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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

8 – Amor embrulhado

Não importa o que a gente diz ou escreve, querida. Importa sim, repara que te chamo de querida, se o que a gente diz ou escreve é compreendido e absorvido por quem escuta ou lê. E tu me lês, embora não escutas...

Mas lembras da canção?


"Foi pensando em você, que aprendi a fingir que não via
Não ouvindo o adeus que dizia, que passava da hora do fim
Foi pensando em você, que engoli o orgulho que eu tinha
Na ilusão que você era minha, era eu que mentia pra mim
".
Não importa!

Por isso, queria pedir-te que me ames menos, mas sei que não posso. Queria mesmo ter-te mais... Sei que também não posso. Se ainda... Não! Não derrames as lágrimas que tens... pensando em mim; nem pelo que um dia fostes para mim. O nosso tempo esgotou-se; o que resta não podemos perdê-lo, esperando que um vá ao outro. Não vamos. Não podemos mais. Criou-se um vazio. A chuva que molhava a semente apenas salpica o leito seco do rio.

Também não importa!

Nós temos tudo. Amigos, bons amigos. Muitos amigos e amigas. Até o aplauso da vida. Eu tenho também, vê só, o sangue que escorre da ferida. E a doida da sorte não sai da minha frente.

Não importa!

Em algum ponto da nossa travessia tornei-me uma alma descrente; incapaz de ver na nossa ventura a minha própria ou a tua. Chama-me de covarde outra vez, mas és tu que vives só para ti... e os filhos teus? Não vês? E eu não tenho os meus?

Não importa!

Quando olho para os teus e-mails fico tonto; perdido em redemoinhos de pensamentos. Sou incapaz de transformá-los em palavras. Então não respondo. Já não sei o que fazer para te mostrar que o amor é algo mais; muito mais do que sonhar; do que cobrar... do que mentir.

E isso importa?

E tu acreditas no amor? Engraçado. Sem sentir, um dia eu também acreditei... Mas ele prometeu-me mais daquilo que podia dar. Ou foste tu que prometeste? Já não sei. Vês como me pões? Sinto-me confuso e nem sei as palavras que uso.

Se já não te amo? Talvez!

Que importa!

Lembras da vez como pedi ao vento que nos envolvesse; ao céu que não escurecesse... Nós dois pedimos ao sol que sempre brilhasse para que o nosso amor não morresse. Tu me pediste que sorrisse; que sempre te amasse; que nunca partisse. Muda, no breu da noite, foste tu que partiste.

Tampouco importa!

Sob um manto de estrelas, tremendo de frio, no meio do canteiro que destruíste, procurei pelo rastro do teu passo... Para saber aonde havias ido... Pelas ruas caminhei cansado, estendendo a mão ao frio pérfido e afável... do teu perfume que me perdia por entre as vielas. No meio delas, não me saías do pensamento. Voltei a suplicar ao vento para que te encontrasse; que te descobrisse só para que eu te abraçasse...

Não importa...

Olho agora para o chão que tocaste e me lembrei de como vivia eu pelo ar à procura de uma brecha para no teu peito entrar... apesar da traição.

Muito menos importa!

Claro que não sou de vidro, nem água, nem ar. Por dentro sou alma e por fora sou gente! Embora use laço, não sou presente.

Isso sim, importa!


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