3 – Amor no ar...

A honestidade de hoje não é mais valorizada. O que importa é o dinheiro. Não interessa se sou honesto e tu... Importa sim quem tem dinheiro. Quanto mais tu tens, mais respeitada és; quanto menos eu tenho, mais me faltas ao respeito. Parece que é assim que as coisas acontecem no Brasil, não é verdade? Mas, olha...
Lembras do teu amigo Zé Dirceu? Era um pé rapado, um malfeitor, um seqüestrador. De repente, ficou milionário e hoje todos o bajulam e ouvem os seus conselhos. Não importa o quanto roubou e quantos mandou matar... ou o quanto instiga o azêmola para iniciar um governo totalitário a lo Chavez, amantado em Castro. As portas se lhe abrem e não sei quantas calcinhas caem-lhe às pencas pela frente. E tu...
Tu ainda me chamas de herege? Que eu saiba, em grego, heresia significa opção de escolha. Entendo que não conheças o verdadeiro significado da expressão. Assim, permite-me dizer-te que sou. Sou! Claro que sou! Eu optei por escolher o meu futuro. Se fiz uma opção de escolha, sou um herege, sem dúvida alguma. Não concordo com o que acontece no Brasil nem posso seguir esse comportamento nacional que tanto me envergonha. Entretanto, se com tal palavra pretendes atribui-me o mesmo significado maléfico que a igreja católica dá para me transformares em inimigo ou em alguém que falseia ou não acredita, não poderias estar mais equivocada; tanto na acepção, quanto na dose da temperatura...
Não há mais calor nem fogo, querida. Não reparastes que há muito perdemos o fogo e logo o calor? Sem que para isso tivesses te dado conta? Eu fiquei apenas para tentar parar o tempo. Sou um sonhador incorrigível, já vês. Acredito em paraíso infinito e que cada gaivota é uma promessa. Tu destes vida à minha virilidade e a fizeste cantar como um amanhecer de primavera. Em tua alma vivi um outro universo. Hoje não me disperso...
O que acontece com a idade que quanto mais velhos nos tornamos, mais subvertemos o amor? E às sobras ainda chamamos de amor... Eu chamo! Talvez por me lembrar das tuas formas... dos ângulos onde me achavas e eu te fazia descobrir a ti mesma... A ti...
A ti que embalei em meus sonhos, cheguei a ouvir o que nunca foi dito... e aprendi a saber de mim através do que eu sei de ti. Ah... mas isso é apenas vaidade, que menos tu entenderás. O meu respeito por ti vai além de quanto vivo, embora saiba que nunca fomos um, que somos dois e continuaremos a ser dois. Em toda a nossa vida sempre seguimos caminhos diferentes... Nossa vida? Vê só como me ponho.
Que sinfonia nos ligava à mesma freqüência? O riso? Como era inebriante dançar contigo naquele piso lajotado da Confraria... E no clube? A orquestra era horrorosa, mas o show era só nosso. Lembras? Claro que sim! Nem tantos anos se passaram daquele estúpido vestido vermelho... Da contrição que vivi para descobrir depois que foi por maldade... A mesma iniqüidade do eufemismo dos cravos... Sem razão...
O pensamento faz engolir um vômito de fel... Faz, não faz?
Como se ama o silêncio, a luz e o aroma? Aconselho-te a perguntar a Gonçalves Dias. A mim... Ele me disse que amo em ti tudo quanto sofro.
Liberdade é uma coisa rara minha amiga e há que saber usá-la com sensatez.