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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A emoção sem pudor no pegulhal.

Há mais de 30 anos convivo com o jornalismo de vários países. Já vi de tudo. De tudo li um pouco também. No entanto, do lido e do visto, nunca nada me asqueou tanto como as transmissões atuais da Globo News Internacional sobre a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro.

Quanto à Record Internacional vou poupar os dedos. Aqui em casa esse canal a serviço da demagogia, da empulhação religiosa, foi abolido decisivamente. Na minha opinião é uma TV de vigaristas. Todos os que lá trabalham deveriam ser presos; a começar por Paulo Henrique Amorim e a terminar na Ana Paula Padrão.

Que pena não enforcarem mais os charlatões...

É inadmissível a desfaçatez, principalmente a falta de escrúpulos, a falta de moral e o desrespeito humano desses mistificadores na exploração da desgraça alheia sem qualquer outro propósito senão o de manter o rebanho embasbacado diante da telinha para instigá-lo às porcarias que anunciam.

Só mesmo o Brasil para produzir jornalismo emocional-apelativo-imoral. Nos meus anos nesse país sempre tive a impressão que os brasileiros mais se parecem a cabras a balir diante do alvoroto. Fazer o quê? Nem para carneiros lanígeros servem. Falta-lhes essência. Falta-lhes inteligência. Falta-lhes sobretudo consciência cidadã e amor próprio.

Não admira que o jornalismo seja tão ruim, tão superficial, tão dramalhão.

Às portas da falência, as organizações Globo deram para exagerar na demagogia Iurdiana.

Explorar o mórbido dá audiência. Sempre deu. Pena que proporcionem só circo sem pão. Quanto maior o dramalhão mais anunciantes bons aparecem com aquelas promoções “imperdíveis em deiz vêz sem juro”, pois a patuléia sequer percebe nas “deiz vêz” as duas ou três que paga a mais pelo produto que é induzida a comprar.

Assim, o famoso padrão global de qualidade, imposto outrora por Walter Clark e José Bonifácio Sobrinho, foi aposentado. A competência profissional idem. Hoje prevalece um bando de ineptos a trabalharem à laia de âncoras nos telejornais. Nem português correto sabem falar.

Às vezes chego a ter dó da gramática, tal a quantidade de pontapés que recebe.

O jornalismo da Rede Globo, como um todo, tornou-se realmente abjeto, fedorento, adesista e muito, muito espurco! Dá nojo, raiva até, ver esses metidos a profissionais da informação a explorarem a desventura alheia e a aflição das vítimas do descaso, do egoísmo e da corrupção dos governantes brasileiros... sem a menor preocupação em descer ao fundo da questão e cobrar responsabilidades.

No entanto, em cada chamada, encarregam-se de anunciar o noticiário sobre as "VÍTIMAS DAS CHUVAS".

Num mote incessante esse jornalismo velhaco repete à insanidade as mesmas cenas, as mesmas entrevistas e o mesmo festival de nescidades dos repórteres travestidos de virgens pudicas numa logorréia sabujada.

Até Sandra Moreira, mais feia do que nunca, foi tirada da aposentadoria para se meter de botas na lama. Coitada. Pensava que já tinha falecido.

Nenhum desses plumitivos, (e digo “plumitivos” com absoluto desprezo), corre atrás dos políticos obscenos, das “otoridades”, para exigir ações imediatas, eficazes e vigorosas contra o descaso e caos que campeiam à solta pelas três maiores cidades inundadas.

Já há provas materiais e documentais, – pra lá de suficientes, – a comprovarem sem qualquer sombra de dúvida que toda a tragédia na Serra do Rio de Janeiro poderia ter sido evitada com um ano de antecedência. Portanto, responsabilidades criminais precisam ser apuradas, cobradas e indenizações civis devem ser exigidas e pagas imediatamente. Meter dois ou três prefeitos na prisão seria muito bom... Seria também um exemplo para os próximos que os sucederem.

Enquanto o cidadão brasileiro não tiver tal consciência, continuará a morrer em tragédias iguais a cada ano... e a Globo sempre frisará que são “Vitimas das Chuvas”.

Certamente por isso preocupa-se tão-somente em exibir as imagens da lama, as toneladas de donativos e em divulgar os aluguéis prometidos pelas prefeituras para casas inexistentes, onde não há sequer um só barraco para alugar...

Jornalismo fútil, corrupto e despreparado procede dessa maneira.

Educar a população ou mostrar-lhes os direitos que têm, nem pensar! Denunciar a zorra que existe na distribuição dos donativos, tampouco! Mostrar que os prefeitos e secretários se aboletaram com o dinheiro repassado pela União, é assunto melindroso! Poderá aborrecer algum anunciante. Denunciar que esses mesmos prefeitos estão cerceando a distribuição dos donativos, apesar de todas as acusações circulando em Blogs e Twitter, não faz parte da pauta...

Aliás, até a este exato momento, em nenhum jornal ou revista de grande circulação na bananolândia, eu vi clamor algum para imputar responsabilidades ao Estado do Rio de Janeiro ou às Prefeituras envolvidas.

Mas mostrar e repetir à náusea as lágrimas de crocodilo do Sérgio Cabral, isso a Globo faz muito bem.

Os editoriais dos jornais mais parecem caricias meigas quando tocam nas enchentes. Que jornalismo mimoso... Quem escreve tais arrazoados é bom de escapismo político e até social. Creio que deve enxergar só de um olho com alto grau de miopia.

O Estado do Rio de Janeiro, as Prefeituras das cidades alagadas e o Governo Federal são os verdadeiros responsáveis pelos mais de 700 mortos, cujo total oficial certamente ultrapassará os 1.000... sem levar em conta os inominados perdidos debaixo dos metros de lama... dos quais jamais se conhecerá o nome ou direito terão a um enterro decente.

Por outro lado, tampouco li algo sobre algum desígnio da OAB em desenvolver esforços para unir os desabrigados numa ação coletiva, por perdas e danos, contra os responsáveis pela tragédia.

O Ministério Público também se mantém silente. Várias centenas de mortos não dão publicidade ao “laborioso” trabalho desses senhores na defesa e proteção da justiça. É mais gratificante correrem atrás do Paulo Maluf... dos milhões escondidos na Suíça.

O que são 700 ou 1.000 mortos soterrados, comparados com os 53.000 assassinados ou os 100.000 falecidos em acidentes viários, se nem estes merecem mais destaque nos jornais?; ou ações judiciais contra governos estaduais por roubarem o dinheiro do conserto das estradas?

E o povo? As verdadeiras vítimas, costumeiras, habituais e constantes do desgoverno brasileiro?

Ora... a Globo já se encarregou de exibir, insistente e continuadamente, vários Silvas sem barba e Lindinalvas de largas ancas, homens e mulheres de pouca instrução a sorrirem desdentados enquanto se proclamam “guerreiros”... “vitoriosos”... “cheios de esperança”, pois a vida continua e é preciso “pelejar pelo leite das criança”...

Até agora não entrevistou nenhum dos milionários que por lá tinham casa. Entrevistar “azélite” não seria adequado politicamente ao foco social-mentecapto do governo petista... Além disso, haveria que editar quase tudo do que dissessem... e não sobraria nada para levar ao ar.

Coitado dos Silvas e das Lindinalvas. Mal sabem o que dizem... Nem o que fazem... Tampouco percebem a estultice a dominar-lhes o cérebro, impedindo-os de exigirem pra valer os direitos que têm como cidadãos; ou reclamarem as indenizações a que fazem jus por serem vítimas, não das chuvas, como tanto a Globo insiste, mas da irresponsabilidade daqueles que elegeram para os proteger e governar.

Mal sabem tais pobres de espírito que os seus familiares e amigos não morreram por causa das chuvas..., mas porque eles próprios, embora vivos, assim como os mortos pelas avalanches e enxurradas, não souberam eleger com consciência políticos capazes. E, para os que irresponsavelmente elegeram, elegem ou elegerão, tampouco sabem ou saberão exigir deles vontade política para resolver os seus dramas, as suas necessidades que se repetem ano após ano, todos os anos em janeiro, fevereiro e março.

Ano que vem a Globo já se encarregará de martelar novamente as cabeças, a diário, alcunhando as vítimas do descaso governamental de “Vitimas das Chuvas”. Os novos Silvas sem barba e as Lindinalvas de quadris amplos, acreditarão; com orgulho sentir-se-ão ainda mais "guerreiros"... por salvarem um dos filhos e sepultarem o pai, a mãe e a filhinha mais nova.

Tragédias com tantas mortes, seja em Santa Catarina ou em Angra dos Reis no ano passado, ou a presente e colossal na região serrana do Rio, só acontecem por puro descaso político. A Globo, povoada pela enorme imbecilidade que passou a dominá-la, finge ignorar esse fato.

A Globo prefere chamar carinhosamente os desabrigados de “vítimas das chuvas”. Prefere mostrar as palafitas e barracos a se despencarem nas áreas de risco. Prefere insinuar maliciosamente que os Silvas sem barba e as Lindinalvas são os responsáveis pelas próprias tragédias, pelo lixo nas ruas, pela fragilidade das construções...

É revoltante! É nojento!

É muito fácil atribuir culpas a quem não conta nem dispõe de uma política habitacional honesta e de qualidade. É muito fácil culpar os palafiteiros pelo lixo nas ruas quando o serviço de coleta é ruim, superfaturado venalmente e só passa dois ou três dias por semana... se o motorista do caminhão estiver de bom humor e os bandidos da favela não usarem o veículo como alvo dos tiros.

Quando um governo confessa por escrito à ONU que: – “grande parte do sistema de defesa civil do país vive um despreparo generalizado e não tem condições sequer de verificar a eficiência de muitos dos serviços”, – não merece ser governo. Deve ser deposto.

Num país decente acontece assim.

Contudo, nem as vítimas vivas, ou os delas solidários, nem os mortos nas tragédias brasileiras entendem isso e todos, em uníssono, se eximem de qualquer culpa. Com tanta exculpação os governadores, senadores, deputados, vereadores e o próprio presidente da republiqueta só precisam engrossar o coro. Eles são, afinal de contas, o reflexo dos seus eleitores.

Rezemos então pela alma dos mortos. Especialmente pelas das crianças... elas sim, totalmente inocentes das irresponsabilidades políticas e sociais dos adultos.

Pelos vivos não vale a pena. Se forem pobres, já se sentirão “guerreiros”, reconfortados com a mixaria que ainda... apenas alguns, (pois não serão todos)... haverão algum dia de receber do Estado... em fevereiro?... Quem sabe março, outubro, dezembro?... Talvez janeiro de 2012 ou 2014?; quando começar a campanha para a volta do Silva com barba e os cordões da burra forem abertos à descarada.

Nesse meio tempo os ricos já se encarregarão de receber, por meio dos seus bons advogados amancebados, as suas indenizações polpudas sob o manto da justiça sigilosa.

Tal como o alfeire de vítimas de Santa Catarina, há mais de ano relegadas ao abandono, o pegulhal da região serrana do Rio já se orgulhará do seu status “guerreiro” coberto com muitas roupas velhas. "Vitorioso", deliciar-se-á a beber água mineral ofertada pela solidariedade nacional... de milhares de Capra hircus outros, a balir diante da telinha... com vontade de ajudar, porém, com mais vontade ainda de comprar uma nova TV de plasma em “deiz vêz sem juro”.

Tragédia anual vista em 40 polegadas na parede do barraco é mais plangente. A emoção pelas "vitimas das chuvas" brota e rola sem pudor...


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