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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

32 dias de Brasil


Se há algo que passou a aborrecer-me solenemente é aparecer alguém insistindo para que realize algum trabalho no Brasil.

Ultimamente, só para isso querem contratar-me. Até agradeço. Assim posso descansar.

Já perdi as vezes que recusei. Muitas empresas também não concordam com o que cobro; 20 vezes mais do que a tarifa diária habitual para ir a qualquer outro lugar.

É a forma delicada que encontrei para recusar um trabalho. E as empresas recusam.

Ainda bem! Ao não aceitarem os honorários, não crio constrangimentos.

Quando saí desse sórdido Brasil e adotei a nacionalidade Belga, risquei do mapa a minha origem. Não sinto a menor saudade.

As vergonhas e humilhações pelas que passei, só por ser brasileiro, levaram-me a isso.

Afinal, ainda no Brasil, percebi que era uma voz isolada num mar de covardia; no meio de um povo abjeto e inescrupuloso que adora chafurdar na lama.

Trinta e dois dias atrás não houve jeito nem esperneio.

Desta vez me dei mal.

Uma empresa de doidos aceitou a exorbitância dos meus honorários, quatro seguranças armados, carro blindado e todas as despesas pagas. Sem questionar tais absurdos, essa empresa deixou-me sem alternativa. Nem acreditei! Não tive outro remédio senão voltar ao Brasil.

Pior, fui obrigado a lá permanecer por infaustos 32 dias; rezando cada noite, na solidão de um quarto de hotel, para que tudo terminasse.

Dentro da minha própria armadilha confirmei que no Brasil a degradação só aumenta ladeira abaixo. É um país “invivível” como me disse o ignorante que se sentou ao meu lado na sala de embarque do aeroporto de Guarulhos.

Regressei trasanteontem, exausto, deprimido... absolutamente enojado.

Nunca na minha vida havia sentido tanta repulsa referente a algo como a que me invadiu em relação aos meus ex-compatriotas.

Que povo pusilânime!

Que gente desprezível!

Que falta de caráter campeia pelo Brasil!

A situação está pior do que três anos atrás quando larguei esse “paíf” imundo.

Até o Partido dos Trabalhadores deixou de lado a habitual hipocrisia da ética e passou a mostrar a sua verdadeira identidade; a mesma com que iniciou a vida política, nascida nos sindicados, o ambiente mais corrupto e venal que existe.

A estupidez absurda dos brasileiros caminha agora lado a lado, ao léu, de braço dado com a leniência, com a roubalheira, com o crime organizado em todos os setores e camadas da sociedade... A ética sumiu de vez e a moral suicidou-se de vergonha.

O maior ladrão de todos preside o senado. O maior hipócrita de todos comete crime de responsabilidade e para ambos prevalece a mudez popular.

Essa viagem ensinou-me uma grande lição: – não importa o que a gente diz. Importa sim se o que a gente diz é compreendido e absorvido por quem nos escuta.

Nunca mais cobrarei valor algum para trabalhar no Brasil. Simplesmente direi alto e de viva voz que não vou. Não aceito. Não quero.

Trabalhar no Brasil requer estômago.

Tenho para mim que a vida a determinada altura começa a tirar mais do que dá.

Acontece com todos nós. Portanto há que se aproveitar o pouco que dá.

Ir ao Brasil é uma dessas experiências que só tira anos de vida.

Esta manhã recebi pelo correio o cheque dos meus honorários. Uma fortuna. Momentos atrás endossei-o e pedi à minha secretária que o doasse para uma instituição de caridade.

Não quero desfrutar de um dinheiro resultante de um trabalho que detestei realizar junto a pessoas e empresas que formam a pior escória que já conheci.

De hoje em diante, por dinheiro algum, jamais regressarei ao Brasil, cujos cidadãos parecem que foram inventados para se torturarem uns ao outros e roubar e enganar até mais não poder.

A filial brasileira da empresa que me contratou será fechada até final de dezembro 2009 e 2.200 brasileiros serão demitidos.

É na rua e na miséria que os brasileiros devem ficar, pois lá, a lama que tanto gostam abunda em maior profusão.


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