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quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Carta aberta a Geraldo Alckmin

Meu caro Geraldo,

Se eu ainda fosse brasileiro e morasse em São Paulo, certamente votaria em você para Prefeito. Em você, na sua pessoa. Sem hesitar! Unicamente forçado pelo sistema bronco de eleições que existe no Brasil para escolher representantes do povo. Sistema esse que políticos espertos fazem de tudo para mantê-lo no “paíf” e o povo indolente e burro nada faz para mudá-lo.

Se o voto fosse distrital ou partidário, por mais que simpatizasse com a sua trajetória política e conduta pessoal, nem pensaria no seu nome. O Partido ao qual você está afiliado anula a minha boa vontade e as suas qualidades, meu caro Geraldo. O PSDB é para mim apenas mais uma ante-sala do PT. Em outras palavras, a mesma agremiação de larápios, porém, com um pouco mais de cinismo e alguns escrúpulos. Isso não os torna melhores que os petistas. Ao contrário. Por esta razão decidi escrever-lhe.

Você deveria ter-se filiado a outro partido em vez de passar férias nos Estados Unidos. Qual? Não importa mais. Agora é tarde para isso. Você não viu que no Serra não se pode confiar! Não acreditou nos augúrios. Afinal, ele é o herdeiro e executor da perversidade e do maquiavelismo do Sérgio Mota; e FHC, apenas um falastrão da retórica, cuja coluna vertebral assemelha-se mais a um éclair onde o confeiteiro esqueceu de colocar o recheio. Não se esqueça da razão primária pela qual ele foi escolhido, na época, durante o Consenso de Washington, para ser o candidato à presidência.

Pelas notícias que me chegam do Brasil, através de amigos, e pelo que leio nos jornais, via Internet, embora pouca credibilidade dê a estes últimos, creio que você já entrou no mesmo erro que cometeu na campanha para presidente. Isto é, quem manda de fato no seu partido é contra a sua candidatura e a boicota por todos os lados; e você, em vez de lutar contra esses interesses corruptos, denunciando-os, e procurar o apoio claro e objetivo de quem acredita no seu trabalho, adota, mais uma vez, a postura do legume, cujo nome lhe serve de alcunha. Perdoe-me a franqueza, mas você se mostra como um verdadeiro chuchu; sem sabor, gosmento e desenxabido.

Num paralelo leguminoso, o chuchu não demonstra as vitaminas que possui. Você tampouco. Ele não expressa as propriedades interiores nem procura impor-se como nutriente. Você também não. Publicamente, você fica em cima do muro, apesar de não possuir mais a chave da herança que o Covas deixou.

Como o chuchu, – carregado de potássio, minerais e vitaminas A, B e C, fatores necessários aos humanos, – você, necessário a São Paulo, detentor de um passado honesto e ética ilibada, poderia ser a cura para a venalidade e desonestidade, ambas no limiar da ilegalidade, que existem no seu partido e na Prefeitura dessa cidade. Mas você não consegue impor-se. O chuchu tampouco, a ponto de ser detestado por gente que sequer o provou. Assim ocorre com você.

Pergunto-lhe: A sua estratégia atual, tal como foi a da sua candidatura a presidente, é tentar ganhar no segundo turno? Se for, novamente está errada! Perdeu então e, se persistir na mesma teimosia de bom moço afável, sem sabor, perderá novamente.

Não seja casmurro! Você está a enfrentar a Marta pela segunda vez. Em 2000, você ficou em terceiro lugar para a mesma prefeitura. Na época você era então um desconhecido na capital. Hoje não o deveria ser mais. Entretanto, com os atuais 24% de intenções de voto, apesar de ter governado bem o Estado por cinco anos, parece que continua como tal; com algo parecido aos 17% do ano 2000, onde também perdeu para o maior rouba-mas-faz da nação, chamado Paulo Maluf. Parece que oito anos depois a história se repete.

Lembre-se que a democracia no Brasil não comporta nem aceita um sistema competitivo e diferenciado de partidos como ocorre em países europeus, porque viver na verdade requer uma atitude moral. Entretanto, você tem essa moralidade, mas poucos a compreendem ou sequer entendem ou sabem dela e gente do seu próprio partido tenta anulá-la. Você também não a divulga e espera que o povão adivinhe? Ora vamos, não dê uma de utópico. A realidade no Brasil é diferente. É crua e absurdamente dura. Portanto, reaja! Mostre-se! Seja duro quando tiver de sê-lo. Contra o PT terá de sê-lo o tempo inteiro, vinte e quatro horas por dia.

Política no Brasil não se faz com bons modos, Geraldo. A maioria do povo brasileiro toma isso como sinal de fraqueza. Creia-me! Olhe para o Paulo Maluf; processado até às orelhas, mas com um reduto eleitoral de dar inveja. As pessoas que vivem aí no seu “paíf”, que um dia foi meu, são demasiado idiotas para entenderem o que é uma postura ética. Se elas não a possuem como poderão entendê-la? Você não está na Europa nem nos Estados Unidos. Você está num país de gente amoral, cuja maioria perdeu a pouca ética que tinha; por isso votam no Maluf e no PT. Já pensou nisso? Se deu conta, pelo menos? Você está num país de gente politicamente preguiçosa; tanto no aprender como no proceder. Você veio de Pindamonhangaba, esqueceu?

Permita-me que lhe recorde algo que você parece também esquecer a cada minuto: as instituições políticas brasileira são néscias e casmurras, tão duras como pedras. E não pretendem ser de outra forma. Os que delas fazem parte são como nematocistos. Apenas produzem e transportam toxinas. Uma vez no poder, não é sem causa “justa” que criam, recriam ou desenvolvem as mais bizarras razões e acometidos autoritários com o singular propósito de sacrificar a legalidade dos meios em benefício da legitimidade dos fins a que se propõem. As venalidades que as conspurcam são como barreiras impermeáveis que as limitam e comprometem. Os partidos políticos são clubes de fisiologismo onde o sujeito se associa, somente com o intuito de embolsar dinheiro à custa da ingenuidade e da esperança dos seus iguais. Eu sei que este não é o seu caso. Mas quantos dos seus eleitores sabem disso? Ideais políticos ou consciência cívica são inexistentes na maioria do povo brasileiro ou na maioria dos políticos que tentam demonstrar que o Brasil é uma democracia. Balelas! Todos procuram chegar ao poder para transformar o Estado de servil em servidor. Eu sei que isto também não se aplica a você. Contudo, poucos, pouquíssimos o sabem e você, meu caro Geraldo, tampouco se esforça para mostra a sua verdade que é bem diferente de todo este cenário que aí existe.

Geraldo, você tem capacidade e, pessoalmente, acho que é um ótimo administrador público. Mostre-se como tal. Seja combativo. Fale com ênfase. Lute; e se faltar braço, use os dentes. Você escolheu a carreira política, portanto, em campanha, proceda como um político. Um líder, que é isso que se espera de você. Por não ter sido capaz de se mostrar como líder é que a presidência se lhe escapou das mãos.

Em campanha política no Brasil não há lugar para polidez. O povão nem sabe o que é isso. Coloque a sem vergonha da Martaxa no lugar dela. Mande-a para o reduto onde chafurda. Revele os despautérios descarados que essa mulher teve a pouca vergonha de fazer quando foi prefeita de São Paulo. Ataque! Esqueça os telhados de vidro do PSDB. À merda com eles. Que FHCs et caterva se lixem e paguem as conseqüências de serem os espertalhões venais que são. Lute por você, em nome de quem acredita em você. São muitos, acredite. Porém, medrosos, alienados e preguiçosos como bons brasileiros que são. Mande o hipócrita do Serra tomar naquele lugar e mostre ao povo que você não precisa de nenhum tucano para ser o homem correto e honesto que é; algo que eles não são. Lembre ao povo, mas com proeminência, que você criou o Código de Defesa do Consumidor, que virou lei; cuja implementação tem protegido, beneficiado e ajudado esse mesmo povo ignorante e mal agradecido dos aviltamentos a que vinha sendo submetido. O povo é burro e acéfalo, Geraldo; nem mesmo lembra disso. Avive-lhes a memória de galinha que têm. Lembre-se do que aconteceu com o Ulysses Guimarães e não fique “surdo” como ele ficou. Menos ainda, cego!

Se você quiser ganhar terá de lutar na campanha, com as mesmas armas dos petistas e não conte com os homens do seu partido. São um bando de covardes sem honra e sem moral. No que tange ao PSDB você está só. Se mantiver esse seu lado tímido, inodoro e insípido, vá pra casa e aninhe-se no colo da sua esposa. Lembre o que o Lula fez com você no debate televisionado. Deixou você amassado, contra as cordas, e a mentira desse facínora prevaleceu e o povão acreditou nela. Se você perder novamente a prefeitura de São Paulo, digo-lhe com toda a franqueza e muito pesar, dê adeus à sua carreira política e a qualquer outra ambição que tiver nesse campo. Você será rotulado como perdedor.

Meu caro Geraldo, algo do que mencionei até aqui já lhe escrevi antes, e disse pessoalmente num vôo para Brasília, quando foi candidato a presidente contra esse celerado do Lula. Deu no que deu. Acho que você não me leu, não me escutou e eu já me cansei do Brasil.

Se ainda lhe escrevo é por um vício antigo de lutar pelo e por quem acredito. Porém, desta vez não darei um centavo para a sua campanha. Lamento.

A sua postura passada parece ser a mesma de hoje. Com um agravante: você perdeu as eleições anteriores para presidente e, em 2000, para a mesma Marta que enfrenta agora. Junte essas derrotas às pesquisas atuais manipuladas pelos corruptos petistas e você tem o resultado: a sua oponente aparece já nos jornais com 41% de intenções de votos contra os seus parcos 24%. Sabe ao que estes percentuais induzem?

Uma parte significativa da choldra votará na adúltera da Marta. Essa patuléia insana e volúvel votará nela pelo raciocínio habitual e lerdo pensar nacional de que você, com um percentual tão baixo, não tem chances de ganhar mesmo. Nem levarão em conta as suas realizações, a sua capacidade administrativa ou sua honestidade. Foi assim no segundo turno das eleições para presidente que você perdeu; foi assim em 2000 que perdeu também e, provavelmente, se você insistir nessa sua atitude "chuchuzenta", ocorrerá de novo. Quase consigo ver isso com a minha mais infeliz clareza, pra meu próprio desconsolo.

Sem mais delongas e com a franqueza que me caracteriza, espero que me leia desta vez e reflita com cuidado no que aqui lhe digo de peito aberto e sem rodeios; como alguém que lhe quer bem e acredita em você. Aqui, mesmo longe, estarei torcendo pela sua vitória. São Paulo merece e precisa alguém como você à frente da Prefeitura. Boa sorte meu amigo e que Deus o proteja e ilumine.

Um forte abraço


Félix.

Nota: o teor integral desta carta foi enviado, por e-mail e por correio postal, diretamente a Geraldo Alckmin.


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