4 – Amor assaz
Hoje estou rouco e tu em cotos de tanto escrever. Tanto fez como tanto faz.
Por que uso o blog para te responder? Por um vício antigo de agatanhar o peito; de me exibir a Cristo. Por ter desfilado pela tua rua e ao te deixar nua não quisestes atender. Porque nem Deus me move a te escrever. Até o inferno tão temido não te impede de me ofender. Tampouco quero ver o teu corpo ferido. Ainda que o céu exista não o tens de me dar. O que restou para amar? Lê-me em público com os teus olhos negros, pois amar fizeste em segredo. São palavras, meu anjo. Hoje toca a mim angelizar.
Alguma vez as palavras encontraram asilo em teu peito para fazer-te gozar em minha alegria? Por favor não sofras com a minha dor. Não o faças! Sabes que não vale a pena. Que exagerada és. Sente o palpitar da vida, isso sim. A oferenda da nossa vida; o riso e lágrimas do nosso amor. Faz isso. Se pus nas tuas mãos a minha alma e os sonhos rasgados? Eu nem vi a poeira deles que o teu gesto espalhou pelo chão.
Carlos Drummond, a quem tanto recorres, perguntou certa vez: – “Por que é que revoa à toa o pensamento, na luz? E por que nunca se escoa o tempo, chaga sem pus?” – Vês? Acho que ele nunca soube responder. Da minha parte, como aprendi a conhecer-te, apago a luz, paro o tempo e assim não sinto chagas nem vejo pus.
Obrigado pelos beijos. Agora todos sabem que me beijas... Em letras, sim. Numa palavra. Mas eu beijar-te? Hummm... isso receio, não poderá se dar. Temo tremer ao te abraçar.
Volto a angelizar meu anjo formoso, mãe dos raptados, parente dos assassinados. E a tua vida como anda? O que fazes com ela? Não que me interesse, mas vejo que é sobejo para a ignorares. Novas eleições se avizinham, afinal... Oportunidade ímpar para se repetirem os mesmos erros. Os colossais e persistentes enganos da maioria. Soube que a tua amiga é candidata novamente. Essa mulher parece um herpes, não crês? Não me digas que quer ser eleita para encher com botox os buracos das ruas . Talvez numa parceria com o velho Serra para sepultar de vez a ética nacional? Votarás nela, claro; e nele pra presidente, estou seguro. Rio-me. Que os anjos te protejam. A todos que aí vivem, também. E tu ainda queres que regresse? Sei...
Sei que és fresca como um mar salgado. Doce como néctar. Que suave são os teus seios... Meigos como brisa em final de primavera. Mas... parafraseando Fernando Pessoa, diz-me: – Quanto do teu sal são lágrimas minhas? – Tu sabes como sou. Perco-me fácil no murmúrio de uma promessa e tu nunca encontras a certeza de um sentimento. Eu sei que quando olhas para trás te sentes linda e desejada. Então anda; caminha. Não tenhas medo. A orquestra está a tocar. Caminha. Agora pára! Olha para trás. Como me vês? Ainda te sentes linda e desejada?
Tu me destes o direito de indagar, embora não espere qualquer resposta. É verdade! Crê-me! Arrastar anacronismos românticos faz mal à saúde. Como te disse antes, fizeste das tuas ações a exceção à lei da amizade e cumpriste a regra, infelizmente, de todo o amor. Se nunca antes perguntei nada, foi porque nada havias roubado verdadeiramente de mim. No âmago da tua exacerbada presunção achaste que eu nunca perceberia? Eu te dei um voto de confiança e tu não soubeste merecê-lo. Nada em meu peito os anos hão deixado. Se queres contemplar, contempla. Diante de ti está o deserto e Deus não está por perto.
Ah, sim, “uma boa lembrança terrena é melhor que a boa fortuna”. – Será? Será mesmo? Não sei se concordo com isso. – Que bom que as minhas palavras “te permanecem como uma doce lembrança ecoando sem cessar num moto-contínuo, no teu pensar”. Que lindo! Se não fosse tão profundo até poderia acreditar... que o teu “coração se rasga a cada hora que nos distanciamos”. Anda, clica «aqui» e lê pra lembrares.
E se memória faltar, nunca pensei chegar a tal desencanto. Só a idéia já me horrorizava. Contudo, hoje, agora, faço minhas as tuas palavras. Do baú na minha ermita retiro o teu Alfred de Musset e os versos que gentilmente me contemplaste:
Por que uso o blog para te responder? Por um vício antigo de agatanhar o peito; de me exibir a Cristo. Por ter desfilado pela tua rua e ao te deixar nua não quisestes atender. Porque nem Deus me move a te escrever. Até o inferno tão temido não te impede de me ofender. Tampouco quero ver o teu corpo ferido. Ainda que o céu exista não o tens de me dar. O que restou para amar? Lê-me em público com os teus olhos negros, pois amar fizeste em segredo. São palavras, meu anjo. Hoje toca a mim angelizar.
Alguma vez as palavras encontraram asilo em teu peito para fazer-te gozar em minha alegria? Por favor não sofras com a minha dor. Não o faças! Sabes que não vale a pena. Que exagerada és. Sente o palpitar da vida, isso sim. A oferenda da nossa vida; o riso e lágrimas do nosso amor. Faz isso. Se pus nas tuas mãos a minha alma e os sonhos rasgados? Eu nem vi a poeira deles que o teu gesto espalhou pelo chão.
Carlos Drummond, a quem tanto recorres, perguntou certa vez: – “Por que é que revoa à toa o pensamento, na luz? E por que nunca se escoa o tempo, chaga sem pus?” – Vês? Acho que ele nunca soube responder. Da minha parte, como aprendi a conhecer-te, apago a luz, paro o tempo e assim não sinto chagas nem vejo pus.
Obrigado pelos beijos. Agora todos sabem que me beijas... Em letras, sim. Numa palavra. Mas eu beijar-te? Hummm... isso receio, não poderá se dar. Temo tremer ao te abraçar.
Volto a angelizar meu anjo formoso, mãe dos raptados, parente dos assassinados. E a tua vida como anda? O que fazes com ela? Não que me interesse, mas vejo que é sobejo para a ignorares. Novas eleições se avizinham, afinal... Oportunidade ímpar para se repetirem os mesmos erros. Os colossais e persistentes enganos da maioria. Soube que a tua amiga é candidata novamente. Essa mulher parece um herpes, não crês? Não me digas que quer ser eleita para encher com botox os buracos das ruas . Talvez numa parceria com o velho Serra para sepultar de vez a ética nacional? Votarás nela, claro; e nele pra presidente, estou seguro. Rio-me. Que os anjos te protejam. A todos que aí vivem, também. E tu ainda queres que regresse? Sei...
Sei que és fresca como um mar salgado. Doce como néctar. Que suave são os teus seios... Meigos como brisa em final de primavera. Mas... parafraseando Fernando Pessoa, diz-me: – Quanto do teu sal são lágrimas minhas? – Tu sabes como sou. Perco-me fácil no murmúrio de uma promessa e tu nunca encontras a certeza de um sentimento. Eu sei que quando olhas para trás te sentes linda e desejada. Então anda; caminha. Não tenhas medo. A orquestra está a tocar. Caminha. Agora pára! Olha para trás. Como me vês? Ainda te sentes linda e desejada?
Tu me destes o direito de indagar, embora não espere qualquer resposta. É verdade! Crê-me! Arrastar anacronismos românticos faz mal à saúde. Como te disse antes, fizeste das tuas ações a exceção à lei da amizade e cumpriste a regra, infelizmente, de todo o amor. Se nunca antes perguntei nada, foi porque nada havias roubado verdadeiramente de mim. No âmago da tua exacerbada presunção achaste que eu nunca perceberia? Eu te dei um voto de confiança e tu não soubeste merecê-lo. Nada em meu peito os anos hão deixado. Se queres contemplar, contempla. Diante de ti está o deserto e Deus não está por perto.
Ah, sim, “uma boa lembrança terrena é melhor que a boa fortuna”. – Será? Será mesmo? Não sei se concordo com isso. – Que bom que as minhas palavras “te permanecem como uma doce lembrança ecoando sem cessar num moto-contínuo, no teu pensar”. Que lindo! Se não fosse tão profundo até poderia acreditar... que o teu “coração se rasga a cada hora que nos distanciamos”. Anda, clica «aqui» e lê pra lembrares.
E se memória faltar, nunca pensei chegar a tal desencanto. Só a idéia já me horrorizava. Contudo, hoje, agora, faço minhas as tuas palavras. Do baú na minha ermita retiro o teu Alfred de Musset e os versos que gentilmente me contemplaste:
Je te bannis de ma mémoire,
Reste d'un amour insensé,
Mystérieuse et sombre histoire
Qui dormiras dans le passe!
Et toi qtíi, jadis, d'une amie
Portas la forme et le doux nom,
L'ínstant suprême oú je t'oublie,
Doit être celui du pardon.