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sábado, 25 de dezembro de 2010

Reflexões sobre o WikiLeaks – parte 2

Em resposta às dúvidas e críticas que alguns leitores enviaram.

Desde já agradeço os incentivos e também, claro, os insultos. Adoro ver "intilékituais" a falarem de orelhada sobre o que não sabem; especialmente, aquele que afirma ter desaprendido o inglês, por não encontrar nenhuma modificação nos "testo dos trelegama".

Vamos lá:

A informação que consta num documento, no qual aparece o nome do informante, não chegou ao sr. Assange através desse informante. Portanto, não há como, nem por quê, nem razões de ordem moral ou jornalísticas para apagá-lo.

Menos justificações tem o sr. Assange para apagar esses nomes, porque tem declarado, – de viva voz, aos quatro ventos, – (está nos jornais), que exerce e é “a favor da liberdade total da informação, para cobrar responsabilidades dos poderosos”.

Poderosos” que ele não especifica, claro! Mas subentende-se que se refere aos americanos, já que todos os telegramas são oriundos de missões diplomáticas americanas.

Se viessem de missões francesas, alemãs ou britânicas, provavelmente o sr. Assange falaria exatamente o mesmo. Deve ser por isso que Jamil Chade, do Estadão, «aqui», durante a entrevista, aventou-lhe com a possibilidade de pedir asilo político no Brasil. (Será que Franklin Martins aprovaria?)

Apagar o nome dos informantes, atrelados ao texto dos documentos onde estão inseridos - e são parte e causa inerente do contexto, - é retirar toda a credibilidade da informação.

Ao proceder dessa forma o sr. Assange se contradiz e nega completamente o que afirma ao defender a liberdade da informação. Será que ele já se deu conta disso?

Na minha opinião, um sujeito que por atos, nega o que fala, é um palhaço; bem ao estilo Lula ou a qualquer dos aloprados petistas, tal como o senador Aloísio Mercadante que revoga o irrevogável.

Se o sr. Assange divulga o nome do redator de um documento, neste caso, o de um diplomata, não existe motivo algum para apagar o nome do informante e/ ou parte do conteúdo informado, e só deixar o nome do diplomata.

Aparentemente, o sr. Assange prefere sacrificar o mensageiro...

O fato de um telegrama ser assinado por determinado funcionário de uma missão diplomática, não lhe dá maior credibilidade, pois, se o nome do informante, intrínseco à informação relatada, é apagado, quem me garante que a informação lá narrada é verdadeira e/ou que nome do diplomata não foi mudado?

Já há evidências que o sr. Assange ou alguma das tais “agências” misteriosas, encarregadas de divulgar os documentos, manipula e/ ou modifica completamente parágrafos inteiros no texto de alguns telegramas. (mais adiante retorno a este assunto)

Aqui em Bruxelas, na sede da UE, por exemplo, já há duas pessoas a gritar que nunca disseram o que aparece em dois relatórios divulgados pelo WikiLeaks. Elas, inclusive, o comprovam, individualmente, através de duas minutas escritas e assinada, – obviamente, – da reunião que tiveram com o embaixador americano, cujo nome, pasmem, é também diferente do que aparece nos telegramas.

Uma pergunta para os “libertários” que me escreveram:

- Se por um acaso eu quiser conferir a veracidade de alguma informação relatada num documento, cujo nome do autor dessa informação foi apagado, a quem devo procurar? Falar com o diplomata? Pela quantidade de neurônios que revelaram nos e-mails que me enviaram, certamente os “libertários” dirão que sim.

- Mas estão errados. Eu preciso ir à fonte! Só ela poderá ratificar se o relatado no documento é verdadeiro ou falso.
Novamente, como frisei no post anterior: (se ainda não leu, leia «aqui») – Se o sr. Assange pretende demonstrar alguma ética ou filantropia a favor da liberdade de informação, ou apaga todos os nomes, ou revela TODOS os nomes.

Só assim a informação que Assange recebeu e publica, se torna crível.

Não tem sentido esconder o nome principal e deixar à execração o nome do diplomata, apenas porque relatou a informação. Isso não é "liberdade de informação" nem transparência "cristalina" para evitar dúvidas quanto à autenticidade.

Liberdade, ou a suposição dela, foi o que me atraiu, ingenuamente, confesso, para a leitura dos documentos... que após 224 lidos, (816 páginas tamanho A4), percebi ter sido maculada, adulterada e cerceada.

Nada, nem mesmo o sr. Assange me garante que, no apagar do nome do informante e/ ou de partes do texto, inerentes a esse informante, o resto não tenha sido mexido.

Como escrevi acima, já há evidências disso! Verdadeiras ou falsas, não me cabe descobrir, nem vontade tenho.

Porque aconteceram? Também já correm várias teorias, boatos e muitas especulações. Não pretendo repassá-las, nem entrar em contra-argumentações.

Simplesmente porque, até onde se saiba, o sr. Assange não têm Fé Pública nem possui poderes dogmáticos de infalibilidade ex cathedra, que nos leve a acreditar na sua idoneidade moral ou profissional. Muito pelo contrário, haja visto as adulterações que realizou nos telegramas! Toda a sua suposta credibilidade e possível abnegação pela liberdade da informação se apagaram... ao ter apagado o nome dos informantes escritos nos documentos, cujo conteúdo, ou parte, ele decidiu divulgar.

E por que apaga os nomes dos informantes?
– Transcrevo o que a jornalista Natália Viana, ligada à “organização” me respondeu: – “o WikiLeaks retira todos os nomes de pessoas que possam sofrer riscos reais de segurança por causa da divulgação. É um princípio da organização não colocar em risco a vida de pessoas. Por isso, todas as informações que possibilitaram a identificação dessas fontes – como, por exemplo, “fulano trabalha na divisão X da organização Y” – também são retiradas
Ai, ai, aiiiii...

Uma resposta dessa, para qualquer pessoa alheia ao sistema atual de comunicações americano, pode até soar plausível, cheia de boas intenções. Balelas! É pura retórica. Me lembram até as frases de efeito de Fernando Henrique Cardoso para serem publicadas na revista Veja...

Para qualquer pessoa bem informada ou, digamos, conhecedora do “ramo”, sabe que essa é uma resposta burra, tentando enfiar-nos o garfo nos olhos para desviar atenções; tal como o meu caçula fazia com dois anos de idade, quando a governanta lhe punha um prato de legumes na frente.

O danado descobriu que fazendo essa “gracinha” se desatava uma correria para levá-lo ao hospital e, no regresso a casa, só lhe eram servidas as “coisinhas” que ele gostava. Enquanto estivesse com o esparadrapo no olho ninguém se atrevia a servir-lhe legumes. Felizmente, nenhuma seqüela restou dessa “esperteza”.

Natália Viana e o sr. Assange esquecem que, ao sistema – do qual provieram as informações que o WikiLeaks divulga, – mais de 1 milhão de americanos têm acesso; ou tinham.

Após o 11 de setembro de 2001, com o ataque sofrido ao World Trade Center de NY, os serviços de informações, da inteligência e diplomáticos, foram unidos para permitir melhor conhecimentos e compartilhamentos dos dados; a fim de se evitar o que acontecia antes dessa data, cuja proliferação, ou a falta dela, proporcionava sendas confusões e alheamentos entre os responsáveis pela defesa do território americano.

Portanto, apenas para que fique bem claro para os “libertários” que decidiram elogiar-me com alguns piropos, ao gosto petista, mais de um milhão de funcionários públicos americanos, repito, tinham, – até ao inicio da divulgação dos telegramas, – acesso ao sistema pelo qual transitavam as comunicações diplomáticas.

Só este fato já invalida a pretenção do sr. Assange em demonstrar galhardia na proteção dos informantes narrados; ao mesmo tempo levanta enormes supeitas sobre as possivéis intenções que o levaram a proceder dessa maneira... - em alguns documentos e em outros não,... - sem qualquer necessidade de ordem prática, exceto, - a mais aparente e comum delas todas, - a de guardar ou preservar esses nomes para alguma utilização futura... não muito ortodoxa, digamos, com algum benefício.

1 – Essa é uma das razões porque poucos acreditam que o sr. Assange recebeu 250,000 documentos das mãos de um soldadinho, lá no Iraque, que se entretinha a ouvir Lady Gaga e, nos intervalos, "chupava" telegramas diplomáticos do sistema, tal qual criança a se deliciar com um picolé.
Quando o escândalo estourou o governo americano precisou dar uma resposta imediata à sociedade. lá é assim. Se não, os gritos seriam ensurdecedores. Portanto, teve de arrumar logo um culpado, ora! Como poderia esconder, ou disfarçar, que o seu sistema de bilhão e meio de dólares, dos contribuintes, tinha mais buracos que um queijo suíço?
2 – Essa é outra das razões, desconfio, porque já há gente mostrando cópias desses telegramas com assinaturas e até partes de textos diferentes das que o WikiLeaks divulga. E isso é muito sério. Tão sério que arruína de vez a credibilidade do sr. Assange; fato que o transforma, metaforicamente, claro, num sujeito procurando notoriedade com uma melancia pendurada ao pescoço, mas querendo aliviar-se do peso do fruto, sem perceber, contudo, que está se expondo ao ridículo.
Isto é, ele se mostra incapaz de assumir as responsabilidades morais e éticas pelo prejuízo moral e profissional que está causando a pessoas, todas de segundo e terceiro escalões, pois nenhum “poderoso” que ele tanto quer atingir, para “cobrar responsabilidades”, foi sequer afetado ou nomeado.

E mais: a partir do momento em que Assange apagou os nomes de alguns com disposição para trair os seus países, lançou uma onda de suspeição em cima de todos os diplomatas e autoridades, de diferentes nações, que tiveram conversas formais e necessárias com os americanos

Enquanto o barro está no ventilador, Assange fica anunciando que publicará uma enxurrada de informações sobre o Bank of América, e de não sei quantas empresas mais, que farão estremecer os pilares do Olimpo...
3 – Pela clara falta dessa “liberdade de informação genuína”, nos documentos diplomáticos, o seu principal aliado e co-fundador do WikiLeaks, Daniel Domscheit-Berg, decidiu abandonar a “Organização” e criar o seu OpenLeaks, com a promessa de ser mais transparente que o sr. Assange. Tomara que consiga.

– Infelizmente todos estes fatores levaram-me a perder o interesse na leitura dos telegramas, embora, ao principio, tenha acreditado piamente (tolinho), que a divulgação se procedia pautada na coragem de alguém defender e praticar, com firmeza, o conceito de liberdade total de informação. Liberdade essa que Assange parecia transmitir com bastante convicção nas entrevistas que deu.

Apenas para quem desconhece o bom jornalismo:

1 - Uma informação pode ser revelada sem especificar nomes e sem colocar a sua credibilidade em jogo. Para não entrar em muitos detalhes, nem aqui cabe uma aula de jornalismo, o caso do Wartergate está na net para quem quiser relembrar ou conhecer, pela primeira vez, o que é o bom jornalismo e como se divulgam documentos.

2 – Quando em um documento escrito constam dois ou mais nomes, e esse documento é adulterado, – apagando-se um dos nomes e/ou cortando parte do texto, – se não houver uma cópia do documento original impresso para provar a boa fé desses cortes, o documento eletrônico perde completamente a sua credibilidade.
Apresentá-los da forma como o WikiLeaks o faz, ainda mais divulgá-los também por meio eletrônico, com partes cortadas e nomes substituidos por "XXXX", só dá azo ao surgimento de especulações e levantam dúvidas quanto à sinceridade das palavras do sr. Assange a favor da liberdade de informação.
3 - O sr. Assange, ao permitir apenas a visualização do nome de quem redigiu a informação recebida, acreditando com isso, talvez, dar veracidade ao texto, peca fragorosamente contra o princípio básico do bom jornalismo, onde uma fonte deve ser checada e re-checada antes do fato ser divulgado, para que esse mesmo fato se veja autêntico e verídico.
Mais ainda, se a fonte que dá origem ao texto aparece plasmada nesse texto, de modo algum poderá ser apagada, sem correr o risco invalidar todo o resto.
4 – O Sr. Assange, ao violar e adulterar um documento eletrônico, recebido de forma abstrusa, permite – e até incentiva – que o dono legítimo e primário desse documento, proceda igualmente a uma adulteração, apenas para desacreditar o que foi publicado... e “provar” que o sr. Assange é mentiroso ou tem intenções tão obscuras quanto as fontes que lhe forneceram os 250,000 telegramas.
É a palavra de um contra a do outro, sendo que o sr. Assange foi quem começou por alterar algo que não devia. Não só apagou os nomes dos informantes como alterou partes do texto e, pior, ainda acrescentou, no topo de alguns telegramas, uma frase, que hoje se sabe ser absolutamente mentirosa: "This record is a partial extract of the original cable. The full text of the original cable is not available". [Este registro é uma extração parcial do telegrama original. O texto completo do telegrama original não está disponível].

Coisa de gente burra, lá isso não se pode negar.

Se o telegrama foi “chupado” do sistema, onde consta remetente, destinatário, assunto e boa porção de texto, como é que “uma parte” não está disponível? Porquê? Que “parte” é essa? A que se refere? É importante? Que informação contém/ continha? Se falta uma “parte” do texto, será que a “parte” divulgada não foi mexida para parecer adequada ao contexto? A "parte" que falta esclareceria a falta de esclarecimento ou precisão em determinado assunto?

São muitas perguntas sem respostas que permitem outras tantas, igualmente sem resposta.
Se por alguma razão Julian Assange for obrigado a vir a público para provar que um documento por ele adulterado e publicado, é mais verdadeiro do que o apresentado pelo proprietário legítimo, nenhum juiz sentenciará a favor do sr. Assange. Pior, ainda correrá o risco de ser processado por calúnia e por uma dezena de delitos outros.

Os boatos já começaram e os americanos estão sedentos para atirarem Assange numa prisão e jogarem a chave fora.

Essa é uma das razões, pelas quais, apesar de ter tido em minhas mãos as cópias de dois documentos “provando” que o publicado por Assange difere do original, sequer dei importância.

Uma violação primária já aconteceu. De forma desnecessária e bastante burra, é certo. Julian Assange, ou alguém a mando dele, violou e adulterou o texto de telegramas.

Qualquer coisa que prove o contrário retira-nos a possibilidade de acreditar em qualquer dos lados. Nem nos telegramas divulgados por Assange, muito menos em quem mostra que o gato é gato e não é uma lebre. Todos os documentos foram enviados por meio eletrônico que permite qualquer alteração e/ ou correção retroativa ou posterior. Só tendo acesso aos registros de alterações no sistema se poderia, eventualmente, comprovar quem mostra o gato e quem mostra a lebre. Eventualmente!

Portanto, a partir desse ponto, não posso mais acreditar no que o Wikileaks divulga; nem mesmo usar os telegramas para qualquer fundamentação histórica.

Sem dúvida alguma o sr. Assange meteu os pés pelas mãos. Transformou os 250,000 documentos, como diria Shakespeare, num evento sem catarse que, “ao lento cair do pano, só nos deixa, como objeto de meditação e fruto amargo, uma interminável fila de interrogações..."

Interrogações essas que os aficionados dos complôs e das conspirações maçônicas já saberão tirar meio metro de pano para confeccionar mangas quilométricas, repletas de ilações e ocorrências, que nunca aconteceram, mas a imaginação se encarregará de provar que “realmente existiram”.

Como diria o meu avô, é uma pena ver um rapaz tão jovem, tão bem apessoado, com um pote de melado na mão a se lambuzar feito um rematado imbecil.


Leia também:

Reflexões sobre o WikiLeaks - parte 1.

Fã petista ensina como ler documentos do WikiLeaks. Pode?

Lula defende WikiLeaks. Por quê?

Julian Assange e o WikiLeaks


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