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domingo, 27 de julho de 2008

Animal de costumes

No Brasil, algo que se repita duas vezes vira logo tradição. O povo deu para pronunciar mal as palavras. É o costume. Assim me disse outro dia um ex-conterrâneo. Assim se fala no Brasil? Desde quando, mané?

Paulo Maluf é candidato à Prefeitura de São Paulo com 9% de intenções de votos. É o costume! Não importa se o homem é um dos maiores larápios do erário público. É o costume. Afinal, como de costume, foi julgado, condenado, mas ainda cabe recurso. Ele tem um eleitorado cativo; rotineiramente vota nele. É o hábito, fazer o quê?

Marta Suplicy, a “martaxa”, a rainha do botox, a protetora dos pederastas, também é candidata à mesma Prefeitura; com 35% de intenção de votos. 


É o costume. 

Também foi condenada a devolver o que roubou, mas ainda cabe recurso. Não importa se esta mulher, que da ética sobraram-lhe as penas, proporcionou um dos desfalques mais pusilânimes à maior cidade do Brasil. 

É o costume.

No Brasil é costume que a escória do seu povo seja eleita para governá-lo. O povo reclama da escória que elege. 


É o costume!

Candidatos a Prefeito são reprovados num ditado de uma só frase. É o costume. O presidente do PSL diz que foi nervosismo da prova. É o costume. Vão se candidatar assim mesmo. Não importa se a Constituição Federal proíbe candidatos analfabetos. O Lula foi eleito, não foi? 


É o costume; eleger analfabetos e desrespeitar a lei.

Lá na roça onde eu nasci havia um burro. Um jumento. Um verdadeiro equus asinus com pedigree e tudo o mais. Foi presente do meu avô para me poupar dos dez quilômetros, a pé descalço, até à escola.

Com sol de inferno ou chuva diluviana, todos os dias fazíamos o mesmo caminho por entre a malesa rasteira da mata. Adorava cruzar o rio no lombo do “Brasil”; assim se chamava o jumento batizado pelo meu avô. Na época eu o chamava de “Brasiu”. 


Sentia-me um verdadeiro John Wayne cruzando o Rio Bravo atrás dos fora-da-lei.

O outro lado do Rio imaginava-o como se fosse o México. Assim me parecia. Ainda não conhecia a terra de Cuauhtemoc. A pobreza, a miséria e até o vento assemelhavam-se aos cenários dos filmes americanos. O meu avô comprava-os dos mascates e eu os assistia centenas de vezes. 


Tinha até um chapéu de palha ao estilo do John Wayne e uma sela feita de mantas com duas cordas penduradas a cada lado que eu imaginava serem de couro com estribos de ferro.

Um belo dia, um banqueiro, depois governador, decidiu construir uma estrada. Quis ligar a sua fazenda à cidadezinha. Sem qualquer pejo mandou aplainar a terra por conta do município. Parte da estrada cruzava exatamente uma faixa da roça onde eu havia nascido. Nunca pediu autorização nem indenizou. 


O meu avô morreu numa certa manhã de chuva, atropelado, ao lado da barricada que ele mesmo havia posto no meio dessa parte da estrada. Por ela só passavam os carros do então, na época, candidato a governador. 

A polícia “nunca” descobriu o autor desse estranho acidente de trânsito. Nem quem botou fogo nos caixotes. Os peões que viram a tragédia, disseram que não viram. E nem eram cegos. Bem típico de brasileiro que é macho só pra bater na mulher ou em grupo quando o adversário está desacompanhado e é mais fraco. É o costume!

O nome do banqueiro que foi governador, ministro e safado, era José de Magalhães Pinto; o mesmo que, após o Golpe militar de 1964, teve a sua fortuna multiplicada não sei quantas vezes ao criar o Banco Nacional S/A.

Passada a tristeza do assassinato do meu avô, certo dia, valentemente, no lombo do meu “Brasiu”, tentei percorrer a tal estrada a caminho da escola. Quem disse que o jumento quis ir por ela? Por mais ordens ou incentivos que lhe desse, recusou-se. 


O meu Bucéfalo mineiro só aceitava levar-me pelo trajeto que se habituou a percorrer. 

Tinha esse costume.


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