidatos a cargos eletivos... O abrir e fechar da torneira do governo liberando dinheiro para emendas parlamentares destinadas à construção de pontes que ligam o nada a lugar nenhum... Os Planos de Aceleração do Crescimento, velozes apenas nas linhas do papel onde são explicitados... E até a briga entre os candidatos à presidência para ver quem acusa mais o outro de querer eliminar o "Bolsa não sei quê" ou quem promete criar mais uma nova "Bolsa de não sei para quê".

Os brasileiros ainda estão muito longe de alcançarem o portal do entendimento que os leve a viver em democracia. Nem conseguem separar o público do privado. E no tocante à escolha dos governantes a maioria vota de orelhada, sendo que o voto de cabresto, enfiado até ao pescoço, é o mais comum.

Numa realidade como esta não há como afirmar que o Brasil seja um país democrático; nem que caminhe nesse rumo.

E há ainda mais. 


Como acreditar que existe democracia no Brasil se a imprensa em geral, e a maioria esmagadora dos jornalistas em particular, obedecem à batuta dos anunciantes, especialmente à do governo, e chafurdam ou são atraídos por este ou aquele interesse venal que lhes permite engordar as contas bancárias, manter os filhos em colégios privados e, vez por outra, publicarem um livro que ninguém lê ou viajarem a Paris? (eles escrevem á Paris).

Num sistema democrático, antes mesmo do povo, os jornalistas precisariam imperiosamente, negar-se a participar das mentiras cotidianas. Mas isso não acontece nem de um lado nem do outro... Principalmente do jornalismo, o que anula qualquer imputação democrática que se queira atribuir à organização político-social brasileira.

O que no Brasil chamam de "democracia" é na verdade uma ave de rapina envolta em disfarces epiglóticos ou farsas em torno do partido presidencialista do momento que os brasileiros nem percebem, pois votam de maneira personalista, baseados na simpatia ou beleza do candidato, e não na sua ideologia, experiência, bandeira ou programa partidário.

Também não cobram nada se o escolhido é eleito; nem comportamento, lisura ou projetos.

Portanto, o mais atinado seria classificar o sistema político-social dos brasileiros como um presidencialismo absolutista fechado, cercado de elitismo abstruso, repleto de autoritarismo corrupto... cujo significado prático de todos estes “ismos” eles tampouco conhecem, mas sentem em cada dia de suas vidas, especialmente nos bolsos furados de tanto rascar e nada encontrar.


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