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quinta-feira, 31 de julho de 2008

A imprensa brasileira

No Brasil preferem o termo “mídia” quando à imprensa se referem. 

Para quem não recorda, essa palavra é um regionalismo tipicamente brasileiro. 

Até certo ponto faz sentido. Do quarto “poder” tupiniquim apenas se pode obter uma "média" ou então, “meio de comunicação”.

Quanto ao seu significado, o dicionário Houaiss enuncia que “mídia” é “todo suporte de difusão da informação que constitui um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; meios de comunicação social de massas não diretamente interpessoais (como as conversas, diálogos públicos e privados)”.

Abrangem esses meios o rádio, o cinema, a televisão, a escrita impressa em livros, revistas, boletins, jornais, Internet, vídeos e CD-Rom, os satélites de comunicações e, de um modo geral, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação em que se incluem também as diversas telefonias.

Em outras palavras: a imprensa brasileira, quando a si mesmo se refere, opta por usar um coletivo indefinido, como uma espécie de eufemismo dissimulado para aliviar a má fama que tem. Mistura o joio no meio do trigo... Ou será que é o contrário? Ou é tudo joio e não existe trigo?

Eis alguns adjetivos que são atribuídos à imprensa brasileira: - polêmica; contraditória; ilógica; superficial; mentirosa, corporativista; sem qualidade; venal; corrupta...

O maior grupo de “mídia” do Brasil, comandado pela família Roberto Marinho, há coisa de três ou quatro anos introduziu os termos “pluralidade” e “contraditório” no seu linguajar diário; para disfarçar os adjetivos acima e poder exercê-los em todo o seu esplendor e significado; sem parecer como tal. Rapidamente, as demais “mídias” copiaram. Até as empresas o fizeram.

Se determinado programa ou “profissional midiático” é acusado de tendencioso ou revela mau caráter, o “espaço ao contraditório” evidencia a postura e implícito está que é justificada. Se esse mesmo programa, jornal ou rádio tem fama de “corporativista”, “venal” ou “corrupto, nada mais é do que uma demonstração de “pluralidade”.

Mariza Tavares, diretora executiva da Rádio CBN, escreveu-me outro dia para afirmar que o norte do jornalismo da CBN é apresentar os fatos com isenção, abrir espaço para a pluralidade e compartilhar com os ouvintes as análises dos especialistas. Eu tive que rir. Para jornalista, Mariza Tavares é uma poetisa muito sensual.

A rede Bandeirantes de televisão quando demitiu Paulo Henrique Amorim, por pressão do governo FHC et caterva, igualmente deu uma demonstração cabal de "pluralidade" extraordinária.

A TV Record, ídem, ao demitir Boris Casoy a mando do Governo corrupto comandado pelo Lula.

As qualificações atribuídas à “mídia” são o reflexo do mal-estar público em relação à manipulação informativa com que os fatos são transmitidos. E são patentes. E são muitos. Tão claros e visíveis, falta alguma faz descortiná-los. Porém, tal como prostituta assumida, os "midiáticos" dizem: – E daí?

Daí? Daí nada! As ações ficam pra quem as faz. Em vez de Quarto Poder, na verdade a imprensa brasileira nada mais é hoje do que uma espécie de apêndice do governo e do empresariado. Um moço de recados; às vezes pintor de rodapé. 


A pequena estatura pra outra coisa não serve. 

Em determinadas ocasiões fica histérica; cria um ou outro reboliço, mas logo três ou quatro páginas de anúncios do governo a deixam calma e contemporizadora. Não nos esqueçamos que a maioria dos jornais está quase falida e as redes de televisão pública empapadas em dívidas.

Diante dessa afirmação, uns três ou quatro jornalistas sérios que conheço disseram-me certa vez: “Fazemos o que se pode e o que as verbas publicitárias do governo permitem. A criançada precisa trocar de Ipod”. Todos eles deram um jeito de se tornarem correspondentes no exterior e esperam alegremente que a aposentadoria os abrace.

Quem não se lembra da revista Carta Capital e do seu editor chefe Mino Carta quando este se referia ao Lula? Amiúde ultrapassava o beiral da deselegância; retratava-o tal como é. O Lula assumiu o governo e deixou de ter defeitos. 


Coincidentemente, 70% da receita publicitária da revista, que estava à beira da falência, passou a ser abastecida pelas diferentes empresas estatais. Predominaram Petrobrás e Banco do Brasil. Hoje, a mesma revista e o seu editor apresentam nas entrelinhas das suas matérias a mensagem de que existe um Deus no céu; o Seu enviado, o Lula, na terra, é homem impoluto, vítima dos meios “midiáticos”.

Ricardo Noblat é um outro dos muitos exemplos atuais. Do ostracismo profissional reinventou-se a si mesmo através de um Blog Político. Tal foi o êxito que, em pouco tempo, chegou a ter o seu blog apontado ao prêmio do mais acessado de todos os Blogs da Internet mundial. 


Eu mesmo, que descrente sou de tais arroubos, aplaudi-o entusiasmado. Sem o conhecer, tive até um dos meus artigos gentilmente publicados por ele. Cheguei a oferecer-lhe, por escrito, apoio financeiro; até a disposição pessoal de levantar fundos para que continuasse o excelente trabalho que realizava. 

Ele não aceitou e hoje me alegro aliviado. Sou-lhe grato por ter-me evitado um erro enorme.

Ricardo Noblat é atualmente empregado do Grupo Roberto Marinho e tem até coluna no Jornal O Globo. 


Pequena, mas tem. 

Duvido que o seu blog seja escolhido para alguma premiação honesta ou que desperte vontade de ser lido mensalmente como a diário o era há dois ou três anos atrás. Quem quiser relembrar a mudança “pluralista” do Noblat basta clicar «aqui» para reler um artigo dele que há meses transcrevi neste espaço.

A diferença fundamental entre o bom e o mau jornalismo é que o bom não promete nada, mas assegura, investiga, revela e conclui. O mau jornalismo promete tudo, mas não cumpre nada; vive de manchetes e no final é uma grande decepção.

A estas duas “mídias” anteriores poderia acrescentar nomes como os de Marlon Brum, Lúcia Hippolito, Eliane Cantanhêde, Gilberto Dimenstein, o rei da hipocrisia, Alexandre Freeland do Jornal O Dia, e tantos outros que ficaria aqui o dia inteiro só para relacioná-los. Não merecem mais, sequer, serem mencionados.

Pouco antes de sair do Brasil cheguei à conclusão que ninguém, em sã consciência, consegue entender a complexa e impenetrável técnica do jornalismo brasileiro, exceto, claro, os próprios jornalistas, os supostos donos de cada setor da “mídia” e suas empulhações obscuras. 


Tampouco decifrar o que é uma matéria positiva ou negativa nas coberturas políticas do dia a dia. Isto quem o diz não sou eu e sim o sr. Rodolfo Fernandes, diretor de redação do Jornal o Globo. 

Por esta declaração precisa e inteligente, dá para sentir o clima da “mídia” brasileira. Não é quente nem frio, nem mormo. Muito pelo contrário.

A imprensa brasileira, habitualmente estrábica e conspurcada só ataca o que lhe interessa; quase sempre com objetivos velados e nunca conclusivos. Não tem noção real da responsabilidade cívico-social que lhe é inerente para que o Brasil se torne, efetivamente, de fato, um país democrático.

Mendonça Neto escreveu certa vez “A liberdade de imprensa e a coragem de quem escreve em dizer a verdade, são as armas de que dispõem o povo e a sociedade para não serem esmagados”. – O povo brasileiro já foi aniquilado há muito tempo. A “mídia” nacional como um todo, salvo duas ou três honrosas exceções, contribuiu e contribui vilmente para esse esmagamento.

Boris Casoy, Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg são as honrosas e mui dignas exceções.

Mendonça Neto previu também: – “Sem o direito de reagir, publicamente, pela imprensa, restaria aos brasileiros a humilhação de um silêncio depressivo e mortal”. – Com estas palavras e com a qualidade de “mídia” que existe no Brasil é fácil entender a mudez nacional. 

A apatia com a qual o povo encara as mortes aos milhares, os roubos de milhões, as mentiras nojentas do presidente da república, os assaltos, os seqüestros, os tiroteios, a ignorância dos professores, os aumentos injustificados dos alimentos e a corrupção endêmica e sistêmica que permeia todos os setores da vida pública e privada do país.


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