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domingo, 6 de novembro de 2005

A escolha amorosa

É preciso que se diga, ad nauseum, que o amor como consenso não existe. 

Cada ser humano quando está utilizando tal palavra, em qualquer idioma, está se referindo a um “sentir” tão particular que não será jamais alcançado por qualquer outro ser humano. 

“Eu teria de ser igual para sentir igual”, portanto, a palavra jamais deve se aplicar.

Então, resta que eu “sinta”... amor. Seja o que for isto para mim e seja eu quem for. Logo, podemos depreender que para sentir necessito de outras pessoas, mas não de uma em especial, senão como escolha.

A escolha por sua vez é um exercício da experiência – e não poderia ser de outro modo; as minhas escolhas amorosas são decorrências de como vivi até este momento. De como percebi o mundo e as outras pessoas, e sobretudo da forma como percebi as minhas faltas. 


Necessitado de complementar-me. 

Ávido de preencher-me. 

Faminto de afeto. 

É com este quadro, como eu o vejo, que falseio a realidade para escolher mal. Como o sedento no deserto, que a custa da sede vê no ar miragens de águas ali quase ao alcance. E por mais que exangue, busque as desejadas águas, por mais que se arraste gastando todas as energias, não encontra, não se sacia. 

Assim faz o que ama.

A experiência que propicia a escolha do objeto de amor é sólida e incontestável. A experiência que vivemos está impregnada em nós, nos constitui e fala muito do que fomos. Esta experiência é única, e a escolha que vai gerar por conseguinte será única.

Somente não sabemos o peso dos detalhes, a riqueza de certas imperfeições do outro.

Sabemos do sabor próprio a algo que interessa a nós. Assim, o amado é sempre nossa vítima, porque depositamos nele significados que ele não vai alcançar. Muitas vezes este outro, lisonjeado, tenta vestir a fantasia que lhe pomos, e durante algum tempo vivemos a quimera de vidro que somente quando se parte sabemos que cristal não era, como diz o poeta.

Resta-nos dar ouvido ao oráculo : Se queres amar e ser bem amado... “Conhece-te a ti mesmo”.


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