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domingo, 22 de junho de 2008

2 – Amor passado...

Por que não me amas no presente?... Amor vazio, vaidoso, sem escrúpulos e prepotente... Só para variar.

Como todo o mundo aí no Brasil, manipulas e deformas as opiniões. Quando as tens. Se as tens.

Outrora respeitável, destes para te comportares como viúva alegre? A exemplo desse governante da estulta maioria, eleito para governar o teu país. Meu não é mais. Tal como ele, cedes às tentações e aos prazeres e passas vergonhas em público por causa dos vícios privados e hábitos clandestinos.

Dignidade, respeitabilidade e ética não são palavras do teu dicionário. Já vejo. Igualmente como ele, quando não as relativizas, gerencias cada um dos seus significados às tuas necessidades. Não me surpreende. Afinal, esse é o espírito brasileiro que deixou de ser heróico para se tornar apenas canalha na voz da maioria. Inclusive na tua.

Que fizestes dos cravos que roubaste do meu jardim? A perversão dos teus atos deu lugar a eufemismos como esse? São apenas flores de vida efêmera; não falam nem têm o meu perfume. Nada arrebataste de mim. O motorista já se encarregou de reconstruir o canteiro e a governanta de plantar novas sementes. Orquídeas, desta vez.

Quando te chegará o dia do amor? Não o meu nem o nosso, pois sei que com ele só no passado convives. Quando tiveres o coração feito em tiras?

O que acontece com as pessoas aí no Brasil que as torna incapazes de tomar o futuro pelas mãos? Todos deram para viver num hiato de tempo entre o que eram e no que se tornaram? Vivem e ouvem vidas que nunca tiveram. Imergem nas novelas da Globo... nos dramas reais e na ficção do que gostariam que as respectivas vidas fossem? Aí nesse ‘paíf’ deram pra ser parentes da criança assassinada ou do menino raptado e choram pelos amores dos Globais enquanto odeiam os malvados das estórias pra boi dormir... contadas por Datenas a serviço do melhor pagador. Viver a vida dos outros, vi, causa-lhes indignação, mas não angústia de pensar nas próprias. Ou no leite falsificado; ou nos preços dos alimentos velhacamente majorados. Nem nas demais, nas favelas a crescer dominadas pela droga que a maioria mesmo alimenta; seja pelo consumo, seja pela covardia de enfrentar o problema, a começar dentro de casa; seja pela estupidez de acreditar que tal luta pertence ao Estado.

Mas tolos, agora se orgulham de serem viajantes solitários de mares internáuticos, do MSN, pecado para quem não o tem. Nem se dão conta que estão apenas perdidos no deserto, tendo por companhia um teclado e a própria imagem refletida na tela do computador.

Assim te vejo. Incapaz de tomares o futuro pelas mãos, sentas-te no estribo da tua vida à espera do jantar e de que alguém ligue a televisão. Não ouves os teus filhos a reclamarem? Eu sei. Tu apenas os escutas enquanto prestas atenção à novela rejeitada, de baixa audiência e péssimos atores.

Não precisas repetir que somos causa, condição e efeito das ações dos outros. Quem te disse isso, certamente não tinha espelho em casa. Por isso quebraste o da minha entrada? Mas não te preocupes. Já o substitui. No teu próximo aniversário, prometo, enviar-te-ei um de presente.


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