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sábado, 1 de setembro de 2007

Pegando intimidade com ele

[o texto que você vai ler é um plágio. Por favor, leia o meu comentário abaixo. Se você souber o nome da autora e/ou possuir o texto original, ficarei muito grato se me informar.]

Aprendi a rezar, muito novinho, antes mesmo de ler. Minha vó ensinou. E dizia, meu netinho, reze todas as noites, porque assim Deus já vai pegando intimidade. Quando você for adulto, vai ter zilhões de problemas, e vai precisar muito dos amigos para ajudar a resolver tudo. Deus é um amigo e tanto.

Quando ia chegando a hora de dormir, o pânico ia batendo. Era muita coisa. Parar de brincar, escovar os dentes, colocar o pijama, deitar, fazer o sinal da cruz (lembrando que o primeiro lado é o esquerdo!), dizer todas aquelas palavras decoradas, pensar em ter mil problemas dali a alguns anos, e ainda pedir intermináveis desculpas ao tal de Deus.

A parte das desculpas era, sem dúvida, a pior de todas. Primeiro, porque tinha aquela coisa de pecado. E eu nunca sabia o que era aquilo. Então, somavam-se as desculpas: pelos pecados, e por não saber direito o que eram os pecados.

Segundo, porque eu sempre me sentia um pouquinho ridículo por pensar na remota (ou não?) possibilidade de ter passado aquele tempo todo falando, de fato, sozinho. E se Deus não existisse? Perdão, Deusinho querido, por cogitar esta estúpida hipótese. Mas, que a hipótese existe, lá isso é verdade. E vá me desculpar (de novo!), no caso de você, Deus, também existir.

Até aí, tudo bem. Dúvidas, desculpas, pedidos, frases decoradas, e até algum agradecimento. Enfim, eu acabava conseguindo adormecer. Mas a coisa foi ficando feia, de verdade, quando eu achei melhor começar a me desculpar pelas palavras que dizia nas orações. Achava tudo aquilo muito complicado, e começou a ser assustador quando decidi pensar a respeito.

Ave Maria. Maria era a mãe de Jesus; disso eu sabia. Mas começar chamando a mulher de ave é que não me agradava. Ave não era pinto, galinha, pato e pombo? Vai que a moça se ofende. Se o negócio era pegar amizade com Deus, não era muito inteligente sair dizendo desaforos para o pessoal dele. Eu, pelo menos, não gosto que falem dos meus amigos.

Cheia de graça. Acabei de ofender, agora digo que a mulher é engraçada. Nem a conheço. A vó disse que rezar é conversar com Deus, mas será que não tinha um papinho mais leve para iniciar? Tudo muito estranho nesta reza.

O Senhor é convosco, então, eu dizia bem baixinho, torcendo para que ele não ouvisse. Sabe lá o que significa convosco, e eu dizendo que Deus era isso. A propósito, a conversa não era com a mãe de Jesus? Não entendi a mudança brusca de assunto.

Depois eu dizia que bendita sois vós entre as mulheres, e isso eu mais ou menos entendia como uma homenagem às vós (plural de vó), que ensinavam as crianças a rezarem. Tudo bem.

E bendito, também, era o fruto do vosso ventre Jesus. Como eu dizia com essa (sem essa!) pontuação, parecia algo como, que bacana, a sua barriga Jesus (isso é o nome da barriga dela?) dá frutos. Banana, maçã, uva, etc.; aí vai do gosto do freguês.

Santa Maria (será a mesma que eu chamei de ave antes?), mãe de Deus (não era mãe de Jesus?, os dois são irmãos?), rogai por nós, pecadores (tomara que rogai seja coisa boa, porque pecadores eu já sei que não é), agora e na hora de nossa morte. Como assim, na hora de nossa morte? Morre todo mundo junto? Achei que ia morrendo um por um.

Quando chegava no amém, que eu sabia que significava assim seja, eu já estava fortemente inclinado a não pronunciar a palavrinha mágica. Mas dizia, bem rapidinho, um amenzinho tímido, cochichado, cheio de receios.

Depois, começava a me desculpar por tudo aquilo. Olha, o senhor vai me perdoar aí, eu não quis ofender ninguém. Foi a minha avó que disse essas coisas todas, e mandou que eu fosse repetindo, mas garanto ao senhor que também ela não fez por mal.

No fim das contas, embora o ritual todo estivesse cada vez mais demorado, eu terminava quase certo de que Deus, caso existisse, não me castigaria por dizer tantas bobagens. E, se não existisse, não teria moral nenhuma para falar de mim - afinal, quem passa tantos anos enganando todo mundo que existe, que protege, que ajuda, que isso e aquilo, não tem nada que condenar um menino só porque ele diz meia-dúzia de asneiras antes de dormir. Ouviu bem, seu Deus? E Tchau, que amanhã cedo eu tenho aula, não posso ficar a noite toda aqui, de conversinhas com alguém que eu nem sei se existe.

Na noite seguinte, tudo de novo. E assim fui pegando intimidade com ele, que vem se mostrando até muito gente fina comigo. Aliás, cá entre nós, não conheço melhor maneira de ficar íntimo de alguém do que dar (e receber) algumas xingadinhas. De leve. Experimente!

O texto acima foi enviado pela leitora deste blog que usa o nick ou o nome “Ticiana’s”, de quem nada sei. 

Lamentavelmente não informa o autor! 

E o mais grave, este texto que já era conhecido por mim, tem o gênero modificado para o masculino, quando, no original era feminino, pois foi escrito por uma mulher.

Explico: o texto original foi ganhador [2º. ou 3º. Lugar], de um dos concurso da DirecTV em outubro de 2000, se não me falha a memória. Eu fui um dos jurados, razão pela qual posso testemunhar. Infelizmente, não lembro mais o nome da autora e tampouco guardei registros da época, fato que lamento profundamente. 

Contudo, recordo bem que foi escrito por uma mulher e quero, com estas palavras, comprovar que, apesar de acreditar na boa fé de “Ticiana’s” e agradecer a sua contribuição a este blog, fico absolutamente indignado e furioso com a onda de plágios, cada vez mais grassantes, que estão a acontecer no Brasil. 

Eu mesmo tenho sido vítima dessa prática espúria de gente sem caráter e sem vergonha na cara.

No espaço de um mês este já é o terceiro texto que recebo originado de concursos da DirecTV. Estranhamente, como todos sabem, essa TV por satélite deixou de existir, pois foi absorvida pela SKY que estava à beira da falência. 

Entretanto, não sei por que razão, textos como esses invadiram a Net. Também não entendo porque são adulterados; seja no título, como um deles que me foi enviado e não publiquei; ou no gênero, tal como o presente; ou na forma, como o terceiro que recebi e deletei.

Só posso acreditar que coisas assim só acontecem porque existem pessoas sem honra e, por suas debilidades pessoais, utilizam-se desses plágios numa tentativa de se auto-promoverem pela mitomania que possuem ou pelo onirismo de serem algo, quando, na verdade, não passam de lixo.

É o mesmo fenômeno que vejo na idolatria a brasileiros que apenas nasceram no Brasil e se afamam no exterior. 

Tipo Ayrton Senna, Fernando Vieira de Mello, etc., que procuraram carreiras lá fora, nas quais, por alguma razão se destacaram, e são transformados em heróis nacionais, neste país de qüinquagésima categoria que se chama Brasil. 

Pelo país, essas pessoas nada fizeram, entretanto são idolatrados aqui.

Sem dúvida alguma o Brasil carece de amor próprio. Procura próceres em cada esquina, porque aqui não os há. 

Em vez de incentivar e/ou valorizar quem se destaca, prefere plagiar a seu próprio nome. Em vez de idolatrar quem aqui luta, prefere admirar quem procurou sobreviver lá fora. O brasileiro, homem ou mulher, tem uma índole invejosa, mesquinha e suja. 

Que desgraça eu ter nascido e viver aqui, em meio a pessoas de tão abomináveis maneiras e tão anti-patriotas.


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