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quarta-feira, 25 de junho de 2008

3 – Amor no ar...

Ah, minha amiga... Agora somos anjos? Se me chamaste de anjo... Quanto do meu limo te contaminou? Quantas absurdas intrigas queres contar? Dos medos que lutei? Das penas que perdi? – Não! – Nem dos enredos que tu acreditas. Eu sei...

A honestidade de hoje não é mais valorizada. O que importa é o dinheiro. Não interessa se sou honesto e tu... Importa sim quem tem dinheiro. Quanto mais tu tens, mais respeitada és; quanto menos eu tenho, mais me faltas ao respeito. Parece que é assim que as coisas acontecem no Brasil, não é verdade? Mas, olha...

Lembras do teu amigo Zé Dirceu? Era um pé rapado, um malfeitor, um seqüestrador. De repente, ficou milionário e hoje todos o bajulam e ouvem os seus conselhos. Não importa o quanto roubou e quantos mandou matar... ou o quanto instiga o azêmola para iniciar um governo totalitário a lo Chavez, amantado em Castro. As portas se lhe abrem e não sei quantas calcinhas caem-lhe às pencas pela frente. E tu...

Tu ainda me chamas de herege? Que eu saiba, em grego, heresia significa opção de escolha. Entendo que não conheças o verdadeiro significado da expressão. Assim, permite-me dizer-te que sou. Sou! Claro que sou! Eu optei por escolher o meu futuro. Se fiz uma opção de escolha, sou um herege, sem dúvida alguma. Não concordo com o que acontece no Brasil nem posso seguir esse comportamento nacional que tanto me envergonha. Entretanto, se com tal palavra pretendes atribui-me o mesmo significado maléfico que a igreja católica dá para me transformares em inimigo ou em alguém que falseia ou não acredita, não poderias estar mais equivocada; tanto na acepção, quanto na dose da temperatura...

Não há mais calor nem fogo, querida. Não reparastes que há muito perdemos o fogo e logo o calor? Sem que para isso tivesses te dado conta? Eu fiquei apenas para tentar parar o tempo. Sou um sonhador incorrigível, já vês. Acredito em paraíso infinito e que cada gaivota é uma promessa. Tu destes vida à minha virilidade e a fizeste cantar como um amanhecer de primavera. Em tua alma vivi um outro universo. Hoje não me disperso...

O que acontece com a idade que quanto mais velhos nos tornamos, mais subvertemos o amor? E às sobras ainda chamamos de amor... Eu chamo! Talvez por me lembrar das tuas formas... dos ângulos onde me achavas e eu te fazia descobrir a ti mesma... A ti...

A ti que embalei em meus sonhos, cheguei a ouvir o que nunca foi dito... e aprendi a saber de mim através do que eu sei de ti. Ah... mas isso é apenas vaidade, que menos tu entenderás. O meu respeito por ti vai além de quanto vivo, embora saiba que nunca fomos um, que somos dois e continuaremos a ser dois. Em toda a nossa vida sempre seguimos caminhos diferentes... Nossa vida? Vê só como me ponho.

Que sinfonia nos ligava à mesma freqüência? O riso? Como era inebriante dançar contigo naquele piso lajotado da Confraria... E no clube? A orquestra era horrorosa, mas o show era só nosso. Lembras? Claro que sim! Nem tantos anos se passaram daquele estúpido vestido vermelho... Da contrição que vivi para descobrir depois que foi por maldade... A mesma iniqüidade do eufemismo dos cravos... Sem razão...

O pensamento faz engolir um vômito de fel... Faz, não faz?

Como se ama o silêncio, a luz e o aroma? Aconselho-te a perguntar a Gonçalves Dias. A mim... Ele me disse que amo em ti tudo quanto sofro.

Liberdade é uma coisa rara minha amiga e há que saber usá-la com sensatez.


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