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quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Vínculos da Liberdade

No livro, “Raízes do Brasil”, escrito por Sérgio Buarque de Holanda li que nós Brasileiros somos puro coração, movidos por impulsos e submetidos a relações familiares e pessoais. Não nos importamos com as regras impessoais, válidas para todos, as quais, conseqüentemente, são os fundamentos da liberdade, alicerces da democracia.... bases das empresas bem sucedidas...

Diante desta afirmação, seria presunção minha adotar a atitude de Heráclito que costumava chorar diante das conjeturas da vida e das coisas que realçam o conhecimento humano, e dizer: – “Se tudo se torna tudo, cada coisa contêm em si o que nega”. – Não! O supremo pecado é a superficialidade.

Neste sexto ano, do novo milênio, nesta idade extraordinária da comunicação instantânea, da globalização, do neoliberalismo, das esquerdas sem rumo, quando até a ingenuidade procura ostentar-se com certa liberdade e representa força expressiva na arte, na música, na pintura e na poesia, não é de assustar a ninguém que a humildade também apresente o seu toque de exibicionismo e seja a favor da liberdade ampla, sem peias ou dogmas. – Não obstante, é possível ignorar inteiramente todas as formas que a arte pode assumir em suas diversas manifestações ou os processos de evolução do pensamento e, ainda assim, estar cheio da mais meiga sabedoria.

A humildade ensina que há uma diferença muito grande entre os humildes e os humilhados: – as humilhações devem ser repelidas, por desumanas, mas a humildade deve ser cultivada como atributo do Criador à criatura. – A moderação e a reflexão são as maiores virtudes de um cidadão.

Dizem os especialistas que a suprema virtude dos gregos era a beleza; a dos germanos, a fidelidade; a dos persas, a coragem. — A liberdade não é suprema virtude de ninguém, mas de todos; tem amplitude e caráter universal. – Há uma grande diferença entre aqueles a quem Deus julga livres e aqueles que parecem livres aos olhos dos homens.

O mundo inteiro clama por liberdade: — uns pedem que ela abra as suas asas sobre nós; outros a vêem apenas simbolizada numa estátua ou nas asas de uma pomba branca esvoaçando no infinito do céu... Finalmente, alguns crêem na liberdade que não depende de asas, nem é símbolo, porque se traduz em mensagem viva, seja de amor, seja de sabedoria ou de trabalho.

O que importa é possuí-la sem limitações; saber usá-la com moderação para não perdê-la. Que adianta, por exemplo, ser dono da liberdade e abusar de sua posse? Será um crime de castigo ainda imprevisto o homem não ter capacidade de resguardá-la no cenário de sua vida, na comunidade de sua gente. Torná-la desacreditada é uma ignomínia.

Hoje, o mundo inteiro volta-se para a tecnologia, tentando o aperfeiçoamento de sistemas, aprendendo a produzir mais e melhor, em favor de um maior número de pessoas ou entidades, sem distinções ou preconceitos. Logo, posso afirmar: — o homem vale atualmente, mais pelo que produz que pelo que sabe.

Se o homem vale mais pelo que faz que pelo que ele sabe, precisará sempre de saber mais para fazer melhor. Necessitará mais liberdade para dar maior expansão ao seu espírito criativo. – O saber com liberdade deve estar a serviço do trabalho com método. O trabalho não pode prescindir da orientação do saber. Quando o cérebro falta, os braços não têm valor; quando o homem não raciocina, o seu trabalho não tem consistência... a sua obra não tem durabilidade.

Para que o homem seja livre, para que a sua passagem terrena se torne justificável, ele precisa produzir. Para produzir é necessário que haja motivação. Uma motivação é sempre um objetivo intelectual. Apetites não são motivação. Um homem, cujo objetivo seja tornar-se diretor ou presidente de sindicato, amanhã membro de um clube de elite, depois parlamentar de um governo ou até presidente da nação, sempre consegue realizá-lo; e esse é o seu castigo; aqueles que sonham com uma máscara são condenados a usá-la.... pela falta de motivação intelectual... por não entenderem a liberdade... por possuírem, tão somente, apetites!

Quando se trata das forças dinâmicas da vida e daqueles que as personificam, tudo se torna mais difícil. As pessoas que desejam apenas atingir a auto-realização, sem possuírem a liberdade para tal, jamais sabem para onde estão indo. Nem podem sabê-lo. Num certo sentido, os psiquiatras têm razão quando afirmam que o importante é conhecer-se a sim mesmo. Essa é a primeira meta do conhecimento livre. Mas reconhecer que a alma do homem é incognoscível é o objetivo supremo da sabedoria. O mistério final somos nós mesmos. Quando tivermos conseguido superar todos os obstáculos, contar todos os nossos pecados, perdoar todos que nos ofenderam, ainda restaremos nós. Quem pode calcular a trajetória da própria alma?

Façamos, pois, com que a liberdade tenha o fulgor de astro nas mãos do um justo e não o brilho da espada da incompetência, empunhada por um iletrado.


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