A Moral e a Política
Da psicanalista Silvia Bleichmar [falecida dia 15/08/2007]:
Já se sabe: a política é impiedosa com a moral. Mas isso é assim, não porque todo mundo seja corrupto, mas porque, mais além da corrupção, que parece inerradicável, e na qual se envolve grande parte da corporação política de diversos signos e ideologias, as decisões de poder, em seu caráter pragmático, obrigam a escolha de ações regidas pelo que se considera necessário, contra aquilo que se concebe como correto.
A partir da diferença entre corrupção e imoralidade, se perfila um aspecto da política e da vida que deve ser levado em conta. Há atos que não são necessariamente corruptos, mas são imorais, porque quem os exerce sabe que não estão sob a opção que consideram válida e que os deixaria em paz com suas consciências.
Não há duvida de que os atos de corrupção seguem minando nossa confiança nas instituições e nas decisões que o poder tomará sobre eles. Mas a imoralidade com a qual se estabelecem algumas alianças políticas às vezes não deixa perceber a voracidade econômica dos que dela participam. Transparece como um afã de poder que, em seu movimento mesmo, deixa inertes a quem se vê por ele capturado.
Daí o pudor que sentimos, [?!], esse sentimento que surge após a exibição de um ato imoral. E vemos as idas e voltas com as quais alguns setores exercitam esse jogo, mediante o qual negociam lugares e postos em função da perspectiva eleitoral, como se o acesso à função pública fosse um prêmio de loteria ou bingo. E o fato de que se nos degrade – em muitos programas propostos – de nossa condição de cidadãos àquela de "vizinhos", não se dando conta, das verdadeiras necessidades que nos atravessam, cortando as propostas dos nexos que as determinam, ou escamoteando as condições que levam a uma ou outra escolha daqueles programas de governo. Disfarçam de forma sistemática com as idas e vindas – sorrindo – que realizam pelos bairros.
E é também aqui onde a política deveria ser restituída na sua função de princípios, como exercício da cidadania e não como puro mercadejo. Porque o problema não está só em que a mentira esteja disfarçando a verdade, mas que venha a surgir exercícios que impossibilitem – não só o engano de outros, mas o auto-engano – que lhe dá sustentação.
A partir da diferença entre corrupção e imoralidade, se perfila um aspecto da política e da vida que deve ser levado em conta. Há atos que não são necessariamente corruptos, mas são imorais, porque quem os exerce sabe que não estão sob a opção que consideram válida e que os deixaria em paz com suas consciências.
Não há duvida de que os atos de corrupção seguem minando nossa confiança nas instituições e nas decisões que o poder tomará sobre eles. Mas a imoralidade com a qual se estabelecem algumas alianças políticas às vezes não deixa perceber a voracidade econômica dos que dela participam. Transparece como um afã de poder que, em seu movimento mesmo, deixa inertes a quem se vê por ele capturado.
Daí o pudor que sentimos, [?!], esse sentimento que surge após a exibição de um ato imoral. E vemos as idas e voltas com as quais alguns setores exercitam esse jogo, mediante o qual negociam lugares e postos em função da perspectiva eleitoral, como se o acesso à função pública fosse um prêmio de loteria ou bingo. E o fato de que se nos degrade – em muitos programas propostos – de nossa condição de cidadãos àquela de "vizinhos", não se dando conta, das verdadeiras necessidades que nos atravessam, cortando as propostas dos nexos que as determinam, ou escamoteando as condições que levam a uma ou outra escolha daqueles programas de governo. Disfarçam de forma sistemática com as idas e vindas – sorrindo – que realizam pelos bairros.
E é também aqui onde a política deveria ser restituída na sua função de princípios, como exercício da cidadania e não como puro mercadejo. Porque o problema não está só em que a mentira esteja disfarçando a verdade, mas que venha a surgir exercícios que impossibilitem – não só o engano de outros, mas o auto-engano – que lhe dá sustentação.