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domingo, 5 de setembro de 2010

Amálgama brasileira

Lá pelos idos da década de 60, do século passado, houve um bandido carioca chamado Lúcio Flávio que disse certa vez: – “Bandido é bandido, polícia é polícia”.

Nesses anos a TV Globo, sob batuta da CIA, convencia os brasileiros que o país vivia o frescor dos anos dourados... por ter adotado, é claro, sob o regime militar, o American Way of Life. Mas Paris era o destino preferido das férias dos brasileiros de bom gosto...

Não havia arrastões. Seqüestros relâmpagos tampouco. O PT não existia. E Lúcio Flávio, na sua singela mente criminosa, ilustrava o auge dos parâmetros da sociedade brasileira da época: bandidos de um lado, polícia do outro. O cidadão comum ficava no meio; vez por outra vilipendiado pelos primeiros, no entanto sob a proteção dos segundos.

Bandido geralmente matava apenas bandido. O cidadão assaltado, embirrento, levava uns sopapos, perdia a carteira e voltava para casa acabrunhado, lambendo a impotência.

Hoje tem sorte se voltar com vida.

Eu me recordo de uma ocasião, na segunda metade dos anos 70, então com os meus vinte e poucos anos, no calçadão da Av. Atlântica um sujeito negro passou por mim e arrancou-me do pescoço um cordão de ouro. Imediatamente fui à delegacia, a 12ª. de Copacabana. Apresentei queixa. Para meu espanto, seis dias depois, recebi a ligação de um policial para voltar lá. Haviam encontrado o cordão.

É certo que a miséria campeava à solta pelos morros. As favelas cresciam. E quem se importava? O Samba ainda era samba. Futebol se jogava na raça. 


A praia era grátis e o amor não precisava de camisinha. 

Sábados à tarde pedia-se a proteção dos Orixás. Nos domingos, nas igrejas, a benção de Deus e dos santos. Os pecados da semana eram perdoados. Deus era brasileiro. Os morros tresandavam a Leite de Rosas e as flatulências do funk nem por lá pairavam. 

Drogas havia, mas a maconha ainda não era hidropônica.

Brasília mal dava os primeiros passos e já tinha sido alcunhada de capital do desquite. Não existia divórcio. Hoje é a capital da corrupção. Das grandes quadrilhas. Das obras hiper-superfaturadas. Da distribuição “grátis” de panetones e Ricardo Noblat é o seu blogueiro mais proeminente.

Parricídios eram raríssimos. Matricídios menos. Se a namorada terminava o namoro o máximo que lhe acontecia era encontrar o “Ex” estendido na praia abraçado a outra. Hoje morre esfaqueada, baleada, esquartejada ou leva uma surra que a deixa seis meses no hospital.

Dor de cotovelo curava-se em casa ao som de Roberto Carlos ou de noite numa bela roda de samba onde outro amor brotava novamente. Numa seresta o amor caía de pára-quedas. Os crimes passionais eram deixados para os nordestinos, "cabras da peste" de peixeira na mão.

As mães não jogavam os filhos nas latas de lixo, nem aos rios... dentro de sacos de plástico.

De uma maneira geral ninguém se confundia. O respeito social e a cidadania prevaleciam. Exceto nos blocos carnavalescos ou nas areias das praias onde os descamisados sentiam-se a gosto, de igual para igual, ao lado das madames de fio dental, dos deputados e senadores da república; estes últimos respeitadíssimos, pois as falcatruas eram abafadas já que as organizações Marinho existiam para isso mesmo e as carteiradas davam-se a torto e a direito.

As tramóias eram de pouca monta. O escudo neopentecostal não era iurdiano. Edir Macedo só infernizava os caixas dos bancos com sacos cheios de moedas.

Em São Paulo, Minas Gerais e nos Estados do Sul os contratos comerciais eram honrados no fio do bigode. A honestidade prevalecia.

No Rio de Janeiro, obviamente, a coisa era diferente. A cidade ressentia-se por ter perdido o status de Capital Federal. De orgulhosa cidade maravilhosa passou a autodenominar-se capital da cultura no Brasil. Começou a sofrer de complexo de inferioridade... 


Lá nasceram os primeiros focos pseudo-intelectuais contra a ditadura militar... românticos apaixonados pelo regime comunista sem o conhecerem verdadeiramente. Sequer distinguiam as diferenças entre comunismo, socialismo e parlamentarismo...

A TV Tupi desapareceu. Adolf Bloch morreu. Roberto Marinho virou nome de avenida em S. Paulo e a capital "intelectual" de antanho virou campo de guerra capital. Criou linha marela e vermelha, mas continua sem saber diferenciar o certo do errado.

O jeitinho carioca ganhou força. Espraiou-se como um flagelo pelo país. Virou jeitinho brasileiro. A ditadura abrandou. Jarbas Passarinho avacalhou com o ensino escolar no país. O PT nasceu. Vieram as “Diretas Já” e Fernando Collor foi eleito e depois escorraçado.

O político e o cidadão comum ainda se negavam imperiosamente a participar das mentiras cotidianas. O homem brasileiro ainda não era o homem e suas circunstâncias.

Então... Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente e a democracia se sedimentou... porém, envolta em múltiplos disfarces epiglóticos e farsas em torno do partido presidencialista, os tucanos.

Pedro Malan passou a representar o pensamento ortodoxo da economia, na economia nacional. De cara aos padrões nacionais da todologia o engenheiro tornou-se um economista para todos os efeitos. Ninguém sabia ao certo se funcionava como um engenheiro da economia ou um ecônomo da engenharia.

O certo é que a Secretaria do Tesouro Nacional permitiu a troca de catorze bilhões de dólares, em títulos podres, por Notas do Tesouro Nacional. Os créditos da Superintendência Nacional da Marinha Mercante putrefatos, vencidos, originados de duplicatas falsas, sacadas por estaleiros contra essa extinta autarquia... foram trocados pelo valor de face; por promissórias novinhas, novinhas em folha e logo cobradas.

A economia passou a vicejar.

Gente que nunca havia se interessado pelo assunto já acordava de manhã discorrendo, com absoluta proficiência, acerca das debêntures, benchmarking ou sobre a sutileza entre revenues e incomes. O pequeno proprietário da birosca da esquina, com meia dúzia de moedas em Capital base, já pensava em conseguir do banco o seu Capital budget; um Bridget já servia.

Os noticiários na televisão abriam espaços nas dispendiosas grades da programação para explicarem as estranhas palavras usadas no novo idioma: o “Economês”. Os principais jornais gastavam mares de folhas para elucidar as sutilezas.

Hoje, entretanto, ninguém dá a mínima para o favelês nem para a aberração como as palavras do português são pronuncidas... Os "pissicólogos" e " pissiquiatras" tentam "obijetivamente" "abissorver", "áté" "capiturar" os "áspéquitos" "téquinicos" sem grandes resultados.

Comentaristas econômicos eram catados às dúzias pelas ruas para falarem em rede nacional sobre a impressão e impacto do plano na economia. 


Alguns discordaram. 

Coitados. 

Que atrevidos! 

Para justificar essa petulância e não confundir a opinião pública, a TV Globo criou o brilhante conceito jornalístico do “espaço dado ao contraditório”. Na nacional-democracia brasileira esse espaço precisava existir... Mas sem exageros.

Nas empresas, médias e grandes, todo o mundo queria ser um Insider e saber dos disclosures que reforçariam o empowerment, cujo conceito passou a ser objeto de desejo de todo o profissional responsável.

Se um funcionário estava desmotivado ou era ineficaz, ninguém acusava o chefe disso; nem a sogra. O departamento de Recursos Humanos aplicava logo um programa de Empowerment no coitado e as coisas ficavam resolvidas. Do contrário, se a criatura se rebelava, recebia o estigma de outsider; ou de sidler que era pior.

Nas empresas pequenas... As pobres? Cada uma tratou de conseguir pelo menos uma assinatura mensal de um grande jornal. Mas só as manchetes eram lidas com avidez... e no dia seguinte... confundiam olhos e mentes dos catadores de papel.

Todos entendiam tudo. Alma alguma contradizia FHC ou seus arautos. A sua oratória fácil aniquilava pernilongo em vôo. Aonde o figuraça chegava as portas abriam-se e algumas calcinhas caiam; até a de certa jornalista global que, por deixar cair a dela, foi promovida a âncora de noticiário televisivo, no final da noite, claro. Mais tarde enviaram-na para a Europa... como prêmio merecido pelo fruto concebido que levava no bucho.

Os poucos que se atreviam a fazer alguma perguntinha mais profunda, a querer entender só um pouquinho, aparecia logo alguém com a pergunta que já soava a acusação: — “’ocê é do PT? né! — Após esta incriminação despejava, como praxe, uma série de impropérios nos ouvidos do perguntador que culminavam com o rótulo de comunista, reacionário, antipatriota e, na falta de outros adjetivos menos airosos, “babaca”.

Se o(a) “babaca” se enchia de paciência e, depois da vituperação, pedia, – humilhando-se – algum esclarecimento sobre um ou outro ponto, cuja acepção não entendera, mas presumia ter importância e grave significado, recebia logo a resposta: — “’ocê, heim? ‘dora complicar as coisa! ‘ocê não se manca que tá sendo chato(a)?”...

Quem fumava passou a ser discriminado(a) e rotulado(a) de cancer sticker ... e tudo falado com aquele sotaque meia-boca, sem ficar vermelho(a). Era a globalização; o neoliberalismo aterrissando no Brasil dos anões, joões, collors, sarneys, silvas e de uma “maioria consciente, ativa e politizada”.

Da noite para a manhã seguinte a moeda nacional valeu mais que o dólar estadunidense. Financiamentos de carros realizavam-se em dólar; o leasing era a opção inteligente, a mais propagada nos barzinhos.

Um âncora da TV Globo transformou-se em enólogo com direito a programa no rádio para explicar a influência dos taninos na fermentação maloláctica das uvas e por que não se tomava vinho tinto com peixe. Errava mais do que acertava. Mas enfim... Hoje fala menos disparates. Aprendeu a usar a Internet.

Todo o mundo só bebia Beaujolais e Chablis, – pedido ao garçom com biquinho dos lábios e cara de profundo conhecedor de vinhos. O Mateus Rosê de antanho, tão apreciado, virou bebida horrorosa; que aliás sempre foi.

Os preços do supermercado pararam de subir. 


Ninguém mais precisava fazer estoque de produtos de limpeza, de alimentos, de enlatados... 

Nem a madame saía mais do supermercado com aquele carrinho abarrotado, cujas sacolas chegavam em casa justo na hora da doméstica sair para preparar a janta dos filhos. 

As sacolas diminuíram  mas continuaram a chegar na mesma hora. 

A empregada passou a ficar irada. Entre dentes resmungava até guardar a última lata de patê francês no armário da cozinha. – Mal dominava a ansiedade de sair correndo até ás Casas Bahia e fazer o crediário do microondas em dez-veiz-sem-juro

A janta dos filhos que esperasse.

As viagens internacionais cresceram tanto que as agências de turismo ficaram preocupadas; O Brasil poderia ficar desabitado...

Tal como acontece hoje.

Mas o melhor de tudo foram as dentaduras; la pièce de résistance servida à maioria ventríloqua. Nunca se venderam tantas e em tanta-veiz-sem-juro. O povo já tinha com o que sorrir. Razões havia.

No entanto, os aposentados, que também desfrutavam dessas dentaduras, foram chamados de vagabundos. Claro! Com razão! O país tornara-se produtivo. Onde já se viu um montão de velhos ficar à toa dias inteiros nas praças a jogar migalhas aos pombos?

Ninguém prestou atenção. Só os jornalistas a soldo do PT. Ainda precisam convencer os donos dos jornais que eram profissionais. Hoje não precisam mais. Os jornais estão falidos.

FHC foi aplaudido, convidado a palestras, viagens e recebeu honrarias. Era impossível deixar de acreditar na sinceridade das suas preocupações com as mazelas sociais do país.

O Brasil, pela primeira vez na história, tinha um estadista à sua altura. 


O povo ignorante e analfabeto sentia o orgulho exalar-se-lhe pelos poros. As duas eleições perdidas, uma para o Senado em 1978 e a outra para a prefeitura de S. Paulo, em 1985, foram esquecidas. A sua pífia atuação como chanceler, idem. A entrevista onde afirmara ter fumado maconha... Fumou? Ninguém lembrava. 

E alguém queria atirar a primeira pedra?

O PT viu aí a sua grande oportunidade, abriu as asas e alçou vôo. Frontalmente contra o Plano REAL, – siglônimo de Plano de Revitalização Estruturada da Alemanha Livre, – começou a aumentar a sua popularidade através de pesquisas de opinião manipuladas em grotões e programas assistencialistas paliativos, sem bases para o desenvolvimento dos assistidos.

Segue até hoje.

Quando as privatizações começaram e as mentiras desabalaram, “no limiar da irresponsabilidade”, como disse certo tucano de alta plumagem, o PT delinqüente cunhou a sua ladainha épica. 


Na voz do expoente mais ébrio e analfabeto passou a alardear os feitos heróicos e lendários dos seus “heróis” que, em meio aos cometimentos tucanos, eles se destacavam pelas suas qualidades superiores, principalmente por serem os mais éticos entre os éticos.

Nunca antes “nestepaíf” se viram tantos éticos tão etílicos...

E Paulo de Tarso Venceslau, homem honrado, ex-secretário de Finanças de administrações petistas, veio a público e denunciou-os. Ninguém quis ouvir... e a máxima de Lúcio Flávio desfez-se. Celso Daniel foi assassinado. Toninho do PT também. João Batista Araújo, o Babá (Pará), João Fontes (Sergipe), Luciana Genro (RS) foram expulsos. Os assassinatos haviam chamado muito à atenção.

Ali-Babá e os 40 ladrões tomaram conta do cenário nacional. Mas não eram bandidos; apenas e eufemisticamente petistas.

Lula, torneiro mecânico, incompetente, homem de comprovado etilismo e analfabeto foi eleito presidente... O Ali-Babá passou a dormir em lençóis de algodão egípcio e comprou um avião para o seu lazer.

Enquanto isso os quarenta ladrões adonaram-se do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

Como o exemplo vem de cima, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) dominou e fechou São Paulo, a maior cidade da América Latina. Matou policiais, assaltou bancos, pintou e bordou do jeito que quis.

Marta Suplicy encheu a mesma cidade com flores superfaturadas, pendurou-as nos postes, corrompeu de vez as empresas coletoras de lixo, criou taxas e mais taxas e Aloísio Mercadante revogou o irrevogável.

Um negro foi escolhido para juiz do Supremo Tribunal da Nação. O País vibrou. Até eu, cético empedernido, compus aqui um texto em seu louvor. Esperanças alvissareiras nele se depositaram quando foi encarregado de julgar o maior caso de corrupção ativa e passiva jamais visto.

Porém... Ah, porém... Os meliantes eram todos petistas. O negro ficou com dor nas costas, o trabalho pesou, pediu licença médica e escafedeu-se. Hoje só é visto perambulando pelos botecos e lojas de Brasília. Em breve o processo caducará por decurso de prazo. A impunidade vencerá.

Agora se entende porque foi escolhido pelo Lula para ser o primeiro negro, juiz do Supremo Tribunal Federal.

Odeio dar razão a quem afirmou que "negro quando não faz na entrada, faz na saída". Joaquim Barbosa é só um pouco mais afoito. Faz abundantemente também no durante. Vai ver, inspirou-se na Benedita da Silva do PT; ou será que foi na hoje ex-Ministra da Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, também do PT?

Saudade da Matilde. Que inspiração sublime quando afirmou: – “Acho melhor ter brancos ressentidos, mas negros dentro das universidades do que ter branco feliz e negro fora da universidade”. Afinal, como ela mesma disse depois: – "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco", e que "a reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco... é natural".

Como num caleidoscópio infantil também é natural no Brasil que tudo se repita inexoravelmente. 


Tampouco alguém quer atirar a primeira pedra contra a assaltante de bancos. Os telhados são de vidro. Até o Superior Tribunal validou-lhe a candidatura... apesar da criatura ter antecedentes criminais comprovados ao ter sido condenada por crime previsto no Código Penal.

Para que serve mesmo a Constituição Federal proibir que indivíduos com antecedentes penais ou analfabetos se candidatem a cargos públicos?

Bom... o torneiro-analfabeto, corrupto e corruptor, segue etilicamente incólume com 79% de aprovação popular e a Lei “Ficha Limpa” já nasceu suja.

Se Lúcio Flávio fosse vivo, provavelmente seria deputado hoje. No Brasil do Real, bandido não é só bandido, conforme político não é só político e polícia também é bandido...

O povo, que tudo misturou, esparge com orgulho a indecência do que deixou de ser para mostrar-se o que realmente é.

Bandidos do século passado, no segundo milênio, viraram parlamentares, eleitos consecutivas vezes. Políticos tornaram-se bandidos despudorados... também eleitos repetidas vezes. Assaltante de bancos virou presidenciável. A polícia perdeu voz, sucumbiu aos bingos, ao narcotráfico, aos maços de dinheiro sem dono. Os juízes ficaram autistas ou coniventes. Os celerados dominaram a nação.

Talvez por isso se compreenda porque o Direito no Brasil passou a residir em universidades mercantilistas, de baixíssima qualidade; na sua maioria refugio dos desprovidos de moral, de ética, que vêem no Direito a forma de superar a lassidão e exercitar a astúcia e o oportunismo...

Certamente por isso a reforma do judiciário jamais saiu do papel e o Poder em si está hoje inquinado de esqualos togados... Tal como bagres alimentando-se de qualquer coisa: da burocracia, dos artigos legais esdrúxulos e mal redigidos, dos impedimentos e delongas processuais; uma morosidade justificada pelo amplo direito à defesa... 


Defesa de quem pode pagar “bons” advogados amancebados com o Poder Público; indefesa para quem não pode e se rende à justiça sem integridade.

A idiossincrasia popular finalmente resplandeceu. Lúcio Flávio era só um ingênuo.

Fosse hoje, o meu cordãozinho de ouro jamais seria encontrado. E se fosse, estaria decorando o pescoço do meu vizinho... talvez de algum policial ou deputado... possivelmente federal.

A bom tempo deixei de ser brasileiro. Aqui em Bruxelas até me esqueço algumas vezes de trancar a porta de casa.

Mas no Brasil... de pretos e brancos, de índios e asiáticos, jornalistas e políticos, bandidos e policiais, corruptos e corruptores, ladrões e assassinos, juízes e advogados, banqueiros e agiotas... apesar de todas as trancas, tudo se misturou no caldeirão fétido da libidinosidade cinérea. 


De lá passou a verter uma amálgama disforme, bizarra... genuinamente brasileira.

domingo, 29 de agosto de 2010

Moço de recados dos laboratórios cai...

Assaltante de bancos sobe!

Que personagens, grotescos-grotescas, elencam a corrida presidencial no Brasil!

Já o escrevi aqui várias vezes e repito novamente: O PSDB é composto por covardes, incompetentes; gentalha sem a menor dignidade moral ou patriótica. 


De certa forma, como instituição política partidária, é dez vezes pior que o PT. Além de ser tão corrupto, ou mais, não tem qualquer controle sobre os afiliados. 

Sequer dispõe de um marqueteiro inteligente, capaz de perceber as idiossincrasias dos eleitores que quer convencer para votarem no candidato para o qual trabalha. O tal do Luiz Gonzalez é mais cego que uma porta e teimoso como uma mula. 

Meu avô costumava dizer que teimosia é sinal de burrice.

Não sei como os constantes fracassos de Luiz Gonzalez não o fazem zurrar cada vez que abre a boca.

Aliás, diga-se, o fenômeno lulista que assola o Brasil só foi possível graças à asnice desse todólogo do marketing político, à rematada inaptidão, fisiologismo e excesso de presunção dos integrantes da cúpula do PSDB; em especial de Fernando Henrique Cardoso, o mestre da retórica vazia, Sérgio Guerra, o indolente, e Tasso Jereissati, o medroso. 


Nem vale a pena mencionar figuras patéticas como Artur Virgílio ou Eduardo Azeredo.

O certo é que José Serra caminha para outra derrota fragorosa; desta vez com maior significado, mais profundo e amplo que a anterior. Vai ser derrotado por uma assaltante de bancos comandada e dirigida pelo torneiro mecânico que o bateu no mesmo pleito de oito anos atrás.

Para você, leitor(a), deve ficar bem claro que não possuo qualquer simpatia pelo José Serra.


Conheço-o bem. 

Para mim é só mais outro corrupto amancebado com laboratórios que, quando prefeito de S. Paulo, teve a cara de pau de negar o próprio juramento público que fez. 

Um homem desse calibre, que volta atrás com a palavra dada, não passa de um rato de esgoto a ser exterminado. Politicamente é o que está acontecendo com ele. O que é bem merecido! Principalmente se nos lembrarmos como ele velhacamente boicotou a campanha de Geraldo Alckmin.

No mesmo nível de conceito sinto igual repulsa por Dilma Rousseff, pois é uma criminosa, desprovida de escrúpulos, como são todos os indivíduos que assaltam bancos. 


No caso deste dejeto humano feminino, além de roubar bancos participou ao mesmo tempo de seqüestros de pessoas e de outras barbaridades, que, a meu ver, fosse o Brasil um país decente, essa mulher estaria trancafiada numa prisão e não concorrendo ao cargo mais alto da nação.

Mas o Brasil não é um país decente! O povo que nele vive, na sua grande maioria, é gente amoral, desprovida de raciocínio. Sequer compreende o direito de ser cidadão.

As supostas lideranças regionais do PSDB já deram as costas ao Serra. 


A ganância que os imbui é tanta que acederam prazerosamente à pressão da máquina lulista. A esta, sedutoramente corrupta como é, dinheiro federal não falta e tucano que se preze está sempre disposto a receber mais algum; seja em metálico ou em promessas de favores vindouros...

O povo brasileiro vai eleger novamente outro dejeto humano para governá-lo sem perceber o dano que já causou ao país e o quanto compromete ainda mais o futuro dos seus próprios filhos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

César Maia não erra uma.


Se a falta de escrúpulos de César Maia é enorme a sua gabarolice não deixa por menos.

Sendo protetor de Roberto Arruda e integrante demoníaco dos DEMO, – ex-ARENA, ex-PFL, – lembram?, o partido a caminho da extinção, – César Maia quer agora ser senador... Antes do escândalo Arruda chegou a ver-se como candidato natural à presidência...

Natural? Se uma assaltante de bancos pode, ele também pode.

Logo ele, ultrajante ser nefasto da política brasileira, que se locupletou com o super-faturamento das obras do PAN e escondeu anos a fio a esposa e demais parentes dentro da folha de salários da Prefeitura do Rio de Janeiro, apesar de criticar outros por práticas iguais...

E agora, candidato a senador, saiu-se com outra:

No seu Spam de 23/08/2010, que chama de Ex-blog, no texto titulado “NOVA PESQUISA DATAFOLHA: COMENTÁRIOS!”, o dono do PFL/ DEM escreve no parágrafo 7: – “Este Ex-Blog, aplicando o mesmo método de muitos anos, com previsões de 100% de acerto, poderá projetar tendências a partir de pesquisas cujo campo ocorra no final desta semana”. – Leia a íntegra «AQUI».

Ora, ora! 100% de acerto? Nem os Institutos de Pesquisas mais sérios se atrevem a tanto.

O homem deixa a modéstia de lado e dá azo à soberba, à mitomania e à gazopa, conquanto visão, honestidade e bom senso não sejam os seus predicados mais enfáticos.

Típico!

Se bem me lembro, – à laia de exemplo, – nas últimas eleições para Prefeito do Rio de Janeiro, esse “experto” na aplicação do – “mesmo método de muitos anos, com previsões de 100% de acerto” – em análises de pesquisas, garantiu a pés juntos que Fernando Gabeira seria eleito Prefeito dessa cidade. Nem chegou nem perto! Errou feio! Se Maia tivesse ficado caladinho talvez Gabeira fosse hoje o prefeito dos cariocas...

Enfim...

Se me puser a recordar aqui as previsões que César Maia fez na última eleição para Presidente ou o que comentou no início deste ano sobre a candidatura Serra, vou me lembrar também que parte do Mensalão do DEM e alguns panetones, como denunciou Durval Barbosa, iam parar-lhe no bolso... Bom... no do filho, Rodrigo Maia, o que dá no mesmo.

Para isso servem os filhos de p.eixes...

Eu só queria entender donde diabos esse mequetrefe tirou a idéia que sabe interpretar pesquisas ou fazer previsões... e ter a petulância de alardear que o faz com 100% de acerto.

Embora tenha deixado a prefeitura do Rio de Janeiro com um dos piores índices de rejeição – de todos os que por lá passaram, – “todologia” é sem dúvida a sua maior credibilidade... pois otários não faltam. Cariocas tampouco.

César Maia é realmente muito bom em 100% de acerto... especialmente em empregar parentes; aumentar IPTU; proteger Roberto Arruda e demais corruptos do DEMO; arrumar formas de superfaturar obras jogando a culpa nos outros enquanto embolsa o spread; e, sobretudo, em justificar a falência do seu próprio partido com textos argentinos...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Todas as criaturas são perfeitas...

Quando saí do Brasil sabia tudo sobre os brasileiros. Hoje, aqui de longe, quase às vésperas de uma assaltante de bancos assumir o comando da nação... nada mais sei sobre os brasileiros... ou sobre o Brasil.

O que leio estarrece. As noticias que me chegam são medonhas. A passagem da assaltante de bancos por Bruxelas foi absolutamente constrangedora. Que brasileiros assombrosos a acompanhavam... Mal pude acreditar no que vi e ouvi quando a mulher se encontrou com Durão Barroso...

Afinal, de qual Brasil recordo eu ? O da miséria da minha infância, repleto de coronéis? O da ditadura-branda e do embrutecimento das massas realizado pela Rede Globo? O do neoliberalismo, do Real, do boca-de-sovaco-de-cobra abatendo pernilongo em vôo? Ou o Brasil petista da corrupção sistêmica, comprovando a diário, de forma inequívoca, a vocação inata do mau caráter dos brasileiros?

Como diria aquele sociólogo famoso, cito: “aposentado é vagabundo” e, apesar de todas as criaturas criadas por Deus serem perfeitas... os brasileiros não são.

O crime compensa!

Se o indivíduo, no Brasil, for petista ou lulista, o crime compensa! 

Proporciona status e lucros fabulosos. 

Daniel Dantas, Pimenta Neves, José Dirceu, José Rainha, o ilustre analfabeto-mor e sua cobertura no Guarujá e até a atual candidata à presidência, ex-assaltante de bancos e ex-terrorista, são alguns entre os milhares de exemplos inequívocos a provarem que o crime compensa e recompensa.

No Brasil, como um todo, também compensa! Maluf que o diga. Jader Barbalho certamente fará coro. José Sarney faz a primeira voz e Collor de Mello a segunda.

Nem óculos fazem falta para enxergar tais figuras no meio da ala imensa dos trezentos picaretas que passam de quinhentos dentro do Congresso Nacional. 


A voracidade criminal e a certeza da impunidade dos que deveriam zelar pela decência do país proporcionam ainda mais atos não menos hediondos dos colegas, aos milhares, espalhados pelas Câmaras Municipais e Assembléias Estaduais.

Afinal o crime compensa; o povo elege para isso mesmo.

A compensação é ainda mais patente nos rostos e artigos de centenas de jornalistas... da Globo, da Record, da Bandeirantes, dos blogs que assinam... das colunas de jornais falidos ou das revistas por onde tergiversam textos próprios encomendados, outros ditados, pois, por si próprios, caráter demonstram apenas para alugar a caneta que os sustenta.

O que dizer da massa multitudinária de funcionários públicos, corruptos até à medula?... E dos Policiais, Delegados, Promotores e Juizes, tal como ratos de esgoto, a esconderem-se nas sombras? Todos a cobrarem propinas, a aceitarem subornos...

Aqui na terra do bom chocolate fico imaginando o dilema que devem estar a enfrentar os poucos brasileiros honestos, e ainda decentes, que restam no Brasil, para escolherem o novo caminho a seguir: petismo ou barbárie?

Se petismo, haverá pois que roubar, falsificar, mentir, adulterar, enganar, mandar matar e eleger assaltante de bancos para governar...

Se optarem pela barbárie... estarão em plena sintonia com a posição oficial do Itamaraty que condena a censura da ONU aos países que desrespeitam os Direitos Humanos.

Sem dúvida, sob a égide lulista, o Brasil tornou-se um país preto. Não só porque lá concentra a maior quantidade de negros do mundo, mas porque possui, sobretudo, a alma mais negra e nefasta que o ser humano é capaz de revelar.

Os assassinatos estarrecedores são a ordem do dia. Mata-se por dá cá aquela palha. Nem os nazistas foram capazes de produzir os requintes de crueldade que os brasileiros estão a demonstrar.

No Wall Street Journal, Mary Anastasia O'Grady, uma das colunistas mais respeitadas dos EUA, publicou um artigo em 14.06.2010, titulado “Lula's Dance With the Despots” (Lula dança com déspotas). Se quiser leia-o «AQUI». Está em inglês.

O texto da colunista é um efundir de desprezo pelo Brasil e, ao mesmo tempo, uma calcografia da fama que Lula deu internacionalmente ao país. 


Mas os brasileiros, imbuídos da habitual e enorme irresponsabilidade estúpida que os caracteriza, ainda não se deram conta das conseqüências que terão de enfrentar muito em breve. Piores até do que aquelas que já enfrentam no âmbito internacional.

Jamais na minha vida eu li, soube ou me contaram, que o Brasil havia sido comparado a um daqueles cachorros irritantes que costumam ficar mordendo os tornozelos das pessoas apenas para chamar a atenção. Escreveu a colunista: “The president of Brazil is preserving his country's unfortunate image as a resentful, Third-World ankle-biter.”

A que ponto chegaram os brasileiros! O primeiro mandatário do Brasil é considerado um ser pusilânime! O que de fato é! E em breve, assim parece, o povo já se encarrega de substituí-lo por uma mulher de pior índole ainda.

O artigo no jornal Wall Street ao esparramar em preto e branco que o Brasil está num nível ainda mais baixo que a Somália ou Uganda foi até simpático.

Não há ninguém no Brasil, patriota o suficiente, capaz de impedir que o Lula envergonhe cada vez mais o país?

Não há no Brasil ninguém com dois dedos de inteligência para mostrar que uma vez assaltante de bancos, sempre será assaltante de bancos? Portanto, indigna sequer de se aproximar das rédeas do governo?

Está claro que não há!

No Brasil o crime compensa tanto que brasileiro que se preze cometerá todos os crimes que puder pois pela mão popular será conduzido à Presidência da República.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Livre-arbítrio.


Engraçado esse negócio que Deus nos deu livre-arbítrio... a tal possibilidade de decidir ou escolher em função da vontade própria, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante... Será?

Bem cedo aprendi a exercer esse tal do livre-arbítrio que Deus supostamente “deu”, e gostei muito.

Ainda pequeno, as minhas ações dependiam unicamente da própria vontade, portanto, era livre. Já imaginaram? Eu, pobre e preto, descobri que tinha total liberdade... E a liberdade, humano sou, obviamente deslumbrou.

Os meus grandes educadores, pai, mãe analfabetos e avô que assinava lindamente o seu nome, diziam-me sempre que, para exercer bem o meu livre-arbítrio, era preciso conhecer primeiro todos os lados da questão onde eu pretendia exercitar a minha vontade.

Conhecer todos os aspectos? Muito complicado e demorado! Para roubar duas ou três goiabas do quintal do vizinho precisava analisar os prós e contras de uma ação que eu chamava “obtenção de provimentos para a batalha”? Humm... Quando acabasse de pensar as goiabas já haveriam caído de moles. E quem gosta de goiaba sabe que as melhores são as meio verdes e vermelhas, comidas no pé.

Deste modo, exercendo o meu livre-arbítrio, eu retrucava que não era necessário. Afinal, o tal do livre-arbítrio fora-me dado por Deus, conseqüentemente, ficar analisando variáveis e tangentes de determinado assunto não só era pura perda de tempo, como uma falta de respeito. Deus poderia pensar que eu desconfiada do presente dele...

Se Deus deu, estava dado e fim de papo. Eu podia muito bem fazer o que quisesse sem precisar analisar nada. Eu não queria que Deus ficasse aborrecido comigo... Mesmo assim, pai, mãe e principalmente o meu avô, insistiam em mostrar-me o que achavam certo ou errado e eu... bom... fingia que ouvia. Tinha esse direito, não? Fazia parte do meu livre-arbítrio, ora pois! Eu era senhor e rei do meu livre-arbítrio.

Eu era livre. Livre como os passarinhos que caçava e enfiava numa gaiola para aprenderem que liberdade era coisa de gente, não de bicho. Deus só dera livre-arbítrio para os homens.

A memória retrocede-me neste instante aos meus onze aninhos. Recém entrara na puberdade. Os ossos doíam-me, os mamilos inchavam e a voz saía-me a cada dia pela boca com um som diferente. Às vezes chegava a pensar que não era eu, e sim um daqueles espíritos que costumam vagar pelos campos de Minas Gerais. O pior eram as espinhas e a farinha que minha mãe insistia que eu pusesse na cara para secá-las.

Nesse aspecto o meu livre-arbítrio não funcionava...

Lá na roça, naqueles tempos, tratamento dermatológico era emplastro de farinha de trigo, água, sal e mel pregado na cara antes de dormir. Dermatologista era coisa pra gente sabida e de “puuder”. Para falar essa especialidade médica o caboclo engasgava-se duas ou três vezes. Quando conseguia, balbuciava em cadência “dérrr-ma-tro-lo-gis-tra”, seguido de um sorriso amarelo. No alto do meu livre-arbítrio eu logo recomendava com o riso preso na garganta:

ocê devia procurar um otorrinolaringologista para melhorar sua dicção...
Sua quê? – respondiam-me já de mão alçada.

Dependendo de quem fosse o interlocutor recebia de resposta o rebolar “dozóio” ou um cascudo na cabeça. De qualquer forma saía da conversa a rir a bandeiras despegadas. E este era só um dos privilégios do tal do “livre-arbítrio”.

Quando os ossos pararam de doer aprendi que livre-arbítrio também significava poder... pois a cada dor eu fingia que não existiam e um dia as dores pararam. Então eu tinha poder... e liberdade.

Isso pensava até ao dia que o meu avô obrigou-me a ler um livro com textos de um tal de Heráclito... Cinco séculos antes de Cristo, lá na Grécia, o desgraçado escrevera aos prantos que, “Se tudo se torna tudo, cada coisa contêm em si o que nega”...

Coitado! Do Heráclito, obviamente!; não do meu avô, pobrezinho! Na sua santa ignorância havia ouvido alguém dizer que ler clássicos gregos fazia bem para a cultura... então ele me convencia que parte do meu livre-arbítrio era ler o que os gregos haviam escrito.

Até hoje, se numa livraria o acaso me leva a cruzar com uma Ilíada fico arrepiado.

Que decepção! Para encurtar a história, ao final do alfarrábio descobri que não era livre, não tinha poder algum e, pior, não era humilde, embora pertencesse à classe dos humilhados.

A partir daí comecei a duvidar do tal “livre-arbítrio”. E, morrendo de medo, cheguei à conclusão o "presentinho" de Deus era uma baita sacanagem. Para que me servia essa coisa que Deus me havia dado se nem das espinhas conseguia livrar-me? E que raio de livre-arbítrio tinha eu se me deixava convencer a ler livros de gente velha que tinha morrido há não sei quantos séculos?

Bom, na dor nos ossos o livre-arbítrio funcionara. Nas centenas de goiabas que comi empoleirado na árvore do vizinho, funcionara ainda melhor... mas nas espinhas não. Menos ainda nos trabalhos escolares que a freira me obrigava a fazer sem dar-me chance de exercer o meu livre-arbítrio...

Esse presente de Deus era presente de grego, isso sim!

Fizesse eu o que fizesse as espinhas continuavam. Para engrossar o caldo, o infeliz do Heráclito, que viveu chorando diante das conjecturas da vida, levou-me a acreditar que o meu valor como homem dependia sempre do que eu produzisse e não do conhecimento que possuísse.... Mas... para valer mais pelo que produzisse, do que pelo que sabia, eu devia saber mais para fazer melhor...

Que confusão!

O padre, de quem todos suspeitavam que era comunista, nas aulas de catecismo agravava ainda mais a bagunça. Dizia que estava nas Escrituras que “conhecimento gera sofrimento”. Danou-se! Eu queria saber de tudo mas não queria ser infeliz... E a coisa piorava quando se contradizia e citava Timóteo 2:4: “Deus deseja que todos os homens sejam salvos e que cheguem ao pleno conhecimento da verdade”.

Que tormentos eu passei por causa desse presentinho que Deus me havia dado.

Já adulto descobri que os religiosos pelo mundo afora consolam os desditados valendo-se da expressão para explicar até unha encravada... embora nas escrituras não exista um só versículo que mencione essa “concessão” divina. Os hermeneutas do espiritismo dizem que livre-arbítrio é um atributo da alma humana, ensinado pelos Espíritos, consubstanciado na Doutrina codificada...

No entanto, “Deus deu-nos livre-arbítrio”, murmuram todos eles comiserados para a mãe que chora pelo filho que matou a esposa porque esta não queria reatar o casamento.

Foi Livre-arbítrio do pai matar o filho cheio de crack porque não agüentava mais os vexames a que era submetido.

Livre-arbítrio Deus “deu” também ao assaltante para arrastar pela rua uma criança amarrada ao carro; ou matar uma velha senhora porque esta se agarrou afincada à bolsa onde tinha a aposentadoria recém sacada do banco.

E o comerciante que foi assaltado dez vezes; na undécima enfrentou os bandidos e morreu pela bala saída da arma de um deles? A ação e a morte desse comerciante foram em função da vontade própria, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante?

Quando o senador Aloísio Mercadante apresentou a sua burlesca renúncia em caráter irrevogável e depois revogou o irrevogável, será que ele optou, (os repórteres da TV Record falariam “oupitou”), por essa concessão divina tão especial do “livre-arbítrio”?

– “Deus deu ao homem o livre-arbítrio!” – respondeu-me certa vez o Cura do meu povoado de Minas Gerais, quando quis saber porque Deus não acabava com a Guerra do Vietnam. – “Ele não interfere quando os homens decidem matarem-se uns aos outros”... – arrematou ele... e eu entendi.

Entendi?

Tanto entendi que os anos passaram e vi Deus “dar” livre-arbítrio aos brasileiros para elegerem o Lula da Silva. E livre-arbítrio recebeu o Lula para envergonhar e humilhar o Brasil. Livre-arbítrio tiveram os petistas para roubarem descaradamente o erário nacional; para associarem-se com criminosos das FARC; para criarem dossiês falsos; para estarem tentando eleger para presidente da república uma assaltante de bancos, terrorista e mentirosa patológica...

Livre-arbítrio mostram os brasileiros ao acreditarem nas mentiras e vigarices lulistas; ao acaçaparem os impostos mais altos do mundo; ao fecharem os olhos à corrupção; ao fingirem não perceber a miséria e a ignorância em que vivem...

Aí eu me pergunto: uma criança que na infância é desprezada, surrada, violentada, estuprada e quando adulta vira criminosa, drogada, psicopata, ou pior, petista, nas ações ignominiosas que comete está realmente exercendo o tal livre-arbítrio que “recebeu” de Deus ou apenas imitando o que conheceu, aprendeu e experimentou na sociedade onde está inserida?

E o Amor?... palavra tão próxima com realidade tão distante... Faz esse sentimento parte do Livre-arbítrio?; ou é só um mero, este sim, atributo da alma humana?

Dizem que religião, política e futebol não se discutem... talvez porque o assunto acabe em briga por causa do tal do livre-arbítrio... O ser humano tem a mania de escolher o que pensar e decidir por algum tipo de conclusão para responder ou agir em conseqüência... segundo sua visão, quase sempre sem olhar todos os lados da questão.

Em nenhum lugar o tal do “livre-arbítrio” se vê tão claramente como no futebol... especialmente neste mês de Copa do Mundo... Mas vou poupar um pouco o teclado dos meus dedos e a você, leitor, a maçada de me ler. Recuso-me a tomar parte e fujo de qualquer discussão a respeito da bola. São absolutamente enfadonhas, desprovidas de sentido.

Nunca encontrei nada de extraordinário – ou divertido – em assistir a quarenta e quatro bolas correndo atrás de uma. Futebol não faz parte do meu cardápio de entretenimentos caseiros; muito menos ao ar-livre enfiado num estádio cercado por afluências de suores e fedentinas irrespiráveis.

Falar de bola jamais leva a remate algum. É um beco sem saída onde prolifera a discórdia dos diferentes livres-arbítrios... onde não há árbitros. Todos têm opinião formada, por mais absurda que seja, e os técnicos das equipes, as deles; as quais, sequer comportam a dos polemizadores que passam horas chovendo no molhado ao estilo Juca Kfouri e seus caninos vampirescos. Para quê?

Falar sobre futebol em nada contribui para o aprendizado do indivíduo. Isso penso. Em nada acresce ou decresce, quanto mais não seja permitir ao indivíduo exercer o seu livre-arbítrio para tergiversar sobre um tema que julga entender, mas na verdade não entende... porque nada há para entender.

O que há para entender em ver 44 bolas correndo atrás de uma ao som da voz de um Galvão Bueno grasnando as mais absurdas nescidades?

Qualquer discussão sobre esse esporte enfadonho requer uma vassoura para juntar o que foi dito a ver se restou algo a aproveitar. No entanto, reconheço, o assunto é um nivelador de massas e de classes sociais, cujo propósito, outro não vejo, senão induzir os menos ilustrados, os desprovidos de inteligência, a conversarem sobre alguma coisa enquanto vêem o tempo passar... permitindo-lhes a fantasia de se convencerem a si próprios que alguma capacidade têm para raciocinar... e exercer o seu livre-arbítrio.

Algo como acontece agora na África do Sul onde mais de um quarto da população negra está sendo devastada pela AIDS e ninguém teve o livre-arbítrio de usar os milhões gastos na construção de estádios para proporcionar melhores condições de vida a esses desgraçados.

No exercício pleno do tal do livre-arbítrio preferem olhar para as bolas, continuarem a morrer de fome e de AIDS e dar ora-bolas à tragédia humana em que se conspurcam... como fazem igualmente os brasileiros.

Que coisa estranha esse tal do Livre-arbítrio. Deus não foi certamente quem o deu. Se o tivesse dado teria impedido o ser humano de ter vícios. E o Homem, na sua essência, é um ser devasso, preso a dogmas, leis e preconceitos.

Arbítrio significa resolução que depende só da vontade do indivíduo. Livre arbítrio determina a decisão livre, a predição dessa vontade livre, consciente e sem vícios.

Livre-arbítrio, portanto, é só outra palavra inventada pelo homem para justificar vaidades, ambições, cobiças, genocídios e, principalmente para tirar de cima de si a culpa pelos erros cometidos, porque Deus lhe “deu” livre-arbítrio...


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