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sexta-feira, 6 de julho de 2007

O hipotético modelo populista.

Trechos do artigo de Marcos Aguinis

Nenhum regime populista conseguiu (ou quis seriamente) acabar, por completo, com a pobreza, estimular uma educação aberta, ou desmontar o fanatismo. Seus programas não se voltam para o desenvolvimento sustentável e firme. Não lhe interessam nem os direitos individuais, nem a majestade das instituições republicanas. Ao contrário, exagera o assistencialismo mendicante, impõe doutrinas tendenciosas e exalta diversos tipos de animosidade para conseguir a adesão de multidões desprotegidas, exploradas, ressentidas ou perturbadas pela confusão. O mexicano Enrique Krause assegura que nunca falta o personalismo, porque o partido ou o movimento se constrói em torno de uma figura providencial. O líder é um demagogo, porque se acomoda, mente, adula e desacredita, segundo convenha ao crescimento de seu poder.


Não há regime populista que tolere a absoluta liberdade de imprensa. O modelo populista identifica os fundos do Estado com os fundos do Governo ou - pior ainda - fundos dos que tem a manejo do poder. Usa-os de maneira discricionária para submeter opositores, cooptar vontades e fazer propaganda. Também não faltam as alianças com a "burguesia nacional", ou com os "empresários patriotas", ou sejam, aqueles que preferem subornar funcionários para obter privilégios, em lugar de produzir de forma realmente competitiva.

Também pertence a esse modelo seu desdém para com a ordem legal. A lei é apenas um traje que se ajusta de acordo com o gosto e a medida. Está claro que o modelo populista não aceita a alternância, mas sim quer permanecer aparafusado ao trono. Reeleição ilimitada ou presidência vitalícia. A todas essas características não lhe falta o cultivo da utopia. Ou seja, a promessa de que se avança na direção de um futuro esplendido. É uma ilusão, que se prepara com tenacidade, o mesmo que atribuir a culpa a outros e ao passado para encobrir a ineficiência da gestão atual e disfarçar os sintomas da deterioração. A hipnose de repetir, que se lograram resultados brilhantes com este modelo populista e que serão ainda melhores, não deixa de perturbar e convencer. Enquanto nos resignamos à mediocridade de continuar navegando sem rumo.

A verdade é que o culto da personalidade - em torno da qual se constrói quase tudo -, a ausência de controles republicanos, a instabilidade jurídica, a falta de visão estratégica, a crescente crispação de ódio e o objetivo excludente de manter-se no poder a todo custo sabotam o progresso real. Com semelhante clima, não se podem esperar investimentos genuínos e caudalosos.


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