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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Porque não comentei sobre as empresas:

No meu penúltimo post, 15/09, “Ponto de vista”, (leia «AQUI»), preferi não comentar sobre a forma das empresas expressarem os seus pontos de vista em relação ao desgoverno e bandalheira que acontecem no Brasil.

Parafraseando Jânio Quadros, “fi-lo porque qui-lo”. Por simples questão ética. 


O meu escritório aqui em Bruxelas presta serviços para algumas empresas brasileiras. Não vi razão para divulgar, no post em referência, as agruras, vexames e pressões criminosas a que estão submetidas pelos bandidos petistas, tão adorados pelos brasileiros.

O povão brasileiro, de certa maneira, é cego, burro e absurdamente irresponsável.

Entretanto, ao ler hoje no Diário de Pernambuco, um artigo da Miriam Leitão, titulado “O tom do recado”, pareceu-me que a nobre jornalista adivinhou o meu desejo freado, embora tenha tocado no assunto de forma lúdica. 


É compreensível. 

O tema é complexo, extenso e muito triste. 

O drama em que vivem as empresas brasileiras sob achaque dos sicários petistas vai além de um simples texto e nenhuma delas, temendo coisa ainda pior, está disposta a fornecer provas.

Assim, sem mais delongas, transcrevo a seguir o que Miriam Leitão escreveu. 


Talvez você, leitor, se for funcionário de uma empresa brasileira, possa ter idéia do que o seu patrão passa. 

Ao mesmo tempo, recomendo-lhe que vá colocando as barbas de molho. Se a empresa onde você está empregado estiver submetida a uma aberração dessas tem o futuro comprometido e, por tabela, o seu próprio emprego. 

Não se esqueça disso quando votar na ex-assaltante de bancos, Dilma Rousseff e nos meliantes petistas, candidatos a senadores, deputados e governadores.

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O tom do recado

Por Miriam Leitão
Diário de Pernambuco – Edição de quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Leia o original «AQUI»

A pergunta feita a um empresário, numa conversa com várias pessoas, foi: "É verdade que emissários do PT telefonam para empresas avisando que sabem quem não está fazendo doações para a campanha?" O empresário respondeu: "Para mim, telefonaram e foram pessoalmente dizer que notaram que eu não tinha feito doação na última eleição nem tinha feito ainda nesta."

Eu ouvi essa conversa estarrecedora. Esse tipo de encaminhamento do pedido de doação, se estiver generalizado, é uma forma de ameaça. A frase: "Notamos que você não fez doação na última eleição e ainda não fez nesta" pode ser entendida pelo que está embutido: estamos de olho em você.

O Estado, hoje, é quem concede a maioria do crédito; o BNDES aumentou de forma extravagante suas concessões de empréstimo subsidiado e a arbitrariedade de suas escolhas dos "campeões", que o faz negar créditos a alguns e conceder em excesso a outros que, na visão do banco, estão mais aptos a vencer a competição global. A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida e morte sobre as empresas; de outro, emissários do partido do governo com uma ameaça embutida na formulação do pedido.

Hoje, um dos grandes riscos que a sociedade brasileira corre é exatamente esse poder excessivo do Estado, controlado como donataria pelo partido do governo. O Estado é o grande comprador, o grande financiador, o grande sócio em qualquer empreendimento. Como ficar contra ele?

Por outro lado: ficando a favor dele, que grandes vantagens se pode ter! Os empresários só falam mal do governo se seus nomes não aparecerem; todos eles estão sendo beneficiados por alguma grande obra, algum grande contrato, alguma licença; ou sonham ser beneficiados no futuro. Um dos maiores empresários do país foi chamado para uma conversa cheia de ameaças indiretas por ele ter feito declarações contra uma das polêmicas obras que promete ser sorvedouro de dinheiro público.

O governo cooptou movimentos sociais, sindicalistas, parte do movimento cultural, através da distribuição de benesses, patrocínios, contratos e financiamentos. Mas a cooptação dos empresários é mais direta. Algumas empresas não têm capacidade alguma de bancar os empréstimos que recebem, ou outras são viabilizadas por aderirem aos grandes projetos em que todo o risco é público.

Nas sombras de um Estado gigante, tudo viceja, como os intermediários de negócios, mesmo que eles não tenham delegação para entregar o que prometem. Com um Estado todo poderoso, qualquer espertalhão pode dizer que é a ligação direta com quem decide e pedir uma comissão para isso. Mesmo que não houvesse casos de corrupção, comprovadamente ligados ao governo, ainda assim, seria o ambiente certo para a propagação dos casos nebulosos de pedidos de propina.

A redução do tamanho do Estado faz esse favor ao país: diminui os guichês nos quais se oferecem favores com dinheiro público e se pedem em troca comissões para enriquecimento pessoal ou para o partido que está no poder. A privatização tirou do Estado um sem número de cargos de distribuição política em empresas siderúrgicas, concessionárias de serviços de energia e de telefonia. As empresas que o país decidiu manter estatais deveriam ser isoladas das pressões políticas e concederem mais acesso às suas contas e aos critérios de decisão. Essa seria uma forma de reduzir o risco que o contribuinte e o consumidor dos serviços correm hoje com problemas como os dos Correios.

Já houve tantos casos nebulosos nos Correios no governo Lula - dos indicados do ex-aliado Roberto Jefferson até os indicados da ex-primeira-amiga Erenice Guerra - que não resta dúvida a esta altura: a melhor forma de produzir um colapso postal no país é continuar entregando os cargos de direção da estatal na mão dos políticos e seus afilhados e evitar a administração profissional da empresa. É um espanto que se consiga em tão pouco tempo provocar tanto extravio numa empresa centenária e que sempre teve reputação de eficiência.

Há quem considere que a melhor forma de evitar constrangimentos como o vivido pelo empresário que cito no começo dessa coluna é o financiamento público exclusivo de campanha. Como ser ingênuo a ponto de achar que, se o Estado der ainda mais dinheiro para os partidos, os que estão hoje viciados em caixa dois fecharão o balcão de pedidos impróprios aos empresários? O que ajuda a resolver o problema é, como tenho escrito aqui, a trindade: punição, fiscalização, transparência.

Nada é panacéia contra a corrupção, mas há formas de reduzi-la e outras de aumentá-la. O gigantismo do Estado é o caminho mais curto para aumentar a corrupção. Quando ele se torna o parceiro inevitável em qualquer negócio, tudo pode acontecer. Quando seu poder é usado para amedrontar as empresas, qualquer doação para campanhas políticas pode ser extorquida.

E o que houve nos últimos anos no Brasil foi o crescimento descomunal do Estado, primeiro, à sombra do Plano de Aceleração do Crescimento e, depois, sob o pretexto de que era preciso evitar a crise econômica mundial. Conter esse gigantismo é fundamental hoje, não apenas por razões econômicas, mas para melhorar a qualidade da democracia brasileira.

domingo, 26 de setembro de 2010

Jornalismo quiroprático.

Aqui entre nós, caro leitor, já reparou o quanto atualmente se fala mal do jornalismo brasileiro?

Fico até surpreso. Pensei que era só eu [risos].

É um balaio de gatos superlotado de ratos, dizem alguns. Outros descrevem-no como subserviente. 

Há quem prefira classificá-lo de conivente. 

Os aloprados chamam-no de partido de oposição. Os mais radicais de corja antropofágica. No entanto, qualquer estudioso da sua longa história nacional sabe que, – salvo por breves períodos, – a sua verdadeira vocação, quase inata, tem sido a quiropraxia.

A manipulação das estruturas para próprio benefício e entretenimento impactante do povo.

Dono de uma abordagem superficial, menos interessada no esclarecimento do que em agradar o gosto e os interesses populares, o jornalismo brasileiro, seja ele impresso, televisionado ou radio-difundido, é uma atividade, – na sua esmagadora maioria, – submetida a forças deletérias; as mesmas que controlam o Congresso Nacional. 

E, nestes últimos tempos, dado o estado de penúria que enfrenta, sucumbiu completamente às verbas federais. Em outras palavras, ao petismo.

Ingênuo ou mau aluno de jornalismo será se pensar o contrário.

Caso discorde, talvez fosse bom, e mais fácil de ver, se puder dedicar tempo a observar, no seu âmbito regional, como a imprensa é controlada à rédea curta pelas oligarquias locais.

Se alguma vez o bom jornalismo brasileiro ensaiou vontade de possuir um pouco de personalidade própria, esse desejo hoje esfumou-se pelos andares da gigantesca arca de Noé que é o Brasil. É preciso ter consciência subjetiva para se conseguir viver lá dentro...

Numa retrospectiva randômica, como se caminhássemos você e eu, leitor, de volta ao passado, só para ilustrar este texto, poderíamos relembrar a catarse motivadora da quase unanimidade da imprensa em apoiar as duas últimas eleições do Lula. 

Seríamos capazes de relembrar os detalhes da crise do papel no governo FHC? De passo, seria ótimo rememorar também como os brasileiros aceitaram o Plano Brady. Na época Paulo Henrique Amorim foi demitido da TV Bandeirantes e depois da TV Cultura. Por isso hoje é tão petista. Magoou.

Retrocedendo um pouco mais, que angústia será lembrar como foi abafado o fracasso do projeto Pólo Noroeste, o desvio de 500 milhões de dólares doados pelo Banco Mundial e aquele mundaréu de brasileiros, lá em Roraima, abandonados ao Deus-dará... 

Pedro Malan era então diretor da instituição e o PSDB nasceu logo depois para fazer do engenheiro um especialista em ataques antológicos ao keynesianismo. Tornou-se ministro da Fazenda e, com toda a legitimidade, representante do pensamento ortodoxo da economia, na economia nacional...

Contudo, não nos detenhamos só por aqui. Poderíamos abrir jornais mais velhos e lermos a quiropraxia engenhosa da Globo para a eleição de Fernando Collor de Mello. Seria divertido.

E falando das Organizações Marinho, poderíamos recordar do orgulho impresso durante o “Petróleo é nosso”; ou de Paulo Maluf “descobrindo” petróleo em S. Paulo. 

Se a memória nos falhar, sempre poderemos assistir ao remake atual desses episódios com o nome de “Pré-Sal”. Os atores têm rostos diferentes mas o enredo e a performance são iguais.

Portanto... Se não sentiu orgulho antes, certamente terá oportunidade se senti-lo agora.

Entretanto, recuemos um pouco mais no tempo. Quem não se lembra da rejeição ao parlamentarismo quando Tancredo Neves foi Primeiro-ministro “no molde presidencialista”? – É claro que ninguém, ora! Foi em 1961. 

Assim, para não nos cansarmos mais, olhemos ao redor e enlacemos as mãos para atravessar os rios de tinta gastos no “apoio popular” ao golpe de Estado de 64 e o repúdio a João Goulart...

Se você tem mais de quarenta anos certamente ainda manterá na memória as imagens dos “Anos Dourados”, as belas reportagens para descrever o fantástico American Way of life, o fascínio pelos EUA e Paris... Ah!, Paris... a Meca do bom gosto e das férias sonhadas...

Alguma vez ouviu falar do IBAD? Não? Deixe pra lá. É só um acrônimo nefasto do passado que atravessou o tempo, mudou de cor, de lado e de nome, mas manteve as práticas e propósitos. Hoje pode ser encontrado na Rua Abolição, 297, na Bela Vista em São Paulo.

No entanto, mesmo com quarenta anos ou até com cinqüenta será capaz de se recordar do papel basilar, desempenhado pela imprensa na construção do paradigma do voto obrigatório?: – “um ato patriótico, chato, mas obrigatório para a construção da democracia, do civismo e;... que gera paz e prosperidade por período mais ou menos longo e; ... que de modo mais ou menos explícito e; ... que permite o desenvolvimento posterior do povo, exclusivamente na busca da solução para os problemas por ele suscitados e; ... que o voto obrigatório representa a construção solidária da cidadania, a divulgação do conceito de agir participativo e;... que discute o direcionamento da implantação das políticas públicas”... etc.

– Por isso é obrigatório!?...

Pois é leitor, como se sentiu ao recordar um pouco o esmero indelével do jornalismo brasileiro? Bem, espero! Mas se o presente estiver causando-lhe certa sensação esquisita... digamos... obrigando-o a sentir-se imerso num vácuo de tempo? Poupe o dinheiro da consulta médica e convide a namorada para um belo jantar, com sobremesa a gosto no seu apartamento.

Passado e presente se confundem. Apesar da variação não houve mutação; menos ainda evolução.

Portanto, não se preocupe. Tudo continua e continuará como d’antes no castelo de Abrantes. Com o decorrer dos anos os donos do jornalismo quiroprático apenas foram substituídos pelos filhos, sobrinhos, netos... 

O sensacionalismo prossegue. 

A manipulação noticiosa persiste... e povo continua a acreditar em tudo... com a mesma apatia e desleixo.

No afã de informar todos nós sabemos que a imprensa brasileira tem pouco interesse pelo aprofundamento dos fatos. Os custos precisam ser reduzidos. Melhor colocar um chapéu na notícia, habitualmente com manchetes sensacionais para causar impacto; chocar a opinião pública sem inquietar a veracidade. 

As conclusões jamais serão publicadas.

Por leviandade, mais por venalidade, – tenho essa impressão, – o jornalismo brasileiro parece orgulhar-se de prejudicar tanto os personagens quanto os leitores ao criar, sob a fascinação da “liberdade de informar” ou do “espaço dado ao contraditório”, pencas de opiniões que acabam geralmente em saco sem fundo, logo esquecidas ou pior, denegadas.

Enfim... de um modo geral até jornalistas sérios reconhecem – em off, pois têm famílias a sustentar, – que o coletivo nunca andou tão desprestigiado, nem tão contemptível como nos tempos lulistas.

Por que será? Não faz sentido. Tantos serviços prestados... tantas primeiras páginas com textos literários só para protestar... tantas charges para rezingar... tantas denúncias levantadas... tanta corrupção descoberta.... tantos ladrões do erário denunciados... e ninguém preso; quase todos reeleitos.

Cabe à policia prender e à justiça condenar, eu sei. O jornalismo brasileiro existe para se inflamar com o casal que jogou a filha da janela e forçar o juiz a manter os dois na prisão. Ou para denunciar o atropelamento do filho da atriz por um desalmado... e fazer o delegado da polícia apressar-se na investigação.

Mas quantos filhos já foram atropelados por desalmados, jogados da janela por filicidas ou atingidos por balas para a mudez jornalística?

Eram pobres zés-ninguém. Mas se estivessem em Londres deixariam de sê-lo.

Até hoje fico emocionado ao recordar o excelente trabalho jornalístico na defesa daquela moça pernambucana que, morando na Suíça, dizia ter sido marcada a estilete por skinheads. 

Ah, como li com avidez o que Ricardo Noblat escrevinhava – em primeira mão – no seu blog. Cheguei a ficar emocionado com o patriotismo vibrante na voz do William Bonner e da Fátima Bernardes... Celso Freitas, da TV Record, levou-me às lágrimas.

Dois ou três meses atrás, a moça, – que estava grávida e depois não estava, mas sofria de Lúpus(?) repentino, – foi deportada como vigarista, após longo processo judiciário e certo mal estar diplomático que bordejou o rompimento das relações.

Quantos brasileiros foram abusados de fato, – comprovadamente, – em várias cidades européias e, apesar das súplicas às embaixadas e consulados, foram sumariamente ignorados e até escorraçados? Só no ano passado, aqui da Europa, foram deportados mais de 8.000; a maioria nem chegou a sair dos aeroportos, embora contra eles causa alguma provável lhes fosse apontada.

Que pena não ter lido nada bombástico nos jornais nem ter escutado o Bonner. Não eram filhos de advogados pernambucanos, amigos de deputado, cabo eleitoral de senador... o qual, ao que tudo parece, pela primeira vez na sua vida política, nas próximas eleições não será reeleito.

Quando eu morava no Brasil inúmeras vezes pude assistir à comédia da mesma noticia ser reportada nos jornais televisivos de forma completamente diferente. A globo distorcia o fato, a Record exagerava e a Bandeirantes insinuava... não necessariamente nesta ordem.

Essas redes de TV gostam de se alternar. Assim ninguém fica com ciúme.

Ainda hoje, quatro anos depois, se quiser entender o bojo de determinado fato noticiado preciso ler a Folha, o Estadão, o Globo, o Jornal do Brasil, etc., recortar as matérias e depois cotejá-las para conseguir obter um ensejo de conclusão.

Trabalho insano. Felizmente conto com um pesquisador muito bom.

Se o leitor adquirir o mesmo hábito (não recomendo), com o passar do tempo acostumar-se-á certamente, em especial nos jornais de grande circulação, a ver jornalistas, tidos como sérios, negarem, sem qualquer pudor, defesas passadas para execrarem o que é noticia no dia; apenas pelo incremento das vendas do jornal ou aumento da audiência nas TVs. 

Ou, o mais habitual, pelo acréscimo nas contas bancárias, desfrute de um jantar no restaurante elegante ou divertimento com a família numa viagem à Europa, às custa do patrocinador... se o assunto for demasiado peludo e envolver, por exemplo, grandes construtoras, laboratórios, concessionárias de auto-estradas, mineradoras, etc, etc, etc.

O mais divertido e paradoxal é ver que esses veículos de comunicação e os tais jornalistas comungam da mesma fama: todos, sem exceção, possuem reputações ilibadíssimas. Nenhum deles pratica o denuncismo pelo denuncismo porque não defendem interesses escusos... 

Os respectivos focos jornalísticos posicionam-se apenas, – e tão-somente, – para a verdade; para mostrar os fatos tal como se apresentam, isentos de partidarismos...

Que bonito. Ó!!!... fico até arrepiado.

E durma-se com um barulho desses...

Portanto, é absolutamente coerente no caso de um banco acusado de abuso financeiro não ter o seu nome incluído na reportagem. 

O mesmo acontece se uma das suas agências é assaltada ou causa constrangimento a alguém ao prendê-lo dentro das portas giratórias e o vigilante lhe dispara um tiro ou o sujeito morre de enfarte do miocárdio. Quem nunca viu o tremular de uma banda fosca escondendo o nome da empresa durante a transmissão televisiva?

Conseqüentemente, não é de surpreender que os petistas digam que o jornalismo tem liberdade demais... embora sejam mestres renomados em usá-lo, em manipulá-lo, até em falsificar manchetes e colocá-las na propaganda eleitoral.

Se olharmos desde longe para o jornalismo brasileiro, do ponto de vista da embriologia, poder-se-ia dizer que é uma gônada. 

Soaria até simpático caso optássemos por colocar uma venda nos olhos e uns tampões nos ouvidos. Estaríamos atribuindo-lhe status embrionário; ainda à procura de uma identificação morfológica. Talvez ideológica, se olharmos para os anos tucanos e para o presente lulista... retido num vácuo de tempo no qual a maior parte da sociedade se tornou autista.

Ninguém se importa.

Sigamos em frente!

Esqueçamo-nos dos anos da ditadura militar e da sórdida conivência, subserviência e dependência... Certamente sujaríamos os dedos na ferida ainda por cicatrizar.

Olvidemo-nos do espalhafatoso mensalão; da falta de empenho da imprensa para levar os quarenta ladrões à prisão; e também do juiz relator cheio de dores nas costas que mais passeia pelos botecos do que cumpre o seu dever.

Esqueçamo-nos da censura jurídica. No Brasil deixou de existir censura.

O que é mesmo censura jurídica? E isso existe?...

No Brasil hodierno dos lulistas, com o país produzindo profusamente corruptos, ladrões e assassinos, com uma imprensa absolutamente tendenciosa, apelativa e alzheimica, recordo-me neste instante de uma frase de Balzac que me pareceu horrorosa quando a li, mas hoje nem tanto: “se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”.

Os “meretrícimos” juizes que mantêm há mais de ano o Estadão e outros jornais sob censura estão cobertos de razão. Devem ter fundamentado as brilhantes decisões na “Comédia Humana” ou na “Monografia da imprensa parisiense”, ambas obras de Honoré de Balzac.

Como se não bastassem as mentiras constantes e insistentes do governo, o grosso dos jornalistas, – salvo dois ou três honrosos profissionais, – deu para ser cúmplice das aleivosias petistas. Ao mesmo tempo em que é complacente com os propósitos para os quais são inventadas, uma vez por semana essa gente sai batendo.

Bate... pero no mucho! São apenas tapinhas de amor.

Deve ser por isso que José Dirceu, lugar-tenente da bandidagem petista, reclama a bom ouvir que a imprensa está em guerra contra ele.

Eu fico pasmo com tanta cara-de-pau. Como pode?

Conhecendo o sujeito, como infelizmente conheço, dos jantares regados a Johnny Walker Blue e charutos cubanos, tudo pago com cartão American Express, eu tenho que rir. O homem é um pândego. Deveria trabalhar na Praça da Alegria.

José Dirceu foi e é o maior plantador de factóides que já existiu no Brasil. Nem os militares tiveram tamanha desfaçatez. Dado à fruição do Amex esse ilustre procustiano tem sob sua asa uma miríade de jornalistas frascários, cujo trabalho, outro não é, senão escrever a mando... e a cambio de um belo jantar ou até mesmo de uma dose de Johnny Walker Blue no fim da noite.

Ricardo Noblat, por exemplo, escrevinhador de letras azado, defensor ferrenho de moças “grávidas” com lúpus repentinos e atacadas por skinheads suíços, é um dos que coloca o seu “mui” acessado blog à disposição do Zeca. 

E não é só ele, infelizmente. Muitos jornais de reputação ilibada, – como se isso pudesse existir no Brasil, – abrem-lhe as páginas interiores.

Quem sabe, em nome de uma amizade por tantos “furos” proporcionados no passado?... E de outros tantos vindouros?

Ó!!!... volto a ficar arrepiado. Como a amizade é bonita. É o mais belo dos sentimentos. Dura até mais que o amor, você sabia?

É fato que a maioria dos jornalistas no Brasil são e andam mortos de fome, pobrezinhos, caminhando sem eira nem beira de uma redação para a outra. 

Alguns se reinventam como blogueiros a serviço de outros, com patrocínio de empresas estatais. Dada a penúria em que se encontram os jornais impressos e os salários miseráveis que recebem, tampouco causa espanto ver esses despreparados transformarem-se em rêmulas a devorar os restos deixados pela orca; ops!, pelos petistas...

Muitos não têm idéia da responsabilidade que significa ser jornalista; nem do dever ético inerente à profissão. Acreditam pertencer a um conjunto de veículos com o propósito de questionar assuntos, levantar problemas ou denunciar o errado, sem perceberem, além desses intentos, que o ofício abraçado vai muito além do quanto existem ou do quanto, em desesperança, diante da fome, possam agatanhar o peito.

Veja por exemplo o bizarro Mino Carta; fascista italiano, pintor medíocre de capacetes nazistas, que desembarcou no Brasil com uma mão na frente e outra atrás, adotando ares de socialista intelectual. 

Pouca gente conhece a sua verdadeira história. 

Acolhido pela Revista Veja, (ele diz que a fundou), após alguns anos foi enxotado; fato repetido sucessivamente em outras revistas de São Paulo. 

Hoje é sócio de um jornaleco de décima categoria, ao qual chama eufemisticamente de Revista Carta Capital. Um arauto de cordel do petismo. Do pior do petismo. Inclusive para publicar mentiras com puro cunho eleitoreiro, como a mais recente na edição 614, (leia «AQUI»), ao anunciar a saída de Aécio Neves do PSDB.

Quem conheceu Mino Carta e os impropérios que dizia do Lula no passado, ao vê-lo hoje como megafone permanente do PT, o mínimo a se pode pensar desse sujeito é que é um homem desprovido de atributos. Na verdade, nem caráter tem sequer.

Como haveria de ter se 70% da verba de publicidade da revisteca é financiada pelo petismo o qual denegriu com tanto empenho até seis ou sete anos atrás? Razões de sobra deve ter a Dra. Sandra Cureau, Vice-Procuradora Geral Eleitoral para ter intimado a revista a entregar todos os contratos que tem com o governo federal.

Grande mulher! Tomara que consiga.

Ao ler que Lula, fiel usuário da imprensa, hoje a ataca em cada arenga, só consigo ver nele o rosto de um boneco ventríloquo movendo o maxilar ao som da voz do Zeca.

Que propósitos escusos esconderá esse homem?

Na sua inteligência precária afirma que a liberdade de imprensa é sagrada, mas a informação precisa ser verdadeira. Ele queria dizer “controlada”, mas enfim... 

O sujeito confunde liberdade de expressão com direito à informação. Contudo, em se tratando de quem é e para quem fala, bom... os brasileiros não entendem mesmo... os jornalistas são coniventes e todos juntos aplaudem extasiados o discurso inteiro.

Os jornalistas também confundem liberdade de expressão com direito à informação.

Recentemente chegou-me às mãos “A miséria do jornalismo brasileiro" um ensaio escrito por Juremir Machado da Silva. Já foi publicado há alguns anos, conquanto parece ter sido escrito ontem como testemunho da imutabilidade do jornalismo no Brasil.

Em grandes pinceladas o ilustre professor, doutor em Sociologia pela Sorbonne, separa os jornalistas brasileiros em três categorias: o esquerdopata das letras, aquele que acredita em tudo o que Lula diz e Fidel Castro é um exemplo de governante a ser seguido; o aluno modelo dos cursos de jornalismo, o CDF que bebe as palavras dos professores sem notar o baixo nível do ensino que recebe; e o idiota tecnológico, que anda com dois celulares na cintura e uma laptop debaixo do braço.

O primeiro acredita piamente na crítica frankfurtiana: – a necessidade de rebelar-se contra as tendências. 

O segundo segue as regras do que aprendeu na escola: – jornalismo com ética e palavras do manual de redação. Já o terceiro é um entusiasta fanático da Internet, do Twitter  e vê nesses mecanismos a salvação de todos os problemas do mundo, incluindo os da imprensa.

Em outras palavras: embora a imprensa tenha sido inventada e exista para informar, a concepção do jornalista brasileiro a respeito é simplesmente surrealista.

Por isso, quando um governo como o lulista investe contra a mídia é preciso disparar todos os alarmes e fazer como o galo dentro do galinheiro que é perseguido pelo papagaio: – colocar uma chapa de ferro atrás e outra na frente.

Se o Lula e seu lugar-tenente fazem coro para reclamar da liberdade da imprensa, os brasileiros deveriam se preocupar...

Deviam? Deveriam? – Reconheço que às vezes eu sonho...

Quem lê com atenção três ou quatro jornais por dia não pode deixar de perceber o quanto a imprensa continua a apoiar Lula incondicionalmente e até covardemente. Na televisão tal sordícia é mais visível. 

Os âncoras dos noticiários quando, por força da magnitude dos crimes petistas, são obrigados a mencionar o nome do presidente da república, – pois a ilação é compulsória, – parecem estar sentados de repente em cima de carvão em brasa à medida que informam.

Repare nas mãos, nos tiques faciais e principalmente na modulação insegura da voz.

Portanto caro Leitor, não se deixe impressionar quando os petistas arrazoam contra a imprensa. 

As falas néscias do Lula, os queixumes fingidos de Zé Dirceu e todo o espalhafato e maledicências divulgadas a respeito não passam de cortinas de fumaça para dissimular o que realmente acontece nos bastidores esfomeados das redações. Principalmente o quanto o PT se prepara para impor ao país um regime autoritário ao estilo chavista.

Se você é daqueles que acredita que o Brasil é hoje um país democrático, por favor desentupa os ouvidos e retire a venda que pôs nos olhos. 

Para começar o voto é obrigatório. Por outro lado, não há democracia sem jornalismo independente; sem jornalistas verdadeiramente conscientes que tenham como princípio apurar os fatos e informá-los com ética; tal como ocorreram, como se desenrolaram e como terminaram.

Num país democrático não existe censura judicial, nem um jornal do porte do Estadão se submeteria passivamente, – há mais de um ano, – à decisão judicial determinada por um juiz sobejamente corrupto, amigo íntimo do senador José Sarney.

Porém, a mídia brasileira, como um todo, não está interessada em meter a mão em ninho de maribondos pois ao lado corre um rio de mel. 

O povo mal sabe ler as manchetes; muitas delas nem as compreende, mas compra o vespertino. 

Cada vez menos, é certo. 

Porém, no topo está o oligarca, dono ou sócio do jornal, que não pretende ofender os aliados; muito menos comprometer financiamentos ou verbas públicas para publicidade.

Quanto ao jornalismo televisivo... bom... a história se repete com maior gravidade devido à abrangência. 

Mais que num jornal, a concepção de “tempo é dinheiro” é executada de forma draconiana. Os custos são muito altos e os índices de audiência cavilosos. Podem descair facilmente e o anunciante poderá recusar-se a pagar a exorbitância pedida para ser inserido na grade de programação. Sem anunciantes não há televisão.

Se o Brasil fosse realmente um país democrático, por mais liberdade que a imprensa tivesse, ela deveria, obrigatoriamente, ser ainda mais livre. Só assim se constrói uma democracia. Porém, essa liberdade sem estacas só é possível com profissionais éticos e muito saber acadêmico.

Não é o caso do jornalismo brasileiro nem dos seus profissionais. Quando se confunde liberdade de informar com libertinagem informativa e não se entende direito o significado de liberdade de expressão, o resultado está aí bem claro estampado nos jornais e nas reportagens superficiais, supostamente investigativas sem apresentarem conclusões.

Os jornalistas brasileiros parecem esquecer com freqüência que a sua verdadeira função é de informar e não de confundir; de educar as massas e não de manipulá-las. 

Contudo, e o digo pesaroso, se observarmos com cuidados como se comportam profissionalmente poderemos detectar na maioria deles a propensão quase vocacional para a quiropraxia, pois os problemas estruturais e sociais do país são enormes e eles não estão interessados em contribuir para encontrar soluções; nem gerar causa para a resolução

Para haver jornalismo sério no Brasil seria necessário melhor ensino básico e depois especializado. Seria imperativo que soubessem escrever e, principalmente falar, pois saberiam como perguntar. Que soubessem como fiscalizar as políticas publicas e, ao sabê-lo, pudessem dispor de recursos para tanto...

Novamente sonho...

Quando dava aulas em S. Paulo, diante dos absurdos estudantis que era forçado a escutar, costumava pensar que aproveitaria melhor o meu tempo alimentando burros a rocambole do que aqueles futuros jornalistas a capim.

Os brasileiros, – que mal sabem ler e falam pior ainda, – não demandam informação; não exigem saber dos fatos que verdadeiramente lhes afetam a vida. – Como pode existir bom jornalismo no Brasil?

Se o povo grita por justiça quando lhe passa um microfone pela frente, mas aceita qualquer porcaria que lhe chega aos olhos e ouvidos sem se dar ao trabalho de raciocinar só um pouco... como pode existir bom jornalismo no Brasil?

Não pode! Seria como tirar leite de pedras.

Sem instrução não há desejo de conhecimento. Sem demanda não há recursos. Sem recursos não há estrutura nem informação de qualidade.

O Brasil quer ser democrático, mas não é. Como qualquer nação civilizada precisaria ter uma imprensa competente, mas não tem. Logo, a alternativa sedutora é a informação manipulada para impacto; o jornalismo quiroprático.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ponto de vista.

Pedir ou expressar um ponto de vista no Brasil, a maneira como o sujeito considera ou entende determinado assunto, é complicado. 

A honestidade é pouca e a ignorância muita. Depende também do local onde o indivíduo se encontra e do grau de servilismo ao qual está submetido. 

Além disso, o ponto de vista do brasileiro tem muito a ver com quem está acima dele; com a manchete de jornal que lê sem se deter na matéria; com os horizontes políticos ou profissionais que possa enxergar; com as amizades ao redor; com as informações que vislumbra; até com a espessura do telhado de vidro sob o qual se abriga.

Obviamente existem muitos outros condicionantes mais. Notadamente no meio político e no judiciário. Vou pular o meio empresarial. (Entenda a razão «AQUI»). Contudo, não espere leitor que eu me ponha aqui a nomeá-los.

Apenas para ilustrar, o carioca, por exemplo, é um virtuose em expressar de forma conveniente o seu ponto de vista político ou social, especialmente se tiver em vista alguma vantagem imediata, uma cerveja ou refeição grátis. 


O paulista é mais cordato, mas prima pela ambigüidade. 

O nordestino é arredio; o sulista desconfiado; o baiano confuso. 

Quanto ao mineiro, bom... em boca fechada não entra mosca.

No anfibológico sistema judiciário brasileiro pontos de vista é que não faltam. Os advogados têm os deles e cada juiz o seu. 


Um dos mais recentes e esdrúxulos que já vi refere-se ao que foi arrogado para cima do inquérito da Polícia Civil de São Paulo que investigava a violação de centenas de sigilos fiscais dentro da própria Receita Federal.

Aqui entre nós, [risos], o ponto de vista judicial mais pareceu prevaricação... Enfim.

As amarras às quais estão submetidos os juízes, quer no campo da apreciação probatória, quer no referente à prolação da decisão, fundamentam-se por um lado na tentativa de dar cientificidade ao procedimento e, por outro, no intuito de controlar o poder e evitar o arbítrio. 


Assim, por força da lei, o juiz não julga. Menos ainda na fase de inquérito, caso ele o presida. A função de um juiz é aplicar a lei ao delito cometido e não dirigir a investigação para este ou para aquele lado.

Os rumos de um inquérito são da competência da polícia judiciária, que no Brasil se chama Polícia Civil. A função de um juiz ao presidir um inquérito tem como objetivo dar suporte legal às ações policiais que forem necessárias para a obtenção das provas.

Entretanto, a mesma lei que impede o juiz de julgar e tenta controlar-lhe o arbítrio, permite-lhe, paradoxalmente, o “arbitrio judicis”. Isto é: o juiz pode apreciar livremente a causa a ser julgada segundo a sua interpretação pessoal da lei. Em outras palavras, o ponto de vista de um juiz sobre determinada cláusula ou parágrafo da lei pode ser totalmente diferente do colega no gabinete ao lado. Infrações iguais, dispostas nas leis, podem muito bem receber sentenças completamente diferentes.

O mesmo acontece nos inquéritos, principalmente quando envolvem personalidades famosas. Nestes casos é comum ver um juiz exacerbar, digamos, o seu ponto de vista.

Portanto, não é sem razão que no Brasil se diga jocosamente que “todos são iguais; porém... alguns são mais iguais que outros”.

Tanto assim é que essa “igualdade” parece ser o ponto a envolver a vista violação dos sigilos fiscais dos familiares de José Serra (PSDB), candidato à presidência da república.

Todos sabemos que foram os petralhas os mandantes e executores da violação.

E quem, se não? Espelho, espelho que tudo vê, existe no Brasil algo pior que o PT?

Se alguém suspeitava, graças à polícia de São Paulo não há mais dúvidas que foram os petistas, – a mando de outros petistas de alto coturno, – que violaram o sigilo fiscal da filha do José Serra, da apresentadora global Ana Maria Braga e de várias outras personalidades, inclusive o dono das Casas Bahia. A maior parte dessas pessoas sequer possui qualquer vinculação partidária.

Antonio Carlos Costa D’Ávila, o corregedor-geral da Receita Federal, afirmou, – sem que os jornais se indignassem, – que quase 3 MIL CONTRIBUINTES tiveram a vida vasculhada de forma arbitrária, na operação criminosa orquestrada pelos petistas para intimidar adversários políticos e garantir a vitória de Dilma Roussef.

3.000 contribuintes? Isso é muito preocupante. É revoltante!

E é grave! Gravíssimo! Porque a violação não foi só consumada com fins políticos para agredir um candidato, ou membros do PSDB, fato que por si só já constitui crime extremamente sério e inquietante; que pode ter conseqüências nefastas ou fatais.

Está claro que as violações tiveram propósitos muito mais amplos, sobretudo dolosos; possivelmente para chantagear ou para achacar essas pessoas, a maioria, repito, sem conotações políticas, mas com muito dinheiro.

Achacar é mais excelsa das especialidades petistas; nascedoura nos tempos das greves metalúrgicas, comandadas pelo José Dirceu, tendo como protagonista o analfabeto do Lula. Se quiser entender mais sobre a extorsão petista leia “A Origem do dinheiro – Parte 1” e “A Origem do dinheiro – Parte 2”.

Nesse meio tempo, não nos esqueçamos de Celso Daniel e do Toninho do PT, dois petistas que foram assassinados exatamente para não revelarem as extorsões praticadas pela cúpula do partido. Não nos esqueçamos também que Dilma Rousseff é uma assaltante de bancos. 


Não nos esqueçamos igualmente que a delegada da Polícia Civil encarregada de desvendar a morte de Celso Daniel é irmã do genro do Lula.

Fosse o Brasil um país decente, com um judiciário sério ou tivesse um povo sensato, o escândalo já teria tomado as ruas e os petistas envolvidos estariam presos. Principalmente Lula, rei e senhor de todos os facínoras.

Mas o Brasil é um país obsceno, cujo povo possui tão-somente 50% dos neurônios voltados apenas para emoção, 40% para a malandragem e 2% para o raciocínio; o resto é autista, perneta, surdo, tuberculoso, sei lá.

Quanto ao judiciário, como já disse Lídia Reis, no Brasil hodierno "o juiz é coletivamente percebido como um personagem anacrônico, que trabalha sem a presteza esperada pelas partes, um ser distante, instalado em pomposos locais de trabalho".

Portanto, José Serra, como bom brasileiro, chamou a si o papel emocional de vítima... Pôs-se a gemer pelos cantos do país, lamentando-se da triste vilania que os petistas lhe fizeram.

E José Serra quer ser presidente da república?

Das duas uma: ou o candidato tucano é beócio ou tem um marqueteiro meio atordoado das idéias. O que dá no mesmo.

A violação do sigilo fiscal de um cidadão, – seja ele quem for, – pelas leis brasileiras é considerado crime. O que os petistas fizeram, pois não é a primeira, nem segunda, nem décima vez, é mais outro ato criminoso que atinge todos os cidadãos e fere de forma irreparável a circunspecção dos órgãos Federais.

Não atinge só o candidato e a família dele como muitos brasileiros pensam e vivem esparramando, pelos blogs, opiniões nesse sentido.

Eu fico pasmo com os comentários que leio.

Se José Serra fosse um presidenciável de qualidade, em vez de lamuriar-se aos microfones porque violaram o sigilo da sua adorada filhinha e do seu amado genro, deveria estar berrando e denunciando a execrável ignomínia que os petistas perpetraram contra três milhares de cidadãos.

Principalmente, deveria estar se esforçando para alertar a nação que o direito de sigilo assegurado a TODOS pela Constituição foi abominavelmente estuprado pelo PT e seus meliantes petistas amestrados.

Deveria estar movendo céus e terra para mostrar aos brasileiros que a individualidade de cada um foi seriamente danificada pelo PT.

Deveria estar gritando aos céus por justiça, – não só para ele ou sua família venerada, – mas principalmente para o povo que ele sonha governar.

Deveria estar exigindo que a lei fosse respeitada, os cidadãos protegidos, os violadores presos e os mandantes denunciados.

Sim, os mandantes! Possivelmente "a" mandante...

Mas José Serra e seu marqueteiro não fizeram nem fazem nada disso. Têm medo de bater e contradizer o dogma de Duda Mendonça, marqueteiro chefe do PT. Preferiram delegar ao PSDB. E o partido em si, como é hábito, sofrendo de bovarismo galopante, simplesmente abaixou as calças e encaçapou mais outra a seco, porque... José Serra e demais tucanos têm telhados de vidro muito finos...


Temem desagradar o PT.

Nessa historieta lamacenta o mais prejudicado é o cidadão que permanece à mercê de sicários para, de repente, num desespero maior, ver o seu nome, dados pessoais e renda numa listagem autêntica da Receita Federal à venda no piratôdromo da rua Santa Efigênia em São Paulo... para ser usada por qualquer pé-de-chinelo.


Por qualquer "nêgo" safado de índole criminosa.

Mas esse cidadão comum, no rebanho dos borrêgos iguais, vota no PT, adora o Lula e já mostrou que pretende eleger a ladra de bancos, amiga do Lula. Não vai se preocupar com a bobagem de uma violação de segredo fiscal sobre a qual nem entende direito; nem compreende a magnitude do abuso.

O Povo apenas quer saber quando vai aumentar a esmola mensal do Bolsa Família para poder comprar o celular da moda.

Portanto, mesmo aqui de longe, vejo que as lágrimas de crocodilo de José Serra não comovem pessoa alguma... A maioria popular sequer presta atenção nos crimes e infâmias cometidas pelo PT.

O reboliço fica só nos jornais... e mesmo assim sem grande alarde, pois não há que se exagerar no ponto de vista sobre quem paga o almoço no restaurante chique ou convida jornalistas para um passeio no aero-Lula.

Diante desse cenário até se compreende porque o PT decidiu parafrasear o deputado gaúcho Sérgio Moraes (PTB), e debochar das vítimas da violação. Lixa-se para a opinião pública. Os jornais batem mas eles se reelegem.

Brasileiro tem memória curta mesmo! Então...?!

De novo preciso perguntar: – Será que José Serra quer, 
realmente, ser presidente de todos os brasileiros?

Sei!... Acho que vai continuar querendo. Ainda mais agora...

Agora, nestes últimos dias, do nada, assim de repente, o presidente do inquérito sobre a violação dos sigilos fiscais, o juiz boa-praça, homem sério, estudioso das leis, decidiu exercitar o seu ponto de vista sobre o assunto. Encontrou nos alfarrábios legais a maneira certa de apartar a delegada da polícia civil de S. Paulo, encarregada da investigação.

Vai ver... a moça era incompetente... Tadinha! Dá para acreditar?

A coitada, em meia dúzia de dias descobriu que os principais violadores dos sigilos fiscais eram nada mais, nada menos, que membros filiados e ativos do PT.

Que audácia!

A policial identificou até os associados que trabalham para esses petistas.

Que ilação absurda!

A pobre desmontou a farsa montada pela Receita Federal para justificar as procurações falsas e provou: – não só que eram falsas, como também que a Receita já sabia há algum tempo que eram falsas.

Que atrevimento!

Mas... ai, ai, ai... Não teve tempo de descobrir os mandantes... ou "a mandante" como todas as provas coletadas pareciam apontar. Imperdoável!


E o governador de São Paulo, a quem essa delegada está subordinada em último grau, é do PSDB. Tal é o grau de bovarismo que o governador padece...

Diante de tanta "insolência" policial, o meritíssimo magistrado (ou será que é meretríssimo? Nunca sei.), arrogado e extrapolado nas suas funções, mas baseado estritamente no tal "arbitrio judicis", determinou que o inquérito fosse transferido para a esfera Federal.


Esfera federal? O buraco da má hora, onde quem ou o que para lá vai, não torna?

Ora... e para onde mais, se não? A César o que é de César! Arquivá-lo daria muito na vista.

Se o douto juiz de Direito tem esse ponto de vista, é possível compreender a lógica da sua decisão; especialmente pelo fato do povo brasileiro, – em vista desse ponto e de outros iguais, – não percebe direito que tem... um ponto na vista.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Gosto disso!

Foram estas modestas palavras que disse sem compromisso quando certa noite, quatro anos atrás, ao deixar o Brasil, entrei na primeira classe de um avião Suíço...

Quem não conhece o Brasil nem as biografias dos candidatos que disputam o novo pleito presidencial, certamente perguntará qual deles é o melhor. Quiçá por curiosidade. Talvez porque o cliente pediu uma análise para continuar a investir nos juros altos que o país oferece ao capital estrangeiro...

Os juros mais altos do mundo.

Por outro lado, quem conhece o Brasil, as biografias dos postulantes e mora em Bruxelas, perguntar-se-á qual deles é o menos ruim. Personagens (saiba «AQUI»), que vão desde o anacrônico Plínio Sampaio (PSOL) à assaltante de bancos Dilma Rousseff (PT), passando pela utópica Marina Silva (PV), pelo vesano Levy "aéro-trem" Fidélix (PRTB) e terminando no boy dos laboratórios, José Serra (PSDB), o elenco não poderia ser pior.

Que escumalha! Que prepóstero político! Que gente sem caráter, sem honra, sem ética...

Entretanto, e pelo visto nos jornais e programas internacionais das TVs brasileiras, Dilma Rousseff caminha para uma vitória acachapante em cima de José Serra.

A TV Globo desempenha bem o seu papel. As outras imitam. Os novos empréstimos do BNDES a salvá-las da falência estão no forno. Sairão após as eleições.

Eu acho ótimo!

Não os empréstimos, pois o Brasil continuará mergulhado na ilusão do faz-de-conta. Nas apelações patético-emocionais dos iurdianos; nas manipuladoras mensagens subliminares globais e nos supostos debates políticos sérios dos bandeirantes. Para o resto da família... ora, Silvio Santos vem aí, ó, ó, ó...

Acho ótimo o Serra e o PSDB serem derrotados! Será uma espécie de justiça divina. Especialmente quando essa derrota é imposta pelo analfabeto salafrário e pela assaltante de bancos, mais facínora e sem vergonha que o próprio Lula.

José Serra em particular e o PSDB, no geral, merecem a mais humilhante das derrotas... como nunca se viu na história dessepaíf...

O comportamento pífio e até constrangedor do PSDB, ao longo destes últimos oito anos, é digno de receber na cara a derrota fragorosa que se avizinha.

Um partido político que não sabe fazer oposição... – Que confunde governabilidade com medo de enfrentar quarenta criminosos; que não apresenta alternativas (nem durante a campanha eleitoral), para a solução dos problemas nacionais; que não combate as fraudes nem as mentiras lulistas; que durante a CPI do Mensalão teve uma conduta execravelmente covarde diante da seriedade das denúncias; que tem no seu quadro emplumado gente totalmente despreparada do calibre deplorável de Artur Virgílio... – a derrota chega a ser elogio diante de tanta incompetência... diante de tanta cumplicidade.

Mas... Para o Brasil, nação de caranguejos a tentar manter a cabeça fora da lama, o axioma não é o Serra perder de forma humilhante e sim a assaltante de bancos entrar de forma triunfante.

Mas isso é só uma abstração. Minha, por suposto.

De certa forma, a já anunciada chegada certa da candidata petista à presidência é a confirmação inequívoca da venalidade dos brasileiros. O gosto nacional pela bandidagem; pelo crime em si sem medo de punição, que recompensa. É a prova inconteste da corrupção generalizada no jornalismo e a evidência clara que o povo passou a votar com a mão no bolso; sem a menor preocupação com o futuro do país.

Votam pelos benefícios e ilusões que o momento econômico falseado lhes proporciona. O futuro dos filhos às favas! A Deus pertence.

Só que Deus não é brasileiro. E se um dia o foi, como se dizia antigamente, com tantos assassinatos, roubos, corrupção e desrespeitos humanos, fez o mesmo que eu. Trocou de nacionalidade.

Ao acaso pertence também a evolução e modernização do país. Ninguém presta atenção para os programas do governo. Nenhum deles funciona. Hoje, já se sabe, são meras miragens políticas. O Bolsa Família virou Bolsa-Esmola; simples transferência de recursos com continuidade comprometida. O PAC 1 ficou paraplégico, repleto de problemas, roubos, fraudes e mentiras.

O PAC 2 nem vou mencionar. Falar de outro artifício marqueteiro do Lula para engrupir o povinho acéfalo e burro? Chega!

O certo é que o Brasil caminha desenfreado para a desindustrialização. O comércio para a importação e os camelôs para os produtos falsificados, chineses, claro.

E algum dos eleitores “dilmáticos” se importa? Nem a classe média pensa nos milhares ou milhões de empregos que serão perdidos a médio prazo... como conseqüência.

Os investimentos externos minguam diariamente. A saída de capitais aumenta.

Nos oito anos de governo Lula o país tem descido degrau a degrau no índice de competitividade. Ano passado desceu dois. Já é o 58º. Num ranking de 139 países, com apenas 4,28 pontos, está abaixo do Arzebaijão, Mauritânia e Omã.

Inacreditável!

A infra-estrutura já ruim, piorou.

O ensino escolar já fraco, o PT deteriorou-o a ponto de torná-lo um dos piores do mundo.

A saúde foi sucateada.

O desenvolvimento tecnológico capenga.

A Justiça foi corrompida e paralizada.

A burocracia aumentou.

A corrupção exacerbou, sistematizou-se.

O crime dominou e o índice de criminalidade é o segundo mais alto do mundo.

O volume de negócios na bolsa de valores é suportado maiormente pela Petrobrás, Vale e empresas exportadoras de commodities. Os noticiários não divulgam esse fato. Tampouco que a economia de um país que deseja crescer não se sustenta em exportações desse tipo. O futuro é o desastre econômico.

Em contra-partida, as importações de manufaturados sobem diariamente e a balança comercial passou para o vermelho.

A cor preferida do PT.

No campo internacional Lula envergonhou o país por todos os lados e desceu por todas as ribanceiras. 


Meteu-se onde não devia. 

Foi humilhado na ONU, no Encontro de Doha e na O.E.A. foi execrado. 

Hoje é desprezado pelos americanos e europeus. Não ganhou nenhuma cadeira no Conselho de Segurança. Deu asilo a criminosos e terroristas. Prometeu benesses e perdoou dívidas sem qualquer aval do Congresso Nacional. 

Resta ainda clarear a relação nebulosa e promíscua do PT com as FARC Colombianas.

Se observado o rigor da lei tudo o que o analfabeto fez ou perdoou não tem qualquer validade legal. Mas para os brasileiros e para a oposição leniente isso não tem a menor relevância.

Já darão um jeito.

De fato, a única importância que tem é a manchete do jornal onde o fato é anunciado, sem se informar ao leitor que não tem a menor validade.

Transcendência ainda menor tem para os brasileiros os inúmeros fatos do presidente da república mentir descaradamente, a torto e a direito, desrespeitando, inclusive, a torto e a direito, o que determinam as leis; tanto as eleitorais como as de ordenamento civil e penal.

Para os brasileiros, significância ínfima, – ínfima mesmo, – tem o fato de Dilma Rousseff ser uma ladra comum, condenada por assalto a banco... Que durante a sua bizarra e histriônica permanência à frente do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil proporcionou toda a espécie prejuízos à nação...

Vou pular a porção de mentiras – comprovadas – que disse publicamente.

Os brasileiros também mentem, enganam, trapaceiam .. porque haveria de me preocupar?

Já são fracos de memória e de conduta... De cérebro também!

Com dois neurônios, um manco e o outro sofrendo de insuficiência respiratória, não me surpreende o clima do “já ganhou” instalado no país para conduzir a ladra à presidência...

Brasileiro gosta de bandido!

Bandido é arrojado, audacioso. A retórica é simples; sem floreados. Possui o que a maioria não tem. Come, bebe e veste o melhor. Tem jóias, TV de plasma, celular da moda, jet-ski e carro importado. Se é feio fica bonito. Recheia-se de botox. Não envelhece. Não é preso. As portas abrem-se. As calcinhas caem.

Que inspiração, já dirão. Eu também quero!:

– Assaltar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica como se fosse o porquinho das moedas que dei para o meu filho;

– Violar, invadir, manipular ou adulterar o sigilo fiscal e bancário de quem me dê na telha; apenas por pirraça, por vingança, por despeito ou por mera chantagem;

– Fazer da Petrobras a casa da mãe Joana e tudo lá ser permitido. Inclusive, por não ser egoísta, torná-la fonte ilimitada de dinheiro para os mais variados fins petistas; especialmente férias, charutos ou cargos que permitam manipular orçamentos.

– Usar as empresas estatais para empregar todos os meus parente e amigos.

– Comprar e/ou apadrinhar deputados para votarem no que é de meu interesse.

– Deixar os bancos deitar e rolar nos juros usurários que cobram. 350% nos empréstimos. 400% nos cartões de crédito. Parte dos lucros receberei por baixo dos panos. Doações para a campanha e para a minha cobertura no Guarujá...

Os brasileiros pagam!

Pagam também os impostos mais altos do mundo.

Que mal faz?

Por que não haveria de escolher a pior, entre os piores dos candidatos?

Ah... Se eu ainda fosse brasileiro diria sem compromisso: – Gosto disso!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Confusão de semiologias

Em memória de José Honório.

Quando ainda morava no Brasil um belo dia decidi não ser mais empregado de ninguém. Inclusive, deixei de dar aulas na universidade. Uma avalanche de razões levou-me a isso. Pouco importam agora. Dediquei-me a prestar somente consultoria, porém, com o firme propósito de só fazê-lo para quem eu simpatizasse e não tivesse a menor dúvida de ser decente.

Defino decente: indivíduo ou organização cuja conduta e princípios se pautassem no respeito ao ser humano, independente de raça, credo ou status social. Todas as ações, atitudes ou procedimentos a serem executados deveriam ser pautadas no estrito sentido da honra, moral e ética e nestes três atributos permanecerem até ao final.

Meu irmão chamou-me de utópico. Não lhe tirei a razão. De louco também. Entretanto, fingi não ouvir para evitar outra discussão que terminaria fatalmente na política; como o PSBD era uma corja de corruptos e o PT uma enorme quadrilha de bandidos. Provavelmente depois ficaríamos semanas sem nos falarmos. Era habitual.

No Brasil, se um quiser ter certa independência financeira, ou entra no jogo mesquinho das empresas, subvertendo-se ao jeitinho nacional, tornando-se apenas mais outro a afogar-se na lama da mediocridade e nos carnês do crediário, ou... cai fora. Existe obviamente a possibilidade de ganhar na mega-sena. Eu caí fora.

No princípio foi bastante difícil. Não era mais jovem e os quarenta corriam apressados. Com dois filhos na idade aborrecente, mais parecendo aspiradores de dinheiro, um casal de empregados há anos comigo e dois cachorros lindos, a poupança escorreu-me entre os dedos; as poucas aplicações financeiras foram atrás. Dois anos depois beirava a insolvência cívica.

A ruína já batia ao portão, desesperada, ansiosa, tal qual testemunha de Jeová querendo entrar para convencer-me que o fim do mundo se aproximava e a salvação era o Senhor. Dentro de casa, por entre as frestas dos cortinados, via-a com aqueles cabelos longos, escorridos, saia travada até aos pés e rosto mal tratado. Imagens miseráveis da minha infância no pezinho de chão lá em Minas Gerais... tudo se confundia e misturava à figura esquálida na soleira da porta. Mas...

Desde criança desconfio que alguém lá no céu sofre de paixonite aguda por mim. Não importa o quão apático me mostre ou emburrado ou quantas vezes racionalize que a distância torna esse amor impossível, seja lá quem for sempre dá um jeito de se fazer notar.

Com bastante sutileza e perspicácia devo dizer.

Creio que a minha indiferença impede que se mostre ao natural. Acho justo. De certa forma confortável. Contudo, ao longo dos anos, além desse amor incondicional e platônico reparei que gosta de envolver-me em mistérios. E como gosta. Por despeito talvez. Que sei eu? Logo para cima de mim que sou pão-pão, queijo-queijo? Mas entendo. Até agradeço. Se a ajuda fosse escancarada poderia acomodar-me. Possivelmente, inscrever-me-ia no Bolsa Família do governo. Talvez me afiliasse ao MST. De boné vermelho na cabeça, com a boniteza de palavras que sei dizer, comida, amor e dinheiro não faltariam.

Portanto, por portas e travessas chegou aos meus ouvidos que um grande empresário não se acertava com nenhuma empresa de consultoria, algumas de linhagem real. Eu não o conhecia, mas ouvira falar dele. Quem me vendeu o peixe tampouco sabia grandes detalhes.

Naquele momento não me interessei muito. Quando tomei a decisão de ser consultor havia jurado também jamais voltar a trabalhar para uma empresa brasileira. Fosse ela qual fosse. Experiências passadas causavam-me urticária só de pensar na possibilidade.

Contudo, não sei explicar bem, o contexto da informação deixou-me com a pulga atrás da orelha. E não foi tanto pelo desespero financeiro daqueles dias. A ojeriza que tenho a empresas brasileiras vai além do discernimento. Recordo que atribui essa “pulga” a uma daquelas ajudas celestiais sutis... Que não havia pedido, fique bem claro, mas costumava e costumo aceitar para não parecer grosseiro.

O tal empresário era homem pra lá de abastado, dono de grande corporação. Não um qualquer; um desses que do nada ganhou rios de dinheiro vendendo boi sem vacinas ou plantando cana-de-açúcar, cujas empresas são levadas a trancos e barrancos no estilo quitandeiro. O indivíduo não era um comerciante boçal, mas sujeito educado, cortês, com MBA de Harvard e bom gosto no vestir.

No contraponto, eu conhecia algumas das Consultorias de sangue azul desprezadas. Ora se não! Por anos pude observar como operavam. Sabia à ciência certa que essa gente possui uma capacidade camaleônica extraordinária. Sem falar da enormidade de recursos e mentes brilhantes à disposição. Autênticos fagócitos. Nacionais e internacionais. Portanto não fazia sentido tanta incompatibilidade. Algo estava errado...

Ou o tal empresário era um doido varrido ou... Este “ou” virou um enigma indecifrável na minha cabeça. Um mistério. Mais outro. Por duas semanas, como diria o matuto, pelejei para encontrar resposta lógica. Não consegui. E pior... eu me considerava um sujeito inteligente. Inteligente mas pouco esperto. Enfim...

Durante esses quinze dias, ao fazer a barba pela manhã, diante do espelho só me aparecia o rosto de um imbecil... Havia embarcado num sonho impossível, apesar de conhecer bem a realidade empresarial. Com quem eu queria trabalhar simplesmente não existia. Todos os contatos aos quais tive acesso não gostei da metade. A outra metade certamente não gostou de mim.

Diante desta nova oportunidade, que não passava de uma ranhura estreita para dar azo à imaginação, cheguei a considerar seriamente em deixar de lado a habitual fatuidade e negociar com quem lá no céu tanto me quer bem. Só por essa vez. Além da dica dada... pelo menos... podia contar-me o resto... só para me preparar, né?

Mas a quem deveria dirigir-me lá no céu? Não faço a menor idéia. No meio daquele mundaréu de nuvens e ventos gelados onde procurar? Nem sei como chegar... Mesmo que chegasse, pois quem tem boca vai a Roma, no balcão de informações por quem perguntaria? Imaginaram o mico? Eu diante da recepcionista tiritando de frio?:

G-gostaria de f-falar co-com quem m-me ama... p-por favor!

– Quem?

– Quem m-me ama. T-tem uma pessoa a-aqui no céu q-que m-me ama... m-me protege... con-conserta as... as minhas borradas...

– Pare de gaguejar, homem. Você está no céu e não no inferno... Não precisa ter medo.

– É medo, não. D-desculpe. D-deve ser da altitude... e-está f-frio, né? – Tento sorrir mas está frio pra burro.

– Aqui todos amam muita gente... – a recepcionista suspira com ar aborrecido, misto de desdém e decepção: – ... não fazemos outra coisa senão consertar as cagadas que vocês fazem lá em baixo. Qual é o nome?

D-Deus?... – arrisco timidamente.

– Tem hora marcada?

N-não... Mas E-Ele me co-conhece... acho.

– Se não tem hora marcada, ligue no atendimento automático e aperte a tecla 3.

S-senhora... eu vim de longe... s-será que e-eu poderia e-então f-falar com o filho d-de D-Dele...

– Hoje não! Ele está de licença médica. Foi retirar um espinho da cabeça.

Ainda ameaço abrir a boca para sugerir outro nome mas a expressão furiosa da recepcionista é desalentadora. Fico estático. Pelo frio. De repente sinto o bafo da recepcionista:

– Helloooo? – o cheiro a uvas e mel é notável. – Atendimento automático... Entendeu? Tecla 3. Entendeu? Quem é o PRÓXIMO?

Eu já havia decidido telefonar para o empresário. Pretendia usar metade das palavras do dicionário para convencê-lo de que era o consultor certo para ajudá-lo onde outros, mais brilhantes e capacitados, haviam falhado. Empáfia não me faltava. Só dinheiro; caso aceitasse receber-me.

Não tinha a menor idéia de como viajaria para encontrá-lo. Em casa a luz estava a ponto de ser cortada. O telefone idem. Sanduíche e sopa Knorr eram o cardápio do dia, da semana, do mês... O carro só saía da garagem com bom tempo e para uma emergência. Se o assunto era urgente e chovia, deixava de ser urgente.

Não recordo se comentei em posts anteriores que tenho um par de Golden Retrievers inteligentíssimos. Até falam. Não escrevem porque insistem em manter as unhas compridas. Coisas da moda caninha. Hoje já estão velhinhos, mas oito anos atrás estavam em plena mocidade.

Pois bem, entre as suas muitas qualidades, um deles, o Ramsés, o outro se chama Imhotep, tem a mania, até hoje, de pegar a minha carteira de cima da cômoda e levá-la para a casinha dele. Lá se entretém por horas a tirar tudo para fora. Dinheiro, cartões, identidade, até a foto dos meus filhos. O curioso da situação é que não rasga nada. Nem morde. Como consegue é segredo que ele não revela. Enche tudo de baba e eu que me vire depois para limpar enquanto ele me olha arfante, com os olhos radiantes e um palmo de língua balançando.

Na última manhã desses 15 dias, depois de ver mais uma vez o imbecil no espelho e esconder-me da ruína, sentado num dos sofás da sala, Ramsés chegou-se a mim todo lampeiro com um cartão na boca. Gentilmente depositou-o todo babado em cima do meu colo. Às vezes ele tem esse gesto de ternura. É um doce.

Mal pude acreditar quando vi o pedaço de plástico. Havia-me esquecido completamente da sua existência. Era o meu cartão de milhagem da Varig. A empresa ainda existia, mas os malditos petistas, recém empossados no governo, rastejavam-se pelos corredores da corrupção para embolsarem milhões numa negociata que pôs fim à que foi, na minha opinião, a melhor companhia aérea.

Imediatamente liguei para a central de atendimento e descobri que tinha milhas para dar a volta ao mundo. De graça. Como pude esquecer?

Vou poupar o leitor da emoção e dos abraços dados ao Ramsés. Também não telefonei para o tal empresário. Era quase hora do almoço, mas decidi que o caldo Knorr poderia cair-me mal. Vesti-me e corri desembestado para o aeroporto de Guarulhos.

Juliana, recordo-me até hoje, foi a funcionária da Varig encarregada de receber o meu cartão, ainda meio babado, que limpei constrangido na manga do paletó. Ela mostrou cara de asco. Não a culpo. Hesitou em pegá-lo, mas ofereci-lhe o meu sorriso mais cândido. – “... Desculpe... Ter filhos pequenos às vezes acontece isto...” – disse-lhe. Ela era mãe de três. Entendeu perfeitamente. Foi pra lá de simpática. Ofereceu-se até para passar uma aguinha no plástico.

Duas horas depois eu voava.

A noite aproximava-se a passos largos quando o avião aterrissou no Aeroporto Internacional de Campo Grande. Dispunha de quase quatro horas antes voltar para São Paulo. Dinheiro para hotel só na imaginação. Para o lanche, apenas o cheiro. Com o taxista pechinchei quase às lágrimas para levar-me, esperar e trazer de volta. O tal empresário vivia fora da cidade.

Se a visita surpresa desse errado bastaria o enxovalho de ser escorraçado. Não queria passar também pela humilhação de pedir para chamar um táxi, cuja corrida certamente não teria como pagar. O meu celular estava descansando. Só recebia. Danado!

Vou pular também o drama do taxista que escutei até à mansão. Que alma bondosa. Sofrida. Meia hora de viagem ao lado da tragédia, digo, ao lado de José Honório. Mentalmente recusava-me a imaginar as degraças da volta. Quem gosta de mim lá no céu às vezes proporciona-me esses momentos entranháveis. Provavelmente para se aliviar da quantidade de lamúrias que escuta. Não me importo. Desde pequeno acostumei-me a que as pessoas vejam as minhas orelhas como penicos à disposição. Meu avô dizia que escutar era uma virtude. Nessa viagem descobri que era mesmo.

Quando o táxi parou diante do portão da residência do empresário o breu da noite cobriu-me de alto a baixo. Um monte de cachorros começou a latir mal cheguei perto da parede de ferro. Aquilo não era um portão. Por mais que o esmurrasse duvidava que alguém escutasse. De fora não dava para ver o interior da propriedade. Três ou quatro metros de muro, à esquerda e à direita, perdiam-se pela longitude das trevas. Aquilo também não era uma casa. Era uma fortaleza. Pedi ao taxista para buzinar.

De repente, dois clarões puseram-me no centro de uma redoma resplandecente. Fiquei cego. Recordo que nesse instante, fosse pelo susto ou pelo nervosismo, só pensei como devia ser cara a conta de luz daquela casa.

Ao ouvir uma voz perguntar o que eu desejava, a custo consegui vislumbrar um rosto feio por trás de um pequeno retângulo na muralha de ferro. A partir daí tudo foi bem mais fácil do que imaginei.

Obviamente não vou aqui descrever a tática infalível que uso para ser recebido fora de horas e sem ser esperado. Especialmente por milionários cercados de guarda-costas. O tal empresário havia começado a jantar. Eu me prezo por ser um homem educado. Esperei. Sentado dentro do táxi. Tinha menos de três horas para voltar ao aeroporto.

Mal me sentei no carro José Honório decidiu que eu queria continuar a ouvir o seu rosário de penas. O tempo de viagem fora escasso. Não lhe dera tempo de narrar a saga dos filhos. Oito vivos e um morto, mas pretendia chegar a onze. O seu time de futebol. Todos da mesma mulher. E caso ela morresse já tinha outra em vista. Felizmente no sexto Honorinho o guarda do portão berrou para que eu entrasse. A pé, obviamente. A minha tática havia funcionado. Exultei. Por dentro estremeci. Tinha menos de duas horas para voltar ao aeroporto.

Nem me importei em ser revistado. Àquela hora da noite eu não teria deixado por menos. Mas estava preparado para tudo... exceto para o esplendor e luxo que apareceram diante dos meus olhos.

Numa avaliação a olho nu, baseada na vista topográfica desde as altas torres da mansão, em estilo italiano neoclássico, a propriedade possui cerca de doze mil metros quadrados de terreno acidentado. O imóvel em si, erguido no platô central mais elevado, parecia mergulhado no silêncio, porém iluminado. A Lua preguiçosa, mas afoita, rutilava vez por outra as sombras dispersas na paisagem.

O guarda convidou-me a subir num desses carrinhos usados nos campos golfe. Após dois ou três minutos de viagem, por uma alameda de saibro ladeada de flores, surgiu diante de mim o frontispício da mansão. As duas portas colossais, em madeira de peroba-rosa, no topo da escalinata que subia à entrada, mostravam-se entreabertas. Era possível admirar a beleza das três iniciais do nome do proprietário entrelaçadas, esculpidas à mão. O entalhe centrado ocupava um terço da superfície das portas. Os tons amarelados das paredes exteriores resplandeciam como placas de ouro sob o efeito dos holofotes fincados no meio de canteiros de rosas, petúnias e muitas plantas tropicais. Sob o reflexo das luzes e o cruze das sombras, a escadaria de mármore branco, uma sucessão de vinte e dois enormes patamares sobrepostos, assemelhava-se a uma longa e esplendorosa grinalda de prata.

Um detalhe assaz simbólico dividia esse mar de flores da estrutura do palacete: – toda a imponência arquitetônica soerguia-se a partir de um cinturão verde, compacto, formado por um aglomerado de plantas comigo-ninguém-pode.

Fui recebido aos pés da escadaria. O dono da mansão estava à minha espera. Senti-me o máximo.

Sete Filas brasileiros e um Setter, todos absolutamente ameaçadores, cercaram-me, cheiraram e roçaram-se nas minhas pernas até se fartarem. O empresário convidou-me a caminhar alguns passos até debaixo de um caramanchão coberto de flores e trepadeiras. Em duas das cadeiras à volta da mesa nos sentamos.

Os Filas continuaram ao meu redor e passaram a se revezar nas cheiradas. Quando embarquei para São Paulo, ao passar pela policial ao lado do detector de metais, ela olhou-me feio e torceu o nariz. Ao chegar em casa Imhotep e Ramsés rosnaram ameaçadores como se intruso eu fosse. Magoei. Mas acho que o fizeram por ciúmes. Depois que tomei banho deram-se conta da grosseria. Os dois, felizes, babados e de rabo abanando, pularam em mim com as patas cheias de terra e me presentearam com sendas lambidas. Voltei a tomar banho.

– Vejo que gosta de cachorros... – disse-me o empresário enquanto os filas me cheiravam.

– É verdade. Tenho dois Golden Retrievers... – respondi, tentando dominar o pavor que uma daquelas fauces abocanhasse a minha perna ou algo mais central. Dois deles insistiam em cheirar o que não deviam. Que mania pervertida tem os cachorros.

Para mostrar que não tinha medo ofereci a mão a um dos Filas que lambeu a gosto e a ensopou de baba. Não tive outro remédio senão limpá-la no pêlo do animal. Ele gostou. Os outros quiseram também e a cena se repetiu. O empresário riu. Riu com gosto. Ali estava eu pagando outro mico.

– Como é o nome dele? – Perguntei apontando para um dos Filas, o único cor de mel. Tentava desesperadamente fazer o homem parar de rir.

– Chama-se ACM...

– ACM? O que significa? – Sou muito curioso.

– Antônio Carlos Magalhães. – respondeu-me com um sorriso maroto nos lábios.

– O Senador? Perguntei estupefato.

– Esse mesmo. – O sorriso enigmático permanecia.

– Ah... Interessante. – Foi tudo o que me ocorreu dizer.

– Olha... este marrom aqui é o Quércia. – disse-me, apontando para outro dos Filas que se cansara de me cheirar e havia decidido sentar-se voltado para mim com a bocarra aberta e dois palmos de língua pendurados, pingando baba a conta-gotas. – Esse outro marrom ali, é o Jereissati; o preto se chama Tuma... Aquela é uma cadela... se chama Ideli Salvatti. É castrada. Tive de castrá-la depois que ela deu pro Setter que é da minha filha. Aí nasceu esse aí, meio vermelho. O nome dele é Lula. Não é Fila puro, mas é o que eu mais gosto. Vai comigo para todos os lugares e me obedece em tudo. Aquele preto se chama Collor, só tem um ano... Lamentavelmente vou ter de sacrificá-lo. Morde todo o mundo... Semana passada atacou o filho de um dos empregados e quase o matou. O outro, do lado dele, é o Suplicy... É um bunda mole...

Foi a minha vez de rir. Discretamente, claro. Dei uma boa olhada para o Collor e me lembrei de um outro Collor, só que de duas patas. Esse sim me mordeu feio, o filho da puta.

– Mas todos têm nomes de políticos? – observei como se não entendesse o significado. Não entendia.

– Meu caro Félix, – disse-me quase em tom professoral, – Cachorros são como políticos. É só alimentá-los bem que eles te obedecem direitinho...

– Entendo!...

Quando não sei o que dizer essa é a única palavra que me ocorre, embora para mim ali houvesse uma confusão de semiologias. Na minha opinião, os animais estavam sendo achincalhados ao receberem esses nomes. Não os políticos, como insinuava aquele grande empresário. Grande empresário? Ora, ora. Pensei pra mim. Não passa de outro quitandeiro que teve sorte na vida.

De repente entendi porque tantas empresas de consultoria, extremamente hábeis, capazes e conceituadas haviam se desentendido com ele. Olhei para o meu relógio e vi que tinha exatamente quarenta e cinco minutos para chegar até ao aeroporto... e ainda não dissera ao que viera. Também não ia ser preciso. Detesto pessoas que maltratam animais. Seja como for. Especialmente cachorros. Inclusive dando-lhes nomes de políticos.

– Você presta consultoria em que área? – Perguntou; talvez porque fiquei demasiado tempo em silêncio.

– Em todas! – retruquei seco, no limiar da grosseria, pronto para levantar-me e sair dali. Porém, rapidamente assumi a máscara profissional e acrescentei: – desculpe tê-lo incomodado em sua casa a estas horas. O assunto profissional que me fez chegar aqui não é tão urgente. Talvez, se me permitir, eu possa ligar para a sua secretária e marcar uma hora à sua conveniência... – o escárnio chegou a ser palpável.

O empresário deixou de sorrir. O semblante fechara-se e o olhar hirto sequer se desviou um milímetro dos meus olhos.

– O que o fez ficar tão aborrecido? – Perguntou.

Por um segundo ou dois mantive silêncio. Tampouco desviei o olhar dele.

– Quer mesmo saber doutô? – O doutô soou com o sarcasmo a escorrer-me pelos cantos da boca.

– Se não quisesse não perguntava. – retrucou a meia voz como se pesasse cada palavra. – Você me pareceu um sujeito simpático... De um momento para o outro reparei que ficou incomodado...

– Com o respeito que o senhor merece... – interrompi-o – ... e pela bondade que teve em me receber a uma hora tão tardia, não quero ser indelicado a ponto de chamá-lo de hipócrita dentro da sua própria casa...

– Hipócrita? Como se atreve? – levantou-se tão rápido que a cadeira tombou.

– Não me atrevo. – respondi, pondo-me em pé também. – Por isso peço que me desculpe se me retirar imediatamente sem esperar que um dos seus guardas me acompanhe...

– Sente-se!

– Lamento! Tenho um táxi lá fora me esperando e se não sair imediatamente vou perder o vôo de regresso a S. Paulo... Ademais não tenho reserva em hotel, portanto não tenho onde ficar esta noite...

– Isso não é problema! Se for preciso dorme aqui em casa e pela manhã o meu avião leva-o a S. Paulo... Quero que me explique esse seu atrevimento de me chamar de hipócrita em minha própria casa...

– Na minha mente já se perfilou uma seleção de adjetivos adicionais para acrescentar àquele que mencionei circunstancialmente... – disse irônico, – ...sem que fosse minha intenção ofendê-lo...

– Mas ofendeu... Você veio aqui pra me sacanear ou quê? – Ficou bravo. Pensei até que sacaria alguma pistola do bolso e me fuzilaria ali mesmo.

– Reitero novamente as minhas desculpas se o ofendi e me explico. – Voltei a sentar-me e o ACM resolveu descansar a queixada em cima da minha perna. Não me importei. Até foi bom. Acariciar aquela cabeçorra enorme ajudou a acalmar-me.

As explicações transformaram-se em confronto de idéias que se estenderam até à madrugada. Quando atirei à mesa a confusão de semiologias, os ânimos acirraram-se. Foi quando descobri que a esposa e filhos tinham a mesma opinião que eu em relação aos nomes dos cachorros. Descobri também que fumávamos a mesma marca de charutos. Foi o ponto alto do encontro.

Uma ceia leve foi servida à base de pitus e salada verde. O pão com manteiga e o café de S. Paulo há muito haviam desaparecido. Recordo que senti um certo ranger na barriga quando o primeiro camarão desceu e desgrudou a pele da frente da de trás. Logo depois chegaram fatias finas de carne assada com purê. As melhores que comi na minha vida. O par de cervejas que tomamos não poderia estar mais gelado. Pelo resto da noite entupimo-nos de café. Café colombiano. Terminado o banquete lamentei pela empregada que nos serviu. Pobrezinha. Lá pelas tantas a cara de sono dela dava pena.

Passava das três e meia da madrugada quando o empresário me levou até a um quarto enorme, magnificamente mobiliado, onde a peça de destaque era uma cama com dossel. Nunca havia dormido numa cama com dossel. O banheiro era um exagero. Havia espaço para dar um baile lá dentro. Pena que sou todo cheio de esquisitices e não aproveitei a enorme yacuzzi. Tomei apenas um banho de chuveiro e dormi com a alma em festa.

Pela manhã o empresário perguntou-me se fazia falta assinarmos um contrato para que eu começasse a trabalhar para ele. Disse-lhe que não. E não sei porque o disse. Logo eu que não faço nada sem ter um contrato assinado. Creio que foi mais outra inspiração lá do céu. Anos depois ele confidenciou-me que se tivesse insistido no contrato não teria havido trabalho.

Naquela manhã recordo que pedi à empregada que nos servia o desjejum a gentileza de trazer-me uma folha de papel. Nela escrevi os honorários que cobraria para prestar serviços e pedi ao empresário que assinasse. Quando lhe entreguei o papel ele fechou um olho, depois o outro, mirou-me de soslaio e vociferou:

– Isto é um roubo! Só pago a metade disto!

– Agora é você que está me insultando e a forma não é circunstancial. – retruquei com cara de poucos amigos. – Não pague nada... – funguei mordaz. – esqueça! Se me permite usar o telefone, gostaria de chamar um táxi.

O empresário sorriu. Novamente fechou um olho e depois o outro.

– Félix... já vi que você tem pavio curto. Isso é bom. Também tenho. Detesto puxa-sacos. É a primeira vez na minha vida que conheço um consultor honesto... E também é a primeira vez que vejo os meus cães gostarem de um estranho.

Ao que a esposa acrescentou: – o senhor deve ser boa pessoa, doutor Félix. Os cães pressentem se a pessoa tem boa índole...

Eu tive de agarrar-me à cadeira para não flutuar ali, acima da mesa, na frente da esposa e dos filhos dele. Foi o maior elogio que recebi na vida. E como sempre... não soube o que responder a ambos. Ao vê-lo assinar o papel acho que murmurei um obrigado, meio sem graça. Até hoje não estou bem certo.

Quando desci do Learjet dele no aeroporto de Congonhas, em S. Paulo, vinte e quatro horas se haviam passado. Foi quando me dei conta que esquecera de pegar de volta o papel com os honorários assinados. Nunca o pedi. Nunca dele precisei. E já vão quase oito anos... de extraordinários sucessos empresariais e financeiros para ambos, durante os quais também tive o prazer de contratar quase 12.000 pessoas, evitar a demissão de outras três mil e obrigar alguns consultores da realeza a tocar pianinho ao som da honra, moral e ética, pois sabem que eu os posso pôr de patas... no olho da rua; após a qual terão de correr aos tribunais para tentar receber honorários que nunca receberão.

Ao leitor peço que me perdoe por não revelar o nome do empresário. Além de cliente é, sobretudo, um dos pouquíssimos Amigos, com “A” maiúsculo, que fiz na minha vida... e um dos poucos honestos – realmente empresário – que existem no Brasil.

Eu não escrevi este post por causa do empresário e sim em homenagem a um homem de quem muito me orgulho ser amigo. De ter sido amigo. Seu nome era José Honório e sem ele não teria havido encontro com empresário, nem confusão de semiologias, nem a volta por cima.

Sim. José Honório, o meu trágico e estóico taxista. Um pouco antes da confusão das semiologias esquentar fui até à entrada onde me esperava e, ao dispensá-lo, entreguei-lhe todo o dinheiro que tinha. Não sei porque o fiz. Talvez porque acreditei naquele instante que fizera um grande amigo. E foi mesmo. Durante os meses e anos seguintes em que semanalmente fui a Campo Grande ele sempre me fazia rir ao perguntar quanto eu queria pagar-lhe. Tive a honra de jantar várias vezes na sua residência. Lá comi a melhor galinha ao molho pardo da minha vida. Conheci a esposa e fui padrinho dos três últimos filhos que completaram os onze que ele tanto queria.

O táxi de José Honório foi o único que usei durante quatro anos. Não teve uma só vez que não discutíssemos, no bom sentido é claro, para que ele aceitasse o dinheiro que lhe dava, do qual ele apenas separava algumas notas e me devolvia o resto. Certa feita chegou a rasgar-me o bolso superior do paletó ao tentar devolver-me o dinheiro que ele achava demais.

José Honório era um brasileiro honesto. Digno. Um amigo. Um homem de honra com caráter verdadeiramente decente. O favor que me fez, em aceitar levar-me certa noite aos cafundós do Judas, por meia dúzia de centavos, proporcionou-me o privilégio de conhecê-lo e sentir-lhe o coração enorme que possuía. Graças a esse coração eu saí da miséria e consegui sair definitivamente do Brasil para nunca mais voltar.

Este post é dedicado à sua memória, porque ontem recebi uma carta da esposa onde me informava que Honório havia sido assassinado na porta de casa por dois bandidos que lhe exigiram a féria do dia.

José Honório é mais outro inocente, outro homem honrado, assassinado por duas patacas e não há ninguém capaz de dar cabo do Lula, um pilantra desqualificado que arruinou a decência no Brasil...

É claro que não. No Brasil a confusão de semiologias é permanente. 80% dos brasileiros querem ser iguais ao Lula. Muito poucos a José Honório.


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