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sábado, 14 de junho de 2008

Adão e Eva

Ainda estou na sala de embarque. O vôo está atrasado. Outra vez. 

Não sei o que acontece. Tampouco me importa. 

Na fila de cadeiras à minha frente tem um casal verdadeiramente apaixonado. Daqui a pouco os seios dela vão virar purê. 

Ou será que devo dizer “pirê”, como falam por aqui? 

No perna pra cá, perna pra lá; mão aqui, mão acolá, já vi a calcinha da moça umas duas ou três vezes. É branca com algum tipo de florzinha, cujos detalhes passaram desapercebidos. 

Acho que o casal não teve tempo de amassos antes de vir para o aeroporto. 

Ou, quem sabe, os de antes ficaram incompletos para serem finalizados justo diante de mim? 

No dedo dela tem uma aliança; no dele também. Se são recém-casados, a aliança brilha demais, leva-me a outros pensamentos...

Hoje em dia, as pessoas casam-se mais na busca utópica de um futuro tranqüilo, do que propriamente para exaltação de um sentimento chamado amor. O casal na minha frente contraria essa afirmação. 


Acabo de ver a calcinha outra vez.

Nos séculos passados, raros eram as uniões realizadas em nome dessa afeição sublimada entre duas pessoas. A mulher era vendida pelo pai a uma outra família para uma união, cujos interesses políticos ou situacionais, resultassem em benefícios de ambas. Na minha frente acho que nada disso aconteceu.

Em princípios do século vinte e até aos anos setenta, suportavam-se situações degradantes, em nome da moral e dos bons costumes. O divórcio era um ato abominável, repudiado por toda a sociedade. 


Os amassos também. 

A sede incontrolável do homem em dominar tudo à sua volta fez criar conceitos inescrupulosos sobre a mulher. Se falarem mal da moça à minha frente, ela não poderá reclamar. 

A ciência nunca conseguiu explicar, claramente, essa atitude genética entranhada no bicho homem. Talvez, porque a maioria dos cientistas são homens e só recentemente, a mulher ganhou a pulso o direito de entrar nesses círculos masculinos. 

Quem sabe, num futuro ainda distante, isso possa ser esclarecido e eu não fique envergonhado com a mão dele entre as pernas dela, justo neste momento.

Um amigo meu defende uma teoria muito interessante a respeito. 


Diz ele que esse domínio masculino sobre a mulher provém de uma vingança milenar trazida desde Adão; por causa da maçã da Eva, ele havia sido privado da boa vida, do “dolce far niente” do Paraíso. 

Esse ódio transformou-se num fator genético passado de geração em geração. Por isso, os homens foram subjugando as mulheres em todos os seus aspectos. Primeiro classificaram-nas de “apenas fêmeas reprodutoras”. 

Depois de “rainhas do lar”. 

Muitos séculos mais tarde, quando algumas, contra tudo e todos, decidiram trabalhar, inventaram a profissão, “doméstica”, para diferenciar as independentes, as mundanas, daquelas que teoricamente valorizavam, as “domesticadas”. 

Assim criaram dois tipos de castas femininas: As domesticadas e as rebeldes; estas últimas com quem procediam e ainda procedem com os assédios vários e desrespeitos mil. 

Quando se deram conta que as “domesticadas” não eram assim tão mansas, numa tentativa de manter vantagem sobre elas, mudaram a profissão para “do Lar” ou “dona de casa”, tomando o cuidado na preposição “de” e não “da casa”. 

Afinal, com esse pequeno eufemismo disfarçaram em nome de quem estava a escritura. Desta forma, permitiam-lhes trabalhos de meio expediente sem perder o controle.

Por sua vez a Eva, cheia de remorsos por ter-se deixado convencer pela cobra, também gerou um gene transmitido a todas as gerações futuras de mulheres. O da aceitação e submissão plena da vontade masculina; a anuência irrestrita da sua condição de reprodutora.

A própria Bíblia no seu Livro dos Gênesis relata, sem qualquer impedimento, a relação incestuosa de Lót, o sobrinho de Abraão, com as filhas depois de terem fugido da destruição de Sodoma e Gomorra. 


Afinal a reprodução da espécie estava em jogo; se existem mulheres por perto, pouco importa o grau de parentesco, elas têm de reproduzir... Aliás, elas fazem questão de reproduzir... 

O casal na minha frente, acho que não.

Escrita por homens, esta narração representa uma prova da deturpação mental masculina em relação à mulher e do domínio ferruginoso exercido sobre ela. 


Aliás, sempre tendo a mulher como uma máquina reprodutora, esse livro histórico, sem perder os méritos intrínsecos e religiosos que possuiu, tende a ser um tratado de relações entre os diferentes personagens dominantes: o homem sobre a mulher. 

Na minha frente parece-me que ocorre o contrário. 

A necessidade constante do prazer masculino e da sua necessidade de auto-afirmação leva o homem a criar situações esdrúxulas e aberrantes em prol desse deleite e da justificação cabal da exigência em satisfazer-se fisiologicamente. 

Será?

Cientistas do passado chegaram a provar que a mulher não sentia prazer no ato sexual. Milhões de mulheres acreditaram e ainda crêem nisso. 


Ainda hoje, alguns povos praticam a infibulação. Ou então, cortam o clitóris da mulher simplesmente, para que estas se dediquem ao seu papel principal, vendando-lhes qualquer tipo de sensação. 

Waris Dirie, a super modelo internacional e tantas mulheres do mundo, estão aí para demonstrar a realidade da estupidez masculina e a subserviência “burra” das mulheres.

Contudo, aparentemente ao longo dos séculos, algo fez com que se criassem anticorpos contra esses genes nocivos. 


Talvez tenha sido a preguiça inerente no homem, diz esse amigo meu, a causa para a abertura e concessão de algumas liberdades femininas. 

Obviamente, o ativismo peculiar da mulher permitiu-lhe aproveitar essas pequenas frestas de liberdade. 

Vieram os decotes, os estudos escolares, a mini saia, o aborto, o divórcio, a capacitação profissional e, ultimamente, o comando de empresas; muitas delas passaram efetivamente a serem “donas da casa” e da fila de cadeiras à minha frente. 

As pessoas ao lado levantaram-se incomodadas.

Vocês já imaginaram como o mundo teria sido diferente, se tivessem sido as mulheres a escrever o Antigo Testamento ou o Alcorão, apenas para citar dois livros famosos que modificaram a face do ser humano? 

Sacanagens como as que se desenrolam na minha frente seriam uma maravilha e não inspiração para esta crônica enquanto espero pelo embarque.

Um Pensamento na Sala de Embarque.

Enquanto espero o sinal de embarque para sair do Brasil deu-me para imaginar como serão os adultos amanhã; os que vivem a presente adolescência regida pela mão petista com batuta do Lula. 

Tempos sombrios se avizinham.

O meu avô dizia sempre que quem pensa que sabe o que vai na cabeça de uma mulher, não sabe de nada. 


Era um sábio. 

Tomara que sejam as mulheres o futuro real deste país. Quem sabe a ética retorna e o civismo finca residência. 

Que elas consigam maravilhar-nos de maneira extraordinária como a maioria o faz. 

Não as Dilmas Rousseff ou Martaxas, por suposto. Estas não surpreendem. Atormentam! Ambas são piores que vinte Lulas e dez Zé Dirceus juntos. Infelizmente! 

Por mais créditos comprovados que se dêem às mulheres, estas duas envergonham a classe. Para algumas o passado é só um contratempo. Isso é absolutamente lastimável.

Nestes dias de férias descobri que viver no Brasil causa-me raiva. Paradoxalmente, amplia a minha visão. 


Dou-me conta que, enquanto aqui morei, sofri de uma extraordinária falta de vista. 

Há coisa de uma ou duas semanas, por exemplo, reparei que as pessoas falam errado. Creio já ter mencionado isso numa das minhas crônicas anteriores. Não só as com quem me encontro pela rua, mas nos noticiários no rádio e TV. 

Sobre a TV Record, do infausto Edir Macedo, não dá nem para começar a falar. Ali não tem jeito mesmo. 

A rádio e a TV Bandeirantes parecem um amontoado de analfabetos reunidos em transmissão. Ressalva seja feita para o Joelmir Betting e José Simão. 

Quanto à Globo, cujo jornal é cheio de erros, parece ter transferido a ignorância do escrever para o falar nos programas e noticiários. 

Fico até com dó de quem escuta a rádio CBN; aquela que diz que só toca notícias, mas toca mais propaganda que outra coisa. Sem falar os constantes tropeços na gramática e nas palavras mal pronunciadas.

Português é um idioma extremamente difícil, se comparado ao inglês, alemão e até ao Francês. Eu que pego facilmente os cacoetes do linguajar popular, se continuasse mais algumas semanas no Brasil, a assistir os jornais nacionais, desaprenderia o pouco que sei. 


Ainda há pouco, com a atendente do Check-in, ouvi-me a falar errado. Isto traz de volta aos adolescentes de hoje. A juventude que se encarregará de reger o futuro deste país amanhã. 

Se tomar como exemplo a maioria dos Promotores Públicos, todos eles jovens nos vinte e tantos anos, na metade deste século o idioma deste país terá sido completamente estuprado... ou devo dizer “extrupado” como li esta manhã na página policial de um grande jornal do Estado de São Paulo?

A verdade é um bicho terrível! Um vício também. Só ela me permitiu enxergar as esperanças que se perderam com o advento tucano no poder e os sonhos desfeitos por causa desse criminoso governo Lula e seus quarenta peteístas. 


Só um governo assim contrata uma criminosa, ladra de bancos, como a Dilma Rousseff, para ser chefe da Casa Civil ou um seqüestrador como o Franklin Martins para ser ministro.

Com um analfabeto na presidência, trocando os ‘S’ por ‘F’ caminhamos até para a desmoralização do idioma. Não é de surpreender que Portugal não concorde com as propostas apresentadas pelo Brasil para a unificação do idioma Português.

Ao meu lado tem quatro jovens brasileiros. 


Pelas roupas, modo de falar e atitudes surrupiadas serão mais quatro a serem presos ou deportados à chegada; seja lá o país para onde vão. 

Que pena!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

E-mails e ameaças recebidas!

Gostaria de responder individualmente a todos os e-mails que me chegaram. Alguns o fiz com gosto e prazer; outros, a maioria, devo confessar, faltou-me engenho e arte para decifrá-los e até para lê-los. 

Não obstante, agradeço a todos e a todas por me lerem e mais, por se darem ao trabalho de me escreverem. 

A favor ou contra das minhas palavras, vocês são como um elixir de alento para poder continuar... Embora até hoje não consiga entender como o meu blog tem tantos acessos. 

Enfim, a Internet tem lá os seus mistérios... Talvez nem tantos.

Alguns me perguntam por que fiquei tanto tempo sem postar nada. Alguns meses, é verdade. Contudo, não moro mais “nestepaíz” e este blog tem como objetivo expor o que me aborrece no Brasil e não sobre o país onde decidi viver por não mais me sentir a gosto no meu. 


Se pretendo manter a coerência com o objetivo que dei ao blog, só posso escrever sobre o Brasil, quando nele estou e não à distância. 

Longe, como poderão compreender, os fatos do dia a dia perdem substância por causa da paz e tranqüilidade que lá me rodeia.

O que aqui escrevo não são desabafos como vários e-mails femininos assim explicitam e outros apenas insinuam. Menos ainda frustrações ou qualquer coisa do gênero. 


Lamento que pensem dessa forma. 

Lamento mais ainda que deturpem as minhas palavras e muitos de vocês as canalizem por um filtro peteísta com ameaças e tudo. 

São essas ameaças que me dão a certeza de afirmar categoricamente, sem qualquer sombra de dúvida, que o PT é uma agremiação de bandidos, cujo propósito é se locupletar à custa daqueles que, de boa fé, acreditaram no que hoje se sabe, não passava de um arrazoado de mentiras.

Pelas ameaças recebidas, creio, explica-se a quantidade de acessos a este blog. 


Muito me honra e alegra que o tenham sob vigilância. 

O que escrevo, afinal, não se perde no éter nem cai em saco roto. 

Mais bem melhor”, como diz o Lula, parece que as minhas palavras os incomoda. 

Melhor assim. Fico feliz.

Quanto às ameaças, podem ficar descansados que continuarei a expor aqui a minha opinião. A vocês, peteístas, recomendo-lhes que voltem para a escola e aprendam a escrever e, sobretudo, a falar, já que roubar o sabem fazer muito bem. 

Quem sabe, dessa forma, poderão escrever-me e-mails com ameaças em português correto? 

No fundo, vocês não passam de analfabetos criminosos, ladrões e salafrários. A mim, vocês não me causam medo nem mossa. Os e-mails que me enviaram dão pena. Como não desaprendi português para poder colocar-me no nível onde vocês se encontram, esta é a resposta que lhes dou; a única que o asco que vocês me causam permite que lhes dê.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Papo de Feriadão

Cenário: Uma perua Town & Country da Chrysler, “aritmeticamente” fechada como diz o meu sobrinho de quatro anos, a descer a serra para o litoral norte de São Paulo, via Mogi das Cruzes.

Personagens: Quatro adultos, uma babá com os seus 18 ou 19 anos com uma menina de colo e mais dois meninos com quatro e oito anos. Um dos adultos era eu.

Conversa vai, conversa vem, lá pras tantas a passageira feminina, consorte do dono do caro, bem mais jovem do que eu, no banco do carona, reclama do preço do feijão. 


Até ali tudo bem. 

Achei bom alguém variar de assunto. 

Já levávamos quatro horas de viagem e eu dormitava. Só assim evitava envolver-me ou solidarizar com as reclamações do motorista por causa do engarrafamento. Tampouco me aborrecia com os dois infantes. Estes disputavam a gritos e beliscões o DVD que cada qual queria assistir só para embirrar com o outro.

Falar do preço dos alimentos num país como o Brasil, que dá quatro safras por ano, é uma arreliação; e muita. 


Causa-me calafrios. 

Portanto, apertei mais os olhos, ajeitei melhor o moletom à laia de travesseiro encostado na janela e soçobrei no burburinho das vozes. Uma gana de fumar um dos meus charutos cubanos entrou-me nesse instante, mas passou de imediato com a joelhada infantil no encosto do meu assento. 

Tudo bem, pensei. Afinal passei meses sem ver aquelas duas pestes. 

A joelhada ou patada, não sei direito, não olhei, devia servir-me de lembrança para refrear a próxima vontade de vê-los. Embalado por esse pensamento, fingi não ter sido incomodado. Do tio espera-se esse tipo de atitude. 

Eu era o tio. E o papo do feijão prosseguia. Ninguém merece.

Feijão pra cá, feijão pra lá, de repente escuto que o preço subira tanto a ponto da iniciadora do assunto recomendar à babá que diminuísse a vontade de comer tal legume. 


O preço do quilo, se multiplicado pela quantidade diária do comido no mês pela empregada, representava quase quarenta por cento do salário dela. 

Alguém famoso, num programa da TV Globo havia afirmado isso e recomendara alternativas para substituir o feijão. 

Aí eu abri os olhos. Não completamente. 

Primeiro entreabri o esquerdo e examinei a babá. Mesmo de branco, cor desfavorável, dizem, para quem é gordo, a garota pareceu-me bem esquelética para consumir o equivalente a quarenta por cento do salário dela, só em feijão. 

Até ali ainda não tinha ouvido o valor unitário do produto. Se foi mencionado antes, provavelmente algum dos gritos dos pimpolhos confundira os meus ouvidos. 

Um “sim senhora” foi a resposta lacônica que saiu da boca da babá. Foi quando abri o outro olho e arregalei os dois.

Eu não sei se foi a subserviência daquelas duas palavras ou a estupidez do pedido da minha cunhada, o certo é que apertei o botão para descer a janela. Precisei de ar para arejar a moleirinha. 


O moletom, coitado, voou sem querer estrada afora. 

O meu irmão ralhou com os filhos [e eu me senti vingado da patada no encosto], para que fechassem imediatamente a janela por causa do ar condicionado. No meio da bronca pedi que ele parasse para ir pegar o suéter. 

Tudo isto aconteceu em poucos segundos. 

Obviamente o meu sobrinho mais novo, que saiu ao tio em termos de raciocínio rápido, logo me acusou de ter sido eu a abrir a janela. A ranger os dentes registrei mais essa para descontar no próximo natal. 

A vingança seria fria e saboreada lentamente. O brinquedo que eu te der irá te engasgalhar. – Pensei para os meus adentros. – Nem que eu tenha que ir à China para comprar um desses divertimentos tóxicos que soltam as peças, será o que ganharás. – Resmunguei. 

Na hora, logo optei por adquiri-lo na rua 25 de Março mesmo. Na China deve ser meio difícil. Essas coisas são exportadas todas para o Paraguai e Brasil. 

Sim, definitivamente seria na 25 de Março, decidi. Lá, esse tipo de quinquilharias é mais tóxico e engasga melhor.

Ao sair do carro, sorte que a porta é de correr, quase fui atropelado por um desses motoristas gentis, de fim de semana, que rolam pela Rodovia Tamoios. Um daqueles que quando vê o carro da frente fazer sinal de parar, faz questão de ultrapassá-lo o mais rente possível. 


A babá, sutilmente soltou um “Ah” profundo. De susto, pareceu-me, por causa do imbecil que quase me atropelou. 

Que nada. 

Quando me virei emocionado para tranqüilizá-la, vi a razão da exclamação dela. Dois indivíduos montados numa motocicleta, tipo moto-boys, acabavam de pegar o meu moletom desmaiado na beira da estrada. 

Não deu dois segundos, apesar do meu gesticular, passaram por mim às gargalhadas enquanto o “pendura” amarfanhava a peça de roupa entre as pernas. Lá se foi o meu moletom, presente de uma ginasta, medalhada de cobre nas Olimpíadas de Atlanta

Acho que isso aconteceu por causa da praga que ela me rogou na última carta que escreveu, a qual, como as anteriores, eu não respondi.

Alguém já fez amor com uma ginasta Olímpica? Eu já; com a dita que ganhou a medalha de cobre. 


Não quero nem imaginar o que seria transar com a medalhista do ouro. 

Se com a de cobre, num determinado momento, fiquei sem saber onde tinha a cabeça ou os pés... Com a de ouro, certamente me dou um nó duplo e saio ricocheteando, se não quicando, pelos móveis do quarto. 

Mesmo com essas reminiscências eu guardava e usava aquele moletom. Posso não ter respondido às cartas... Apesar dos anos, ainda me lembro dela com carinho... E ainda me sinto exausto!

Mas naquele momento nem me lembrei disso. A culpa toda joguei-a em cima do preço do feijão. 


Acho que as pessoas fazem isso de propósito, só pra me irritar e me lembrarem como este país se tornou vergonhoso. 

Passados os abraços e os beijos, logo quando chego dão um jeito de me informarem que este ‘paíf’ tem uns governantes de merda e um povinho que nem Deus o quer. 

Pouco antes de sair do Brasil assisti pela televisão a uma entrevista desse infecto Lula gabando-se que, por causa do bom governo dele, o preço do arroz e do feijão haviam baixado como nunca antes se vira neste ‘paíf’

Deve ser por isso que esse homem é considerado o maior mentiroso do Brasil. 

Como subiu tanto, no espaço de tão poucos meses? Mais caro até que no tempo do boca de sovaco de cobra

O que foi que mudou? O que deu errado? Ah... Já sei. 

Não precisam me dizer. 

A causa vem da alta dos preços nos produtos alimentícios que ocorre na Europa. Afinal, como todo o brasileiro "sabe", é lá que estão as maiores plantações da vagem. Certamente, os Europeus, com raiva, por causa da carne sem qualidade e falta de controles sanitários que lhes enviamos daqui, aumentaram o preço do feijão. 

Está explicado! 

Os campos de feijão na França ou pela Alemanha devem estar de dar pena. Não deve ter feijão para alimentar os “sudacas” como os espanhóis nos alcunham. Eles, que igualmente possuem vastíssimos campos de feijão preto, mulatinho e até caricoca, também nos chamam de “brasileños” com aquela entonação especial que soa a puta, travesti ou ladrão.

Novamente dentro da mini-van com as portas trancadas, janelas fechadas e eu doido pra fumar um charuto, a companheira de viagem, na minha frente, resolveu dar o ar de sua graça. 


Dirigiu-me algumas palavras, apenada com a perda do meu moletom. Fez até biquinho com os lábios. 

Simpática, não? Isso achei. Antes de ouvir o resto. 

Até ali ignorara-me completamente. Acho que de ódio porque entrei primeiro no carro e tomei um dos assentos traseiros virados para a frente, ao lado da babá com a minha sobrinha ao colo. 

Para quem não sabe, a Town & Country tem dois assentos que ficam de costas para o motorista. Num deles ela se sentou e, de pescoço torcido, dedicou-se a conversar com a minha cunhada e a apoiar freneticamente as reclamações do meu irmão. 

Enfim, a moça, na flor de sua madurez, já com meia dúzia de pétalas caídas, solidarizou-se com a minha perda. Diz-me ela à laia de conclusão da sua solidariedade: – “esses baianos são uma praga em São Paulo. Eu sinto muito”. 

Acho que levei um minuto para digerir aquelas palavras e dois para responder. Não sei se foi pelo dos “baianos” ou pelo “sinto muito”. Sobre este último sentir, não entendi direito. Por que sentia tanto? 

Deixa pra lá...

Se há uma coisa engraçada neste “paíf” de cotas raciais e presidente analfabeto é que em São Paulo, negro é chamado de "baiano" e macumba de prática esotérica. Ninguém é macumbeiro. São todos esotéricos, brancos e lindos; todos de origem italiana, portuguesa ou espanhola. 


Nas noites de sexta-feira, na periferia e no bairro dos Jardins, os cruzamentos e parques ficam repletos de oferendas “esotéricas”. 

Dos “baianos” é claro. 

Na cidade de Santos, durante os fins de semana, então, é preciso ter cuidado para não pisar em algum despacho. Oh... Desculpem. Corrijo-me: oferenda “izotérica” como se diz e escreve na terra do Borba Gato

Macumba é palavrão em São Paulo. 

Nas casas acendem milhares de tabletes fedorentas “abre caminhos” compradas nas lojas de macumba do Campo Limpo, no Largo 13 ou na praça da Liberdade e dizem que é incenso indiano para atrair fluídos positivos. 

Enfim, hipocrisia é coisa que eu nem percebo que há em São Paulo. Quem disse que não há solidão pior do que estar acompanhado por um Paulista? 

Deve ter sido um “baiano”, certamente, que gosta de cortejo amontoado atrás de trio elétrico.

Tudo isso eu pensei, olhando para ela, no minuto ou dois que tomei para encontrar uma resposta “nice” à inteligente observação da moça de pétalas caídas. Lembro-me que nesse momento, mudo ao observá-la, descobri que os famosos pés de galinha nela haviam-se transformado num galinheiro em cada olho. Tive até vontade de informá-la desse reparo. 


Pensei até em imitar o meu sobrinho mais novo, a quem adoro pelas suas pontuações a dedo em riste, sempre muito inteligentes. Afinal saiu ao tio. Mas eu não disse nada. Quando encontrei uma resposta socialmente adequada ao espírito do feriadão, ela já havia torcido o pescoço para confabular com a minha cunhada. Portanto, se mudo estava, mudo fiquei. 

Eu já tenho fama de ser esquisito mesmo. Assim, achei melhor embrenhar-me nos meus pensamentos. Como o meu avô dizia, o melhor sempre fica por dizer.

Tão absorto estava no curso das minhas elucubrações, não sei quem mencionou o preço do feijão. Entre R$ 6,00 e R$ 7,00 o quilo. 


No Pão de Açúcar do Real Park estava em promoção por R$ 6,99. O arroz variava de R$ 12,00 a R$ 15,00, o saco de cinco quilos... 

Ah... Lula, seu sapo velho, gordo e bêbado... Seu malfeitor degenerado, como você engana bonitinho o povão deste teu ‘paíf’, que já nem considero meu. 

Novamente entraram-me ganas de fumar e abrir a janela. É claro que não o fiz. Não estava a fim de ver dois inocentes serem admoestados por um crime meu. 

No carro do meu irmão abrir a janela é crime; ou vocês não sabiam disso? É por causa dos assaltos, entenderam? O carro também é blindado. Chique, não? 

Lá dentro nos sentimos alijados dos resultados de uma sociedade corrompida, conseqüências de um povo incompetente para escolher governantes... e de governos corruptos nas suas políticas sociais.

Nesse momento pigarreei. Na verdade, engasguei-me ao ouvir aqueles preços e a dona do galinheiro em cada olho girou o rosto para mim. Será que ela ainda estava à espera de uma resposta minha à sua demonstração solidária para comigo? 


Não sei dizer. 

Se esperava, danou-se. Pelo espelho do retrovisor reparei nos olhos do meu irmão à minha procura. – “Não comece com esses seus ataques ao Lula, heim?" – Ameaçou-me ele desde o volante. – “Estamos no começo do feriado, indo para a praia nos divertir e não pra discutirmos política”. – Advertiu, imitando-me a voz. 

Ele sempre faz isso. Logo, soltou três ou quatro xingadas para o carro do lado que nos ultrapassou pelo lado direito; como se o infeliz tivesse a capacidade de ouvi-lo, apesar das nossas janelas fechadas e do som bate-estaca dele que me estremeceu quando nos ultrapassou. 

Eu nem me atrevi a um pio, sequer. Não sou doido. A coceira na garganta engoli-a a secas e como não tinha mais o moletom para fingir-me dormido, só me restou brindar o meu irmão com um dos meus sorrisos, o número três; aquele, por meio do qual ensino o caminho por onde ele deveria tomar. Eu sei que isso o irrita.

Já o disse aqui várias vezes que fui petista, assim como toda a minha família. Eu deixei de sê-lo no dia em que Paulo de Tarso Venceslau veio a público denunciar que o PT não passava de uma quadrilha de bandidos. Isso foi lá pelos idos de 1997. 


O resto da minha família só deixou de sê-lo com o escândalo dos Correios

Uma parte em 2005 e o resto em 2006. 

Diferente de mim, eles passaram a adotar a postura da avestruz. Cabeça enterrada, de vergonha, e bunda ao léu. Aliás, como a maioria do povinho deste ‘paíf’

Eu fiz o contrário. Enterrei a bunda, porque no meu ninguém bota, e deixei a cabeça bem alçada e os olhos bem abertos. Não tenho do que me envergonhar. Azar o meu que acreditei que o PT era formado por homens honestos e não vi que eram um bando de criminosos. 

Assim, como de bunda enterrada não conseguiria mover-me, saí do Brasil e fui morar fora. 

Em lágrimas... Sim, em lágrimas, seus idiotas imbecis que me criticam, joguei no lixo o meu passaporte brasileiro, de onde nunca mais o retirarei, e adotei nova nacionalidade. 

Eu e meus filhos. 

Se a minha família e o resto do povo querem viver no esfíncter brasileiro inflamado e preferem se acovardar ao Lula, Zé Dirceus e demais traidores que governam este ‘paíf’, e me deixaram só, brigando até à exaustão, para mudar e tirar esses meliantes do governo, nada mais posso fazer. 

Cansei. Cansei de tentar mostrar que a alienação política, moral e ética que imperam neste ‘paíf’ levá-lo-á ao maior descalabro social que nem os tucanos foram ou serão capazes de fazê-lo. .

Só um povo idiota e deslumbrado vivendo pobres vidas cegas, incultas e venais; autênticos analfabetos políticos é capaz de adotar posturas passivas e conformadas diante as altas dos alimentos que estão a acontecer no Brasil. 


Essas altas nada têm a ver com o que ocorre na Europa; e lá, seus imbecis, não existem campos de feijão. O feijão que comem é produzido aqui, seus idiotas. Vocês não ouvem, não falam, não participam dos acontecimentos nacionais; nem sequer lutam pelos direitos que lhes concernem como sociedade. Acreditam que vaca voa e em todas as mentiras que esse governo safado, que aí está, lhes enfia pelos ouvidos. 

Vocês não raciocinam que os custos de vida, o preço do feijão, do frango, da farinha, do aluguel ou o do sapato ou o do remédio, dependem de decisões políticas??? Tão broncos e estultos, orgulham-se e estufam o peito ao dizerem que odeiam a política. 

Não sabem vocês, insensatos e insensatas, que das suas ignorâncias políticas nascem as prostitutas, os menores abandonados, os assaltantes e o pior de todos os bandidos: os Lulas, os políticos vigaristas, os corruptos, os lacaios auto-denominados “trabalhadores”, a serviço das empresas nacionais e multinacionais... dos aero-trens, das universidades com cotas raciais, das construtoras, das indústrias de multas, das contribuições para a saúde desviadas para financiamento dos clubes fisiologistas?? 

E vocês ainda se consideram a coisa mais linda que existe no país, porque as vinte e quatro horas do dia respiram esperança?? 

É só isso que sabem fazer! 

Ao se abandonarem à preguiça ao debate, ao domínio de uma minoria de corruptos e bandidos, preferem reformar o arbítrio a confirmar a sua existência. Com essas atitudes, vocês simplesmente extirparam o alvedrio como se corta um câncer. 

E vocês ainda têm a petulância de me dizerem que a maioria tem a razão... Que a voz do povo é a voz de Deus... Estúpidos é o que vocês são! 

Não é de surpreender que respirem esperança as vinte e quatro horas do dia... Talvez a esperança de conseguirem ter forças para retirarem a venda que colocaram em si mesmos, para não enxergarem, envergonhados, a mediocrização das suas expectativas; o quão desleixados se tornaram nos seus padrões e princípios morais, nas suas lutas pela sobrevivência. Em nome dessa tal sobrevivência vocês só conseguem revelar o ego fraco que possuem; a inabilidade para mediar entre o instinto e a idéia de moralidade que possuem... se é que alguma têm.

O meu sorriso número quatro, o mais provocante e o mais insinuador, transmitiu ao meu irmão tudo o que acabei de escrever acima, e que ele conhece de cor e salteado. Isso esverdeou-o e fê-lo olhar-me de relance, preparando-se para retrucar. Ele adora fazer o papel de advogado do diabo.

De repente, o meu sobrinho mais novo, aquele que se parece comigo e a quem pretendo deixar as futuras milhares de ações que desejo adquirir de uma empresa multinacional de Biodisel, diz na sua vozinha de quatro anos: – “Papai, não comece a discutir com o tio, que você vai perder como sempre. Você sabe que ele sempre tem razão e você não é como ele porque mamãe não deixa...”.

Pronto. Na mesma hora arrependi-me de ter pensado em oferecer-lhe um brinquedo tóxico com peças a soltarem-se para que se engasgasse. 


É claro que eu nunca faria uma coisa dessas. 

Posso ser esquisito para os padrões nacionais, mas não sou nenhum desalmado, nem me sinto esquisito. Afinal esse menino é o meu sobrinho preferido, além do mais, afilhado de batismo e parecido comigo. 

Onde estava eu com a cabeça quando pensei numa coisa dessas? 

Intimamente desejei: – me dá outra patada no encosto, que eu mereço. – Juro que se estivéssemos nos Estados Unidos ou na Europa obrigaria o meu irmão a rumar para a melhor loja de brinquedos e comprar-lhe-ia o melhor Play Station que o dinheiro pudesse comprar. Nesse instante jurei a pés juntos que esse seria o presente dele. Não no Natal, que ainda está longe, mas agora em julho, no aniversário de cinco anos dele.

Com esse desejo e com essa vontade chegamos à minha casa na praia, a qual, antes de sair do Brasil coloquei em nome desse meu jovem e admirado sobrinho que só será efetivamente dele, depois que eu morrer.

À nossa espera, depois de seis horas de viagem e mortos de fome, encontramos um almoço, já perto do jantar, com arroz a R$ 12,00 o saco, uma terrina de feijão a R$ 6,99 o quilo, carne assada, salada e pudim da vovó. Tudo preparado pela dona Maria, a cozinheira que me viu crescer. 


Felizmente eu não como nem feijão, nem arroz. Detesto ambos. Diz-me a Dona Maria das Graças, com o seu habitual ar risonho : – “Félix, espera só um pouquinho que eu estou terminando de fritar a batata do jeito que você gosta”. 

– Claro que espero, respondi-lhe, também risonho.

– “Eu também quero batata frita, vovó”, – responderam os meus dois sobrinhos quase ao mesmo tempo. O mais novo falou primeiro.

– “Ai, dona Graça, [minha mãe detesta que a tratem por Maria], se a senhora não se importar, eu também quero um pouquinho”. – Pediu a dona do galinheiro.

Mamãe, acho que a Chislene [esse é o nome da babá], também vai querer. – Alertei eu.– Aliás, – acrescentei – acho que todos vamos preferir batata frita...

– “Sim! Batata frita. Queremos batata frita...” – entoaram os dois garotos.

– “O que foi que aconteceu na viagem pra ninguém querer feijão?” – perguntou meu pai, surpreso com toda aquela insurreição revolucionária em detrimento dos alimentos base do povo brasileiro; tão famosos, que minha mãe prepara à excelência; que todo o mundo elogia e eu detesto.

– “Que eu saiba, nada. Também não estou entendendo”. – Retrucou o meu irmão, como sempre, pachorrento e contemporizador.

– “Mamãe pediu pra “Chis” não comer feijão, porque está muito caro”. – Novamente foi o meu jovem sobrinho, aquele que é parecido comigo e a quem me prometi oferecer-lhe um Play Station de última geração... e um carro, jurei nesse momento pra mim mesmo, tão logo tivesse idade para isso, se eu conseguir chegar até lá.

– “Eu nunca falei uma coisa dessas, Félix! Deixa de ser mentiroso, meu filho” – Exasperou-se a minha cunhada, cujo hábito em negar o dito é uma constante. Normalmente ela trata o menino de moleque, mas na frente da sogra é meu filho pra cá, filhinho pra lá. Ela faz o tipo da mãe brasileira atual.

Agora vocês entendem porque adoro o meu sobrinho. Ele também se chama Félix. O único segundo Félix que conheço. Pode? E eu sou seu tio, mas não fui eu quem escolheu tal nome. Deus me livre. Meu irmão foi. Ele me adora. Talvez por isso não tenha argumentos para me ganhar numa discussão política. E alguém lá tem? Alguém é capaz disso? 


Eu nunca me considerei vitorioso em nenhum bate-boca político nem nunca ganhei nenhuma discussão desse gênero. Acho isso pouco provável de vir a acontecer. Política não se discute. Apenas se exemplificam argumentos. 

Política é uma comunhão de idéias de um grupo de pessoas que discorda de outras. Nunca há vencedores nem vencidos. 

Só no Brasil se toma a política como um campeonato de futebol e ainda se diz democrático. 

Pobre! 

Política é um conjunto de opiniões e/ou simpatias de uma pessoa com relação à arte ou ciência política, a uma doutrina ou ação política... Um grupo de idéias hoje em destaque pode ser motivo de execração amanhã. 

Discussão política, neste momento no Brasil, deveria ser para encontrar soluções de modo a afastar os espertalhões e peteísta mafiosos que estão a afundar este país. Deveria ser para descobrir novos caminhos que unam uma comunidade em prol de um bem comum... 

Definitivamente não é o que acontece no governo analfabeto e criminoso do PT. Aliás, política neste ‘paíf’, infelizmente, passou a escrever-se com ‘p’ minúsculo e não dá para ser discutida, quanto mais para vencer, se o povão continua acéfalo. 

Hoje, discutir política no Brasil é, na minha opinião, jogar pérolas a porcos.

Márcia, [esse é o nome da minha cunhada], você disse sim! – Respondi eu calmamente. – Tanto disse que você até fez os cálculos que o feijão que a Chislene come, representa quarenta por cento do salário dela...– afirmei com uma piscada de olho solidária para o meu sobrinho.

– "Mas eu não falei por maldade... Foi só um comentário..." – choramingou. Quando se vê acuada faz isso. – "Ela pode comer todo o feijão que quiser,... Meu Deus... Ó Senhor...". – E as lágrimas saltaram-lhe como sempre. Tipo esguicho em arco; para a frente e logo para baixo.

A Márcia, que eu sei que me lê de vez em quando, é a única pessoa que conheço que chora dessa maneira. É até divertido vê-la jorrar lágrimas e apostar onde ou em quem vai cair a primeira.

Não preciso contar o que aconteceu depois. Podem imaginar o que quiserem. Contudo, ela se levantou e correu para o quarto. Meu irmão foi junto. 


As minhas orelhas quase pegaram fogo. 

Dona Maria das Graças trouxe da cozinha uma bandeja linda, repleta de batatas fritas. Todos nós nos empanturramos à vontade com elas. Até meu pai que não come frituras, beliscou. Não sei em que altura da tarde a Márcia e o meu irmão almoçaram. Eu fui andar pela praia acompanhado pelos meus dois sobrinhos. 

Finalmente pude deleitar-me com um Vega Robaina que fumei quase até aos dedos.

Na volta o assunto havia esfriado. Ninguém falou nada. Só a Márcia e a dona do galinheiro me olhavam aqui e acolá, meio ressabiadas. 


Tolinhas. Apenas resvalaram na couraça da minha indiferença. 

No almoço do dia seguinte, as mesmas travessas com o mesmo arroz a R$ 12,00 e o feijão a R$ 6,99 o quilo vieram para a mesa. Todo o mundo comeu. Menos eu, é claro. Não sei por quê, achei que a Chislene comeu pouco, mas eu nem me atrevi a dizer um ai.

Uma nota final:

A você, Márcia, que eu sei que me lê e viu começar a escrever esta crônica. Pense, reflita no que acabei de escrever e, muito em especial, não siga os conselhos da TV Globo. 


Ah... e na próxima vez que tentar empurrar para cima de mim alguma das suas amigas encalhadas, por favor, certifique-se antes que a escolhida seja, pelo menos, medianamente inteligente.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

No Supermercado EXTRA-Morumbi – São Paulo.

Se há algo que detesto na vida é fazer compras num supermercado nacional. 

No Nordeste, não quero nem lembrar. Lá, tenho a sensação que estou na África. E isso não é frescura nem preconceito. Aliás, tem determinados supermercados na África, especialmente em países no sul desse continente onde é possível adquirir produtos de melhor qualidade e muito mais baratos que no Brasil. 

Muitos desses produtos, pasmem, são brasileiros. 

Para que conste, adoro ir a supermercados nos Estados Unidos; até na Europa onde são meio acanhados e... mais baratos que em São Paulo.

Como estou de passagem nesta cidade, em casa de uns familiares, quis presenteá-los com uma das minhas especialidades culinárias. 


Gosto de cozinhar. 

Acho que é um dos melhores “hobbies” que se pode ter para clarear o pensamento ou até para encontrar respostas a perguntas inquietantes. Deve ser por isso que as donas de casa têm um discernimento acuradíssimo dos problemas do mundo e raro não é, saem-se com alguma idéia extraordinária.

Pois bem, antes do feriado lá fui eu ao Supermercado. 


Escolhi o Extra Morumbi, à beira da Marginal Pinheiros; onde antes existia o extinto Paes Mendonça de tantas boas recordações. 

Uma hora lá dentro e saio com duas garrafas de azeite italiano, uma de vinagre e uma tablete de chocolate meio amargo para acalmar o desespero, a minha irritação e a vontade de correr para o aeroporto e sair desabalado deste infausto “paíf”. 

A cebola parecia ter sido rolada pelo asfalto, desde o produtor até à banca onde estava. Tinha até manchas pretas. De piche, seguramente. Nem me atrevi a tocá-las de tanto que fediam. 

As cabeças de alho há muito haviam perdido o frescor e, tísicas, se não secas, amontoavam-se para as mãos de várias pessoas que as esfarelavam entre os dedos, numa vontade férrea de aproveitar alguns poucos dentes com que pudessem temperar o feijão do feriado. 

As bananas ofereciam apenas duas opções: demasiado maduras, quase podres ou muitos verdes. 

O louro, manjericão, salsa, aipo, cebolinha e coentro, não tinham cheiro. Folhas desmaiadas e apertadas em cones de celofane foi o que encontrei. 

No setor de frios a má vontade imperava e a qualidade “Sadia” transbordava por todos os lados. 

Alguém já agarrou uma fatia de presunto Sadia gordo com os dedos e depois os cheirou? Experimentem. Para presunto, o cheiro de frango depenado vai deliciá-los.

A propósito, falando de Sadia ou até da Perdigão ou de qualquer outra marca de frios, cuja produção nacional é comercializada neste “paíf”, vocês sabem qual a diferença entre o tal salaminho, tipo italiano, e o salame hamburguês que essas empresas fabricam? 


A diferença está na quantidade de vezes que a mesma mistura de carnes é moída para alterar o aspecto e na essência química que é adicionada para diferenciar o sabor de um em relação ao outro.

Mas no setor de frios eu não quis comprar nenhum frio, para não entrar em fria. Desejava apenas um bom pedaço de queijo parmesão e algumas gramas de presunto parma. O “faixa azul”, de origem argentina foi o melhor que me ofereceram. Não gosto. É demasiado salgado, embora faça a delícia do paladar nacional. Deus me livre! Quanto ao presunto? Jamais compro presunto cru Sadia.

Há uns anos atrás, pouco antes de deixar o Brasil esse mesmo supermercado, lembrava eu, possuía uma variedade enorme de produtos importados, de ótima qualidade. 


Que nada! Não foi só a política ou as pessoas que pioraram no “paíf”. Os produtos também. A qualidade foi junto. Um deles que me entristece é o queijo Gouda Campolindo. 

O que me deliciou no passado, hoje não passa de uma amálgama farinhenta, dura e ressecada. Isso, porque mandei abrir uma peça. Recuso a imaginar o que será um pedaço cortado com dois ou três dias. De igual modo não quero nem pensar num Brasil com mais quatro anos de peteístas analfabetos e ladrões.

Jamais em Supermercado algum havia visto um setor de frutas como vi no Extra-Morumbi. Pêras quase podres, maçãs aguadas, uvas azedas e amassadas... 


Os tomates pareciam recém chegados do festival da tomatada de Zaragoza, na Espanha, após terem servido de morteiros na estupidez que lá se realiza. 

Os pepinos estavam ali, provavelmente porque os sacolões de periferia os haviam recusado. 

Na seção dos pimentões quase enxuguei uma lágrima ao vê-los murchos, tortos e enrugados, embora a tabuleta, para os amarelos, exibisse orgulhosa os R$ 8,00 por quilo.

Alguém já teve o cuidado de cheirar essas frutas ou legumes que vendem no Extra-Morumbi? Eu já. Nesse dia. Quase enfartei. Cheiram a nada e se algum odor exalam, é a podre pelo contato que tiveram na caixa com outras mais apodrecidas ou então a amônia como um buquê de fundo, pela quantidade de agrotóxicos que recebem. 


É uma vergonha!

Furioso, chamei o gerente para reclamar. Diante de mim surgiu uma criatura insólita, baixinha, gordinha com um bigode farto à Emiliano Zapata. Não medi, porém, tenho quase certeza que a proporcionalidade dos pêlos ultrapassava a altura do indivíduo. 


Menos mal que não trazia pistolas. Seu nome é Wallace, com dois ‘L’. 

Disse-me o Wallace depois de ouvir-me com aquela atenção que os baixinhos dedicam aos mais altos que eles: – “Impossível que a qualidade esteja tão ruim! Temos uma empresa terceirizada que se encarrega de zelar pela qualidade.” 

Diante dessas palavras pedi-lhe que me acompanhasse ao setor. Lá, meio que aparvalhado, incapaz de negar aquela podridão como o havia feito com as minhas palavras no balcão de entrada, diz-me o Wallace: – “lamento que a qualidade não esteja do seu gosto. Esta loja, [a dele, Extra-Morumbi], é a que mais vende de toda a rede e nunca tivemos qualquer reclamação”.

Pronto. O Wallace havia dito tudo o que eu precisava ouvir. 


Se aquela era a qualidade que os clientes dali queriam e não reclamavam, porque era fiscalizada por uma empresa terceirizada, só pude concluir que o errado era eu. 

Felizmente não moro mais no Brasil nem sou igualmente obrigado a aceitar esse tipo de empulhação nem acreditar que as pessoas se sujeitem a comer e a pagar caro pelos restos que nem para sacolão servem. 

Se as pessoas que vi debulhando alhos secos para encontrarem uns poucos dentes para o arroz do dia não reclamam, mal fiz eu em reclamar.

Obviamente não voltarei ao Extra. Com a mesma ênfase recomendarei a todos que conheço e que venham ao Brasil para não fazerem compras na rede Extra de supermercados. 


Se a unidade do Morumbi é a que mais vende da rede, apesar da porcaria lá exposta, deduzo que as unidades de periferia ou dos bairros menos privilegiados a situação seja ainda pior. 

É de fazer as pedras chorarem.

Como as pessoas que freqüentam o Extra-Morumbi se sujeitam àquilo é algo que não me entra na cabeça. Também não consigo entender como esse ser infecto chamado Lula continua na presidência. Enfim, como diz um amigo meu, por não conseguir compreender tais peculiaridades nacionais, sou demasiado burro e por causa disso fui morar em outro país, este com ‘S’, obviamente.

Ainda bem que existe o Santa Luzia na avenida Lorena. Caro pra caramba. Mas como dizia o meu pai, as coisas não custam caro; nós é que ganhamos pouco. 


E foi lá onde comprei, aí sim, de boa qualidade, o que precisava para fazer uma dúzia de medalhões recheados com presunto de Parma e sálvia, cobertos com molho de açafrão. Para acompanhar fiz um modesto linguini com shiitake, os quais, para meu infortúnio e enorme cansaço, tive de comprar numa loja japonesa, no bairro da Liberdade.

Sabem quando vou cozinhar novamente no Brasil? 

No dia que me esquecer como é esta cidade ou se alguém se prontificar a percorrê-la para comprar o que quero, na qualidade que necessito. 

No supermercado Extra, seja em que unidade for, é claro, não entrarei.

Homossexuais, pedófilos e prostituição infantil

Num mundo como o de hoje é cada vez mais comum ver homossexuais, pedófilos e prostituição infantil na mesma página policial; seja nos jornais, seja na Internet. 

Por outro lado, no Brasil, mais do que em qualquer outro país, cresce a cada dia uma espécie de orgulho “alegre” em relação aos primeiros sem que se perceba que os segundos e os terceiros têm a sua origem nos anteriores. 

Esse orgulho é o quê? 

Vontade de demonstrar que é democrático(a)? Que não tem preconceito? 

Que acha natural, como vi no ano passado na televisão, um menino de uns oito anos gritar ao lado da mãe, para o microfone que queria ser “veado”?

Honestamente, não consigo entender, muito menos ver com bons olhos, todo esse orgulho ou essa alegria colorida, [este ano até com crachá], em relação a uma juventude que prima pelo exibicionismo, pelo escândalo, pela vida marginal em prol de um orgulho hipócrita-escarchado e até aviltante.

Homossexualismo, pedofilia e prostituição infantil sempre existiram desde que o mundo é mundo. Cada um sempre comeu e deu o que gosta ou foi forçado a isso. Infelizmente! É parte da natureza humana criar, dar, ser ou ter uma inclinação para o aberrante ou romper dogmas que a mesma humanidade tende a cunhar. 


Nesse embolado entra o racismo, o preconceito e os ódios que geram guerras, assassinatos e todo o mais de ruim que o ser humano é capaz de engendrar, quase sempre em busca de sua própria auto-afirmação.

A homossexualidade já foi alabada na Grécia como algo consentido só aos heróis do Olimpo. Filhos de famílias ricas tinham o seu preceptor que os iniciavam. Sócrates, Platão e o legislador Sólon foram alguns deles e se orgulhavam. Alexandre, o Grande, nunca escondeu a sua predileção. Durante o Império Romano ser “gilete” era considerado comportamento natural. 


Até Caio Júlio César, além de epilético, gostava de um rapazinho entre uma batalha e outra. A igreja católica, a tal que condena o homossexualismo, é, ela própria em toda a sua estrutura basal e piramidal, recheada de milhares de pederastas que corrompem crianças e até as absolvem dos pecados da carne que ela mesma inventou. 

Há bem pouco tempo saiu uma pesquisa na Inglaterra onde revelava que mais de 75% dos ingleses em algum momento da vida haviam mantido relações homossexuais. Os internatos ingleses são famosos por isso. 

Mais recentemente, até o Ronaldo "fenômeno" não conseguiu explicar direito como se meteu num motel com três travestis. Enfim, onde eu quero chegar com tudo isto é que, se cada um é como é e se deita com quem quer, por que razão se realizam paradas de homossexuais? Para afirmar o trágico propósito de expor as mazelas que compõem o ser humano? 

Porquê os meus filhos têm de assistir a essas aberrações mutantes com um montão de estúpidos a aplaudir? 

Apenas para deixá-los mais confusos nas suas idades aborrecentes? Se nem na antigüidade, quando o homossexualismo era incentivado, havia tais paradas, por que diabo têm de existir agora?

Eu fico com pena dessa multidão infeliz. 


Não porque aplaudem ou desfilam nessa demonstração de infortúnio humano. 

Fico com pena por que ao retornarem a casa, em carros nacionais mal fabricados e sem segurança, vão beber leite falsificado, comer carne contaminada, legumes com agrotóxicos e pagar impostos abusivos, que a estupidez que os leva a tais eventos é a mesma que os impede de ver a miséria e desdita onde vivem; que os torna covardes e incapazes de brigar, isso sim, por uma vida melhor e sem corruptos que os governem.

Parada do Orgulho “Alegre” só me mostra o quão triste é o ser humano e a quantas chega a sua capacidade de se transformar num mutante sem origem, sem forma, sem sexo... – Nesse mesmo sentido vejo a pedofilia.

Brasil, México, China e Tailândia são países famosos pela venda de meninas ainda imberbes para serem desfloradas por quem pagar mais. 


Na maioria das vezes quando escuto ou sei de algum caso desses, tenho vontade de matar o sujeito que pratica tamanha barbaridade. Mas tem ocasiões que a indiferença me ataca. Nesses momentos, para aliviar a angústia que tudo isso me causa, gostaria de ter o poder de entrar na mente de um desses indivíduos só para entender o que o leva a executar essa infâmia. 

No Nordeste do Brasil ainda é muito comum o próprio pai violentar a filha ou o filho. Lá, em 1984, conheci uns dois ou três desses dejetos humanos com quem tive oportunidade de pesquisar o que os levava a estuprar as crianças. 

Para encurtar a estória, continuei sem saber. Apenas consegui chegar à conclusão que a cada dia que passa, mais gosto dos meus cachorros. [Agora tenho dois].

Pela praia de Iracema, em Fortaleza ou nas calçadas de Boa Viagem, em Recife vi e ouvi crianças, meninas e meninos, a se prostituírem. Os(as) mais jovem o faziam por fome. Os mais velhinhos por vício; porque se acostumaram àquela vida e nela haviam delimitados os únicos horizontes que conseguiam enxergar.

Fazer apologia do homossexualismo, como é essa bizarra “parada do orgulho gay”, é incentivar ainda mais a pedofilia e a prostituição infantil. 


Deveria ser proibida! 

Permitir esse tipo de demonstração nada tem a ver com um Estado democrático, como propagam esses seres infecciosos que organizam tais aviltamentos às famílias bem constituídas que se sentem enojadas com tamanhas aberrações. 

Permitir esses desmandos sociais rouba à criança que ainda está a descobrir o mundo a capacidade de discernimento entre o que é certo e o que é errado. Sim! É errado ser “bicha” mais ainda pedófilo, mais ainda incentivador de prostitutos e prostitutas infantis. 

Se o Estado não tem vontade de criar programas sociais que ajudem essa gente, porque rouba o dinheiro destinado a isso, acho que tampouco deveria contribuir para que aumentem mais.

São demonstrações como essas que me dão a convicção que o Brasil é uma ilha de ineptos cercado de estúpidos por todos os lados.


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