Por que há tanta corrupção nos governos?

As reformas feitas foram basicamente institucionais, das liberdades individuais, e no governo FHC, reformas do Estado para fora, (fiscal, monetária, venda de estatais...). Mas nada se avançou quanto às reformas do Estado para dentro, ou seja, profissionalização da administração, sua estruturação e a construção de um sistema impessoal de controle interno. Durante o regime autoritário quem fazia o controle interno era o SNI. Com a democratização, essa função termina e não se constrói um sistema de controle interno, próprio de regimes democráticos.
No Brasil são os próprios ministros (secretários no caso dos Estados), que escolhem seus assessores jurídicos e inspetores de finanças para fazer o "controle" jurídico e financeiro. São pessoas de confiança pessoal dos ministros que na prática o que fazem de fato, é "legalizar" os atos de seus ministros. A controladoria geral é um órgão solto que faz auditorias quase sempre para fora (verbas de convênio aplicadas pelos estados e municípios...) e eventualmente, em casos excepcionais, para dentro, como nos escândalos. Assim mesmo para fazer a defesa do governo. No Brasil a advocacia geral (procuradorias nos estados), fazem a defesa dos governos no judiciário e nada tem a ver, a menos que solicitada especialmente, com o processamento dos atos de rotina nos ministérios.
Nos países democráticos o Controle Interno é exercido de forma profissional e impessoal pelos quadros de procuradores e contadores/auditores concursados. Os órgãos centrais, (no caso brasileiro a advocacia geral da união e a controladoria), tem seus quadros de procuradores e contadores/auditores. E cabe a elas designar para as assessorias jurídicas dos ministros e para as inspetorias de finanças, os titulares entre seus quadros de carreira. Mesmo na administração indireta e nas empresas, a designação dos diretores das áreas jurídica e de controle, passa pelo veto ou não dos titulares dos órgãos centrais.
Com isso o controle interno jurídico e financeiro acompanha todos os processo desde o seu início, corrigindo erros na raiz e inibindo a tentação de empurrar do jeito que está.
Este sistema de controle interno chega a seu ponto ótimo quando os assessores jurídicos e inspetores de finanças trabalham num pool, sem estarem alocados a um determinado ministério, e analisam o processo que chega a sua mão quando está na sua vez.
Com um sistema de controle interno montado dessa forma, os mensalões, sanguessugas, vampiros, etc... não teriam como prosperar. A corrupção endêmica, que transforma o Estado numa Cleptocracia, desaparece. A corrupção passa a ser tráfico de influencia, favores, etc... feitos a nível individual.
Enquanto o Brasil não completar as reformas do Estado para dentro tudo ficará na mesma. Não há reforma mais importante no Brasil que a reforma do Estado para dentro, e nela a construção de um efetivo Sistema de Controle Interno, (jurídico e financeiro). A cama de gato do Brasil é de tal ordem que para criar um sistema como esse se faz necessário uma consciência cidadã, vontade política e uma emenda constitucional. Ou seja, o sistema atual está feito para ficar. E não funcionar!