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sábado, 15 de setembro de 2007

Senado para quê?

Ensaio: Roberto Pompeu de Toledo
Revista VEJA - Edição 2026 - 19 de setembro de 2007
[Assinante da Veja lê aqui]

Muitos países vivem sem Senado e não são menos felizes, ou mais infelizes, por causa disso. Israel é um bom exemplo. Portugal é outro. São países que adotam o chamado sistema "unicameral", o do Poder Legislativo sediado em uma única casa, a Câmara (ou Assembléia) dos Deputados. Há, na teoria, argumentos pró e contra o unicameralismo ou o bicameralismo. No Brasil, a velhos argumentos contra a existência do Senado, somou-se, na semana passada, um novo. Os velhos argumentos são:

• O Senado torna o Poder Legislativo repetitivo e lento. O processo de uma lei passar pela Câmara, depois ir para o Senado, depois voltar para a Câmara se houver modificação no Senado, e depois até talvez voltar para o Senado se houver modificação na Câmara, produz cansaço e exasperação. No meio do caminho, perde-se o interesse e arrisca-se comprometer a oportunidade da lei. Quando se tem em conta que, em cada casa, o projeto passa por diferentes comissões especializadas, o cansaço e a exasperação crescem. As comissões existem para peneirar as propostas, examinando-as sob diversos pontos de vista. Com isso, instala-se um processo de revisão que torna redundante o "poder revisor" que se atribui ao Senado.

• A existência de duas casas legislativas resulta em concorrência de uma contra a outra. Muitos são os exemplos de rivalidade nociva entre Câmara e Senado. Fiquemos em um, recente: a instalação das chamadas CPIs "do apagão aéreo". Como não houve acordo para criar uma comissão mista (as vaidades são muitas, e a tela da televisão é pequena), criaram-se duas, uma no Senado e outra na Câmara. Resultado: duplicação de depoimentos, conclusões discordantes, desperdício de energia e perda de credibilidade.

• A especificidade do Senado dilui-se no sistema brasileiro. A especificidade do Senado é representar os estados, enquanto a Câmara representa o povo. No Senado, os estados são representados por igual, à razão de três senadores cada um. Na Câmara, um estado será tão mais representado quanto maior for sua população. Isso na teoria. Ocorre que, pela legislação brasileira, há um número mínimo (oito) e um máximo (setenta) de deputados por estado. Isso faz com que a população de estados pequenos seja super-representada e a dos grandes sub-representada. Roraima, com 400.000 habitantes e oito deputados, tem um deputado para cada 50.000 habitantes, enquanto São Paulo, com 40 milhões de habitantes e setenta deputados, tem um para cada 570.000. A população de São Paulo vale, na Câmara dos Deputados, onze vezes menos do que a de Roraima. Tal sistema existe, segundo seus formuladores, para proteger os estados menores e tornar mais equitativa, na Câmara, a presença das diversas unidades federativas. Ora, não é o Senado a casa da representação equitativa dos estados? Se a Câmara usurpou esse papel, para que o Senado?

• O Senado é em larga parte biônico. "Biônico" era o apelido, na ditadura, do senador nomeado, invenção do regime para não perder o controle da casa. Eram senadores sem voto. Pois mais de vinte anos depois da redemocratização continuam a existir os senadores biônicos, agora na pessoa do "suplente", aquele de quem ninguém ouve falar na campanha eleitoral e, quando menos se espera, lá está, ocupando uma cadeira para a qual se votou em outro. Um caso recente é o do senador Euclydes Mello, do PTB de Alagoas. O eleito Fernando Collor saiu para dar uma volta e assumiu o primo suplente. Outro caso recente é o de Gim Argello (PTB-DF), que despontou para a vaga de Joaquim Roriz com um rico elenco de suspeitas sobre sua cabeça, mas que teve a posse assegurada pelo voto amigo do presidente Renan Calheiros. A presença dos biônicos deslegitimiza a casa.

• O Senado não cumpre deveres que lhe são específicos. Cabe-lhe com exclusividade aprovar as indicações de ministros do Supremo Tribunal, embaixadores e membros das agências reguladoras. É uma tarefa nobre e útil, que mais nobre e útil seria se fosse exercida com cuidado e competência. Não é o caso. Na aprovação da notória diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Senado comportou-se com a habitual leviandade, antes como carimbador das propostas do Executivo do que como poder verificador e equilibrador das decisões do outro.

A esses argumentos acrescentou-se, na semana passada, evidenciado em toda sua extensão, o mal do "clubismo". Por ser uma casa pequena, onde todos se conhecem bem, o Senado é ambiente propício às cumplicidades, à troca de favores e à venda de lealdades. Não foi outra a causa da absolvição de Renan Calheiros. O clube se fechou em torno dele (ou, pelo menos, a maioria do clube), num processo de escora mútua: eu protejo você hoje e você me protege amanhã, eu finjo que não vejo o que você fez e você finge que não vê o que eu faço, e vamos todos juntos, que o barco soçobra e se um cair ao mar corremos todos o risco de lhe fazer companhia. O clube é uma instituição malsã porque, em vez de ao estado e à nação, tende a servir a si mesmo, a suas trapaças e a suas malfeitorias.

Um impostor na política

O Senador Artur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto, líder do PSDB, [foto ao lado], após a sessão do senado que absolveu Renan Calheiros, onde seis senadores se abstiveram de votar, afirmou em relação a esses seis senadores: "São pessoas repulsivas. Seis pessoas acanalharam seus votos."

Ao Arthur Virgílio, certamente deve ter-lhe caído a outra metade do cérebro. Como toda a ameba flutuante, este ser dejeto esqueceu que ELE MESMO, in persona, foi contra o voto aberto, e VOTOU CONTRA, quando senador Tião Viana (PT) apresentou o projeto para acabar com o voto secreto no senado.

Arthur Virgílio é um hipócrita e um péssimo político. De repulsivo só ele tem tudo! Mente pelos cotovelos e adora criar uma cizânia para aparecer. Mais uma vez, certo está o povo do amazonas que nem importância lhe deu nas últimas eleições ao outorgar-lhe menos de 4,5% dos votos. É de vomitar em cima deste ser pusilânime.

São homens como Arthur Virgílio que envergonham a todos nós, à política como um todo, e confundem um povo que não sabe em quem acreditar.

E viva o Senado!

do André Petry
Revista VEJA - Edição 2026 - 19 de setembro de 2007
[Assinante da Veja lê aqui]

Desde que os números da vergonha apareceram no placar já se bateu todo o tipo de bumbo contra o Senado. Já se disse que ficou menor e desmoralizado. Que está maculado, diminuído. Que sai do episódio lanhado e podre. Até já voltaram a aparecer propostas para extingui-lo, deixando o Parlamento reduzido à Câmara dos Deputados. O Senado, ao se deixar estuprar por Renan Calheiros e seus 40, passou a ser a melhor expressão do lixo institucional de Brasília.

Mas que nada. Que injustiça. E que equívoco.

O Senado é nosso. O Senado, essa instituição de 180 anos, está onde sempre esteve, funciona no mesmo endereço, com a mesma missão, com os mesmos poderes e prerrogativas. E é nosso, pertence aos cidadãos brasileiros. Neste momento, quem demoniza o Senado faz, mesmo sem querer, mesmo com a mais nobre das intenções, o jogo obscuro de Renan Calheiros e seus 40. Explico-me.

Desde o início de tudo, desde quando sua vida clandestina começou a ser revelada ao país, o senador Renan Calheiros agarrou-se ao Senado – e o uso da expressão "vida clandestina" aqui se refere aos negócios escusos da sala de jantar, e não aos ardores solares da alcova. Renan Calheiros agarrou-se ao Senado como se fosse propriedade sua, como se fosse uma de suas fazendas no interior de Alagoas. Com a ajuda patética de seus 40, agarrou-se à cadeira de presidente do Senado, recusando-se a abandoná-la, como se fosse um banco de praça de Murici. Defendeu-se sentado ao centro da mesa do Senado como se fosse balcão de sua cozinha. Homiziado no Senado, Renan Calheiros fez tudo isso para misturar sua pequenez à grandeza da Casa. Quem não lembra da passagem pedestre em que disse que qualquer ataque contra ele era um ataque contra o Senado?

Pois bem. É por isso, para manter-se homiziado no Senado, que Renan Calheiros já disse inclusive que ninguém é mais apropriado para presidir a instituição do que ele mesmo. "Se eu não tiver condição de presidir o Senado, quem vai ter?", indagou em entrevista à Rádio Gaúcha. Ora, com todo esse comportamento de confundir-se com o Senado, Renan Calheiros e seus 40 querem, além de tudo, roubar uma instituição da nação. Uma instituição que pertence a nós, cidadãos brasileiros. E não podemos, bestificados, entregar o Senado a Renan Calheiros e seus 40.

Renan Calheiros vai passar. Certamente vai passar mais tarde do que cedo, mas vai passar. Seu cardápio de opções políticas, neste momento, oferece só coisas como afastamento, licença, férias prolongadas, renúncia. É lamentável que seja assim, na medida em que deveria incluir apenas cassação, e ponto. Mas Renan está liquidado. É o sorriso do cadáver. Deixemos que se vá. Porque uma hora Renan vai embora. Mas fiquemos com o Senado. O Senado é nosso. Quem está pequeno e desmoralizado, maculado e diminuído, lanhado e podre são os senadores. Renan Calheiros e seus 40. O Senado, não. Viva o Senado!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Mexer em paradigmas é perigoso?

De jvilsemar [do seu blog VINCIT OMNIA VERITAS] - Set 7th, 2007

- O lançamento do livro “A cabeça do brasileiro”(1) do pesquisador Alberto Almeida com certeza não irá agradar a alguns, principalmente políticos e outros grupos de esquerda ou de direita que sobrevivem da falta de conhecimentos das massas ignaras. Não faltará todo o tipo de argumentos maquiavélicos para desqualificar a pesquisa por parte da trupe elitista que se mantém no poder, incluindo algumas ONGS que mascaram muitas realidades sociais do Brasil. Afinal de contas eles têm que manter o mito das massas pobres, ingênuas e éticas, de preferência jogando as mesmas contra a classe média, como se fosse a culpada por todos os males deste País. Exemplos não faltam, pois até o Ilmo. Sr. Presidente Lula, da modorrenta República brasileira, em certos momentos de desgaste governamental, como já demonstrado na mídia, não hesita, maquiavelicamente, em jogar os pobres contra a classe média.

- O livro, infelizmente, será lido por uma minoria de brasileiros e a grande maioria nem tomará conhecimento, a exemplo do presidente da República que é avesso à leitura. O livro estará provando que a única saída para a República Federativa do Brasil é a EDUCAÇÃO, com todas as letras maiúsculas. Alias, neste blog, há algumas matérias sobre o assunto EDUCAÇÃO. Se você fizer parte da minoria que gosta de ler dê uma olhada e depois tire as suas conclusões e faça as suas críticas.

- A falta de senso ético e de outros pontos de vista apontados no livro por parte do brasileiro com pouco instrução tem um nexo causal centrado em atitudes educacionais de governos anteriores que, estrategicamente, retiraram do currículo do Ensino Médio disciplinas que ajudariam o brasileiro a compreender melhor o seu país. Estamos nos referindo as disciplinas de “Organização Social e Política do Brasil – (OSPB)” e “Educação Moral e Cívica – (EMC)”. Nas IES retiraram a disciplina de “Estudos dos Problemas Brasileiros”. Revanche pela ditadura? As coisas que deram certo no período ditatorial deveriam de ser mantidas e aprimoradas para o bem da democracia social, pois com certeza o Brasil seria um pouco melhor em termos de educação. Até prova em contrário, os que combateram a ditadura são os principais culpados pelo fracasso do ensino brasileiro e de até termos pessoas que mal sabem ler e escrever cursando alguma faculdade privada de qualidade altamente duvidosa.

- O livro do pesquisador Alberto Almeida poderá ser um marco que jogará mais luz em paradigmas anacrônicos e quem sabe despertar, em poucos, um caminho revolucionário para mudanças estratégicas educacionais como a transdisciplinaridade. O problema principal é o povo ignaro que é dominado por mídias poderosas e grupos que preferem que as coisas continuem assim, bem no estilo Big Brother do filme “1984” ou do filme “Fahrenheit 451”. Quem viver ou sobreviver verá as mudanças nos próximos anos!

1 ALMEIDA, Alberto. A Cabeça do Brasileiro. Editora Record, 1. ed – 2007.

Retrato da hipocrisia; da vergonha de ser brasileiro

Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cumprimenta, durante a sessão de hoje no plenário, o senador do PSDB Álvaro Dias (PR). Em primeiro plano, de mãozinha nas costas, Arthur Virgílio, que também é do PSDB (AM) e líder do partido no senado, faz um carinho no Renan. Que meigo! Que cena enternecedora. Até uma lágrima me rolou pelo rosto. Não foi à toa que Artur Virgílio sequer chegou a 4,5% dos votos dos Amazoninos, nas últimas eleições. Tenho impressão que se esse ser infecto se candidatar novamente a senador, nem isso receberá.

Vergonha Nacional

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