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sexta-feira, 23 de maio de 2008

No Supermercado EXTRA-Morumbi – São Paulo.

Se há algo que detesto na vida é fazer compras num supermercado nacional. 

No Nordeste, não quero nem lembrar. Lá, tenho a sensação que estou na África. E isso não é frescura nem preconceito. Aliás, tem determinados supermercados na África, especialmente em países no sul desse continente onde é possível adquirir produtos de melhor qualidade e muito mais baratos que no Brasil. 

Muitos desses produtos, pasmem, são brasileiros. 

Para que conste, adoro ir a supermercados nos Estados Unidos; até na Europa onde são meio acanhados e... mais baratos que em São Paulo.

Como estou de passagem nesta cidade, em casa de uns familiares, quis presenteá-los com uma das minhas especialidades culinárias. 


Gosto de cozinhar. 

Acho que é um dos melhores “hobbies” que se pode ter para clarear o pensamento ou até para encontrar respostas a perguntas inquietantes. Deve ser por isso que as donas de casa têm um discernimento acuradíssimo dos problemas do mundo e raro não é, saem-se com alguma idéia extraordinária.

Pois bem, antes do feriado lá fui eu ao Supermercado. 


Escolhi o Extra Morumbi, à beira da Marginal Pinheiros; onde antes existia o extinto Paes Mendonça de tantas boas recordações. 

Uma hora lá dentro e saio com duas garrafas de azeite italiano, uma de vinagre e uma tablete de chocolate meio amargo para acalmar o desespero, a minha irritação e a vontade de correr para o aeroporto e sair desabalado deste infausto “paíf”. 

A cebola parecia ter sido rolada pelo asfalto, desde o produtor até à banca onde estava. Tinha até manchas pretas. De piche, seguramente. Nem me atrevi a tocá-las de tanto que fediam. 

As cabeças de alho há muito haviam perdido o frescor e, tísicas, se não secas, amontoavam-se para as mãos de várias pessoas que as esfarelavam entre os dedos, numa vontade férrea de aproveitar alguns poucos dentes com que pudessem temperar o feijão do feriado. 

As bananas ofereciam apenas duas opções: demasiado maduras, quase podres ou muitos verdes. 

O louro, manjericão, salsa, aipo, cebolinha e coentro, não tinham cheiro. Folhas desmaiadas e apertadas em cones de celofane foi o que encontrei. 

No setor de frios a má vontade imperava e a qualidade “Sadia” transbordava por todos os lados. 

Alguém já agarrou uma fatia de presunto Sadia gordo com os dedos e depois os cheirou? Experimentem. Para presunto, o cheiro de frango depenado vai deliciá-los.

A propósito, falando de Sadia ou até da Perdigão ou de qualquer outra marca de frios, cuja produção nacional é comercializada neste “paíf”, vocês sabem qual a diferença entre o tal salaminho, tipo italiano, e o salame hamburguês que essas empresas fabricam? 


A diferença está na quantidade de vezes que a mesma mistura de carnes é moída para alterar o aspecto e na essência química que é adicionada para diferenciar o sabor de um em relação ao outro.

Mas no setor de frios eu não quis comprar nenhum frio, para não entrar em fria. Desejava apenas um bom pedaço de queijo parmesão e algumas gramas de presunto parma. O “faixa azul”, de origem argentina foi o melhor que me ofereceram. Não gosto. É demasiado salgado, embora faça a delícia do paladar nacional. Deus me livre! Quanto ao presunto? Jamais compro presunto cru Sadia.

Há uns anos atrás, pouco antes de deixar o Brasil esse mesmo supermercado, lembrava eu, possuía uma variedade enorme de produtos importados, de ótima qualidade. 


Que nada! Não foi só a política ou as pessoas que pioraram no “paíf”. Os produtos também. A qualidade foi junto. Um deles que me entristece é o queijo Gouda Campolindo. 

O que me deliciou no passado, hoje não passa de uma amálgama farinhenta, dura e ressecada. Isso, porque mandei abrir uma peça. Recuso a imaginar o que será um pedaço cortado com dois ou três dias. De igual modo não quero nem pensar num Brasil com mais quatro anos de peteístas analfabetos e ladrões.

Jamais em Supermercado algum havia visto um setor de frutas como vi no Extra-Morumbi. Pêras quase podres, maçãs aguadas, uvas azedas e amassadas... 


Os tomates pareciam recém chegados do festival da tomatada de Zaragoza, na Espanha, após terem servido de morteiros na estupidez que lá se realiza. 

Os pepinos estavam ali, provavelmente porque os sacolões de periferia os haviam recusado. 

Na seção dos pimentões quase enxuguei uma lágrima ao vê-los murchos, tortos e enrugados, embora a tabuleta, para os amarelos, exibisse orgulhosa os R$ 8,00 por quilo.

Alguém já teve o cuidado de cheirar essas frutas ou legumes que vendem no Extra-Morumbi? Eu já. Nesse dia. Quase enfartei. Cheiram a nada e se algum odor exalam, é a podre pelo contato que tiveram na caixa com outras mais apodrecidas ou então a amônia como um buquê de fundo, pela quantidade de agrotóxicos que recebem. 


É uma vergonha!

Furioso, chamei o gerente para reclamar. Diante de mim surgiu uma criatura insólita, baixinha, gordinha com um bigode farto à Emiliano Zapata. Não medi, porém, tenho quase certeza que a proporcionalidade dos pêlos ultrapassava a altura do indivíduo. 


Menos mal que não trazia pistolas. Seu nome é Wallace, com dois ‘L’. 

Disse-me o Wallace depois de ouvir-me com aquela atenção que os baixinhos dedicam aos mais altos que eles: – “Impossível que a qualidade esteja tão ruim! Temos uma empresa terceirizada que se encarrega de zelar pela qualidade.” 

Diante dessas palavras pedi-lhe que me acompanhasse ao setor. Lá, meio que aparvalhado, incapaz de negar aquela podridão como o havia feito com as minhas palavras no balcão de entrada, diz-me o Wallace: – “lamento que a qualidade não esteja do seu gosto. Esta loja, [a dele, Extra-Morumbi], é a que mais vende de toda a rede e nunca tivemos qualquer reclamação”.

Pronto. O Wallace havia dito tudo o que eu precisava ouvir. 


Se aquela era a qualidade que os clientes dali queriam e não reclamavam, porque era fiscalizada por uma empresa terceirizada, só pude concluir que o errado era eu. 

Felizmente não moro mais no Brasil nem sou igualmente obrigado a aceitar esse tipo de empulhação nem acreditar que as pessoas se sujeitem a comer e a pagar caro pelos restos que nem para sacolão servem. 

Se as pessoas que vi debulhando alhos secos para encontrarem uns poucos dentes para o arroz do dia não reclamam, mal fiz eu em reclamar.

Obviamente não voltarei ao Extra. Com a mesma ênfase recomendarei a todos que conheço e que venham ao Brasil para não fazerem compras na rede Extra de supermercados. 


Se a unidade do Morumbi é a que mais vende da rede, apesar da porcaria lá exposta, deduzo que as unidades de periferia ou dos bairros menos privilegiados a situação seja ainda pior. 

É de fazer as pedras chorarem.

Como as pessoas que freqüentam o Extra-Morumbi se sujeitam àquilo é algo que não me entra na cabeça. Também não consigo entender como esse ser infecto chamado Lula continua na presidência. Enfim, como diz um amigo meu, por não conseguir compreender tais peculiaridades nacionais, sou demasiado burro e por causa disso fui morar em outro país, este com ‘S’, obviamente.

Ainda bem que existe o Santa Luzia na avenida Lorena. Caro pra caramba. Mas como dizia o meu pai, as coisas não custam caro; nós é que ganhamos pouco. 


E foi lá onde comprei, aí sim, de boa qualidade, o que precisava para fazer uma dúzia de medalhões recheados com presunto de Parma e sálvia, cobertos com molho de açafrão. Para acompanhar fiz um modesto linguini com shiitake, os quais, para meu infortúnio e enorme cansaço, tive de comprar numa loja japonesa, no bairro da Liberdade.

Sabem quando vou cozinhar novamente no Brasil? 

No dia que me esquecer como é esta cidade ou se alguém se prontificar a percorrê-la para comprar o que quero, na qualidade que necessito. 

No supermercado Extra, seja em que unidade for, é claro, não entrarei.


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