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terça-feira, 4 de setembro de 2007

O poder se mede pela resistência

Experimentamos, todos os dias, o contraponto entre as pretensões hegemônicas do Governo e as reações coletivas geradas por tais intenções. 

Por outro lado, num nível talvez mais profundo, este duelo insistente entre a hegemonia governamental e a contestação de todas as formas de grupos de veto, confronta o ideal de uma sociedade civil representada pelo regime da democracia republicana, vis a vis a agressiva realidade de uma sociedade que, com freqüência, apresenta perfis de incivilidade. 

Ideais e realidades: o componente civil a que aspiramos e o componente incivil que nos interpela e desnuda nossas incapacidades.

Thomas de Quincey escreveu que o poder se mede pela resistência. Se não há resistências visíveis, o poder hegemônico avança sem dificuldades e atua com efetividade sobre os flancos institucionais mais débeis (Partidos, Parlamento, Justiça, Forças Armadas, burocracias, manejo discricionário dos recursos orçamentários e fiscais). 


Se, ao contrário, há resistências e se essas resistências estouram nas ruas, se contrai, ou melhor, se escolhe como um tecido molhado. Há, então, duas hegemonias em ação: uma, efetiva, outra, virtual, a que se exerce com prepotência e a que se exerce por cálculo ou temor.

Embora a hegemonia atual devesse gerar no país sentimentos de governabilidade, ainda que com o preço de diminuir os conteúdos republicanos de nossa democracia, a contestação social, produz a impressão de um governo débil, encerrado em palácio, que não mostra a cara e que não se propõe a reagir. 


Hegemonias de pés de barro as temos chamado em outra oportunidade. Naturalmente, estes obstáculos poderiam superar-se, caso os partidos logrem recuperar a autoridade e o prestígio que tiveram quando começou nossa democracia e quando a colocamos em marcha.

Esta é a tarefa que se impõe hoje. 


Com efeito, não temos uma democracia com um sistema de partidos, competitivo e diferenciado, mas um sistema montado em torno de um partido presidencialista que, desde essa posição predominante, aumenta sua popularidade (se são confiáveis as pesquisas de opinião que isso indicam) e dispõe de recursos. 

A popularidade deriva dos resultados econômicos (agora erodidos pela inflação) e dos recursos do abundante superávit fiscal, do controle dos impostos em detrimento dos estados e do aumento do gasto público.


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