Caminhos
Mensagem de um amigo meu para uma amiga minha, ambos leitores queridos deste blog, mas que não se falam.
Em alguns momentos das nossas vidas em comum, tenho observado o teu choro enquanto conversamos.
Às vezes lembras de tudo o que já te aconteceu e do que já aconteceu entre nós.... e parece que ficas tonta, como se o chão te faltasse.... Quando observo isso, fico-me perguntando porque sofres tanto?
Será que por algum motivo desconhecido a boa fortuna escolheu caminhos distantes dos teus? Será que todos os contratempos a ti destinados resolveram acontecer de uma só vez? Pelo menos nestes dois anos que te conheço? — Realmente é difícil viver assim!
Sempre me pergunto, se não estarei sendo eu o causador de tanto infortúnio pessoal teu. Contudo, por mais que queira imputar-me tal culpabilidade, olhando a tua vida e a minha... esse ônus não tem sentido.
Sabes porquê? Não percebes o que acontece com as lágrimas que derramas? Olha com atenção. Não conheço o teu passado distante, mas algo do teu presente, diz-me que não foi muito diferente.
O Gnomo-mestre, que reunia folhas numa pequena cabaça, olhou para o aprendiz e disse:
– Meu pequeno Jacinto, percebes o que acontece com as lágrimas que derramas?
– Como assim Senhor, eu não compreendo o que dizes.
Apontando para algumas áreas da mata, o velho e experiente gnomo respondeu:
– Olha com atenção. Por todo o caminho espalham-se flores justamente nos lugares onde tens vertido teu pranto. Tuas lágrimas mágicas têm feito brotar lírios, papoulas e perfumadas alfazemas nos lugares onde caem.
Jacinto olhou ao redor e falou demonstrando admiração e um certo aborrecimento:
– Mas então... quer dizer que o meu destino é sofrer para fazer a floresta se encher de cor e perfume? É preciso que meu coração morra aos poucos para a Natureza se encher de vida? Isso não é justo?
Com toda a tranqüilidade, o Gnomo-mestre respondeu:
– Os olhos vêem o que querem ver. O coração sente o que quer sentir. Então é essa a interpretação que fazes? Se o teu sofrer, meu pequeno, faz brotarem as flores mais belas, o que poderia então surgir do teu sorriso luminoso?
Se transformas o verde da floresta num tapete multicolorido quando choras, o que poderia acontecer no momento em que espalhasses a alegria?
Não será esse o momento de mudar a semente que espalhas? Percebes o poder que tens nas mãos?
A dor cumpre o seu papel e tem sua razão de ser. Sim, deve ser vista.
Mas os olhos não podem se fixar nela por muito tempo, senão perdem a chance de ver o crescimento que ela própria fez acontecer.
As orelhas do gnomo Jacinto se movimentavam enquanto recebiam as preciosas orientações do sábio, como se não quisessem deixar escapar uma única palavra.
Seus olhos, agora mais atentos, notaram que uma luz começava a brilhar em seu peito. Teve vontade de sorrir mas estava difícil, uma vez que sua boca tinha perdido esse hábito. Portanto fez um esforço e logo, logo, seus dentes estavam à mostra.
Foi aí que algo incrível aconteceu: quanto mais ele ria mais crescia. Crescia e crescia. Quem jamais poderia imaginar que Jacinto era um gigante?
Aquele pequeno gnomo era agora um gigante grandalhão e sorridente.
Ele continuou rindo e sua risada ecoava nas montanhas e se transformava em música; musica mágica que curava os passarinhos feridos e as plantinhas doentes.
De uma hora para outra a floresta era só brilho e festa.
Jacinto procurou o Gnomo-mestre para agradecer, mas não conseguia mais enxergá-lo. E foi então que, fechando os olhos, ouviu uma voz que dizia:
"Há e sempre haverá uma forma mais doce de viver. O sofrimento, no momento em que é percebido como sofrimento, já está no ponto derradeiro da sua função e precisa ser substituído por uma outra semente.
Agradeça as lágrimas do passado e diga-lhes adeus.
O momento agora é de focalizar os sorrisos do futuro. Há e sempre haverá uma forma mais doce de viver”.