Um dos aspectos mais interessantes da sociedade brasileira é a capacidade que tem para generalizar e rotular.
Na falta de maior criatividade o plural majestático passa a ser usado, os diminutivos correm livres e o subjuntivo campeia à solta em todas as conversas.
É comum ler nos jornais, ou ver e ouvir na TV, a determinados jornalistas emitirem opiniões próprias, num texto e tom como se deles não fossem, porém, em nome de “TODOS”... para demonstrarem que estão bem “informadinhos” ou... foi-lhe ordenado que dessem essas “impressõesinhas” a bem da convicção que “TODOS” têm.
Quase sempre esses escritos ou discursos começam com expressões assim: “Entende-se que...”; “O Brasil insiste em não enxergar...”; “O público exige...”; “Não é de nossa índole...” etc.
O autor, “humildemente”, escreve ou fala “apenas” o sentir nacional.
No texto procura deixar implícito que todas as palavras lá escritas são um reflexo do que “TODOS” falam nos papos de mesa de bar...
Quantas vezes o leitor já ouviu: – “Sicrano emocionou o Brasil” ou, “o drama da ginasta “tal” deixou a TODOS comovido”? – inclusive com erro de “plurals”; pouco importando se você ou eu não ficamos comovidos, nem nos emocionamos ou estremecemos com o favelês que passou a ser falado no “Brasiu”.
As empresas fazem exatamente o mesmo.
Veja os anúncios de carros. Qual deles não mostra que “TODOS” gostam individualmente da marca anunciada; e “TODOS” sempre pedem para repetir os feirões dessa marca?
Num caso e no outro para nada importa se eu ou você discordamos; ou se você gosta da Ford e eu do Citroën, até por que estas marcas também afirmam que “TODOS” dão preferência a elas.
Nas empresas, a generalização é praticada com especial cuidado; geralmente na forma de boatos que começam assim:
– Você tá sabendo? Fulano vai ser demitido...
– Verdade?
– Não me diga que você não sabe...
– Não!
– Não? Não sabe? Mas TOOODO o mundo tá sabendo!...
Quando ainda morava no “paíf” do Lula costumava indignar-me com essas generalizações... embora desde os primeiros passos como estagiário tivesse aprendido a estar sempre consciente de que o Brasil é, essencialmente, uma nação de saltimbancos, governada por imorais.
– Todos? – era a minha resposta habitual, lacônica e simples, seguida de: – Quem são esses todos?
Obviamente o(a) boateiro(a) logo se engasgava e eu passava a ser o alvo do novo boato.
Em outras palavras, seguindo a mesma toada, já que a minha opinião e pensar são engolidos pelo “TODOS”, todas essas generalizações, tão em moda no Brasil, tentam mostrar que só existem porque são “reflexos” da opinião geral onde TODOS são incapazes...
Da maioria esmagadora que “obriga TODOS” a seguirem o rebanho... Do contrário, quem não pensar ou agir igual perderá a vez.
Um exemplo bem claro do que afirmo foi executado acintosamente durante oito anos com os resultados das pesquisas para aprovação do governo Lula.
No jornalismo brasileiro a generalização é a pauta do dia. Dependendo de quem encomenda a matéria, a generalização é usada para transmitir determinada mensagem e ser absorvida pela maioria, já que, subentende-se, “TODOS opinam igual”.
Na propaganda, a coisa é mais séria. Não só, como também, a falta de ética, de escrúpulos e de vergonha na cara por lá desbordam. A ganância dessa gentalha, ao longo dos anos, só tem piorado o caráter já nefasto dos brasileiros.
Eu sou dos poucos que ainda pensa, de uma maneira geral, que todos esses textos ou peças publicitárias apenas demonstram que os autores são seguidores fanáticos e praticantes tenazes da “pesquisa generalizada” para pastorear o rebanho; método tão em voga no Brasil. Principalmente na época da ditadura que Lula COPIOU com esmero; e que os marqueteiros da Dilma têm aperfeiçoado a cada minuto com requintada vileza e muita hipocrisia.
Quem não acreditou e/ou se emocionou com a voz embargada da Dilma ao mencionar os “brasileirinhos” mortos no Rio?
Embora o correto fosse dizer “brasileirinhas”, – pois mais meninas faleceram, – os “brasileirões” arrepiaram-se e uma lágrima ou outra escorreu desenfreada face abaixo.
Os jornais escreveram rios de palavras para relatar o fato, pois “TODOS” ficaram emocionados.
Na Globo New internacional o “TODOS emocionados” foi repetido quase à insanidade.
Entretanto, não é só a Globo a abusar do “TODOS” para emocionar a todos.
O curioso desses “TODOS” é que NINGUÉM se emocionou com o garoto baleado, caído, sangrando profusamente, no corredor da escola Municipal Tasso de Silveira, no meio de uma multidão bestial, passando ao lado ou por cima dele... sem dar a mínima!
Nem os policiais, incompetentes se preocuparam em controlar a turba de selvagens histéricos.
Selvagens em geral procedem assim, mas “TODOS” ficam emocionados com todas as emoções... menos com uma criança caída no chão, sangrando e gesticulando o bracinho, querendo ajuda.
Quando leio ou ouço esses “TODOS” abrangentes, sempre penso que seria perigoso instar aqueles que não concordam a atirar a primeira pedra. Poderiam chover muitas... embora convicto esteja que a covardia os impediria de atirá-las.
O mesmo repito para mim diante dos artigos generalizados. Principalmente diante de um corpo de uma criança caída, vertendo sangue em borbotão e vendo que TODOS a ignoram.
Que lástima a Globo não ter mostrado a ignorância de “TODOS” aqueles que ela enaltece e escreve como arauto de “TODOS que se emocionam”.
Nos meus anos de vida nesse país infame, chamado Brasil, diante das emoções comoventes que a Globo, a Record e a Band transmitiam, no dia seguinte perguntava à minha governanta se ficara emocionada com a notícia; ou se havia pedido para repetir o feirão de carros da FIAT, a que mais usava o plural generalizado..
– Qual noticia? Qual feirão? – Os olhos arregalados dela só acerbavam a minha indignação.
Na copa da empresa, na hora do café, repetia as mesmas perguntas. Poucos ou nenhum eram os “TODOS” que sabiam das “emoções Globais, Iurdianas ou Bandeirantianas” ou gostavam de determinado carro, anunciado como sendo a preferência de todos. Afinal, trabalhador brasileiro que se preze passa o “Jornal Nacional” dentro do ônibus, nas três ou quatro horas que tarda para chegar ao destino. Jornal, raramente lê; e se o faz, soletra as manchetes para deduzir o resto, seja por ilação ou por orelhada... quase sempre do todólogo do lado que entende de tudo, mas não sabe de porcaria nenhuma.
E como há todólogos no Brasil...
Entretanto, sobre o Big Brother, TODOS sabiam e, provavelmente, ainda sabem de tudo e mais um pouco.
É bem verdade que há muito no Brasil a expressão e o sentir nacional deixaram de ser de dentro para fora, para passarem a ser de fora para dentro. Brasileiro não é chegado a um raciocínio independente... ou a pensar por si próprio diante das vicissitudes da vida.
Tanto assim é que a incúria dos editores e a insensatez ou venalidade de muitos jornalistas têm proporcionado a inversão dos principais paradigmas sociais: - TODOS os desvios éticos passaram a ser abençoados e verborragicamente justificados para serem perdoados pelos brasileiros.
A eleição de Fernando Collor para presidente, seu impeachment e, anos depois, eleito senador, ilustram bem os efeitos da generalização e o reviramento dos conceitos morais dos brasileiros.
O fato de um presidente da república mentir descaradamente e nada acontecer é outro exemplo.
A eleição de uma ladra de bancos para presidir o Brasil é só a cereja do bolo a coroar esses TODOS...
A patuléia tem pouca memória e muita preguiça política. Generalizar poupa os neurônios precários dos brasileiros; permite-lhes opinar sobre tudo, sem medo de confrontações, porque a mentira é muita, o vocabulário é escasso e a generalização uma bolha pra lá de confortável.
O que seria dos formadores de opinião sem a generalização? A Globo mal passaria de jornal de bairro e Edir Macedo continuaria como caixa de banco.