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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Para quem não sabe o que foi o IBAD e tem preguiça de pesquisar.

Instituto Brasileiro de Ação Democrática, IBAD, era uma organização anticomunista, funesta, fundada em maio de 1959, por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens empresários fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o IPES (de que se falará a seguir), dois anos e meio depois. Entre eles, Gilbert Huber Jr. (Grupo Gilberto Huber - Páginas Amarelas), de ascendência norte-americana, Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O financiamento para sua criação do instituto se deu a partir de contribuições de empresários brasileiros e norte-americanos. A finalidade inicial era combater o estilo populista de Juscelino Kubitschek e possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil.

A ação do IBAD era baseada na manipulação dos rumos do debate econômico, político e social do país através da ação publicitária e política. Para dar apoio publicitário ao IBAD, foi criada por Hasslocher a agência de propaganda Incrementadora de Vendas Promotion. Esta era subsidiária daquele instituto, financiada por capital norte-americano, para a criação de modismos favoráveis para a implantação ao American Way of Life. Os métodos utilizados pela agência foram herdados do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA).

O IBAD criou e incentivou a Ação Democrática Popular, ADEP, cuja função era direcionar capital e financiar os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições legislativas e para o governo de 11 estados.

O IBAD e o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, IPES, financiaram, produziram e difundiram uma grande quantidade de programas de radiofônicos, de televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista e favorecendo a maneira americana de viver. As duas entidades contribuíram decisivamente no doutrinamento ideológico que acentuou a oposição ao governo de João Goulart e seu programa de reformas, fator crucial para o êxito do golpe militar de 1964.

Muitas das radionovelas, filmes de cinema e programas de televisão na época, tinham mensagens explícitas e implícitas a favor da absorção pelos brasileiros das modas, usos, costumes e consumo de produtos norte-americanos. Foi nessa época que surgiu entre a classe média brasileira a expressão anos dourados.[igualzinho como acontece hoje nas novelas da Globo e da Record e praticado por alguns âncoras da rádio CBN e Bandnews].

O IBAD foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava a participação de capital estrangeiro na entidade, fato considerado ilegal. Membros do IBAD queimaram alguns documentos comprometedores visando dificultar as investigações, mas elas foram beneficiadas com os documentos comprovando investimentos estrangeiros na entidade. No dia 20 de dezembro de 1963, o IBAD foi dissolvido pelo Poder Judiciário.

A posse de João Goulart na presidência da República, em setembro de 1961, acirrou os ânimos dos ibadianos. O ápice da atuação do instituto foi na campanha eleitoral de 1962. Para isso, foi criada, com fins explicitamente eleitorais, a Ação Democrática Popular (Adep). Sua função era canalizar recursos para os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições legislativas e para o governo de 11 estados. Ao mesmo tempo, o IBAD engendrou ferrenha campanha contra o governo Goulart e os candidatos ao Legislativo identificados pelos ibadianos como comunistas. Além disso, produziu e difundiu grande número de programas de rádio e de televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista.

A medida de maior impacto do IBAD foi o aluguel durante a campanha eleitoral do vespertino carioca A Noite. Por 90 dias, a linha política do jornal foi radicalmente modificada - de defensora de candidatos do PTB e de posições nacionalistas à promoção dos candidatos apoiados pela Adep e identificados ao anticomunismo. Outra iniciativa do instituto foi a tradução e a divulgação do livro Assalto ao Parlamento, do escritor tcheco Jan Kosak. A obra, publicada pelo jornal O Globo, descrevia a tomada do poder pelos comunistas na Tchecoslováquia e o papel central que o controle do Congresso desempenhara nesse processo.

A participação do IBAD-Adep na campanha eleitoral de 1962 foi tão ostensiva que levou parte considerável do Congresso a suspeitar da origem dos recursos utilizados. Assim, ainda em 1962, foi sugerida a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as atividades do IBAD e de suas subsidiárias, mas a iniciativa não foi adiante.

Com o início da nova legislatura em fevereiro de 1963, foi renovada a proposta de investigar o instituto e suas subsidiárias. Em maio, a CPI foi instalada. Seus trabalhos resultaram em centenas de depoimentos, denúncias e comprovantes de despesas e de doações. Um dos pontos que a CPI conseguiu apurar foi que os papéis do IBAD haviam sido queimados quando suas atividades começaram a ser investigadas por ordem do presidente da República. Mesmo assim, foi possível reconstruir parte da história do IBAD e demonstrar com base em abundante documentação que o dinheiro do instituto provinha de várias firmas estrangeiras, na maioria norte-americanas.

Baseado parcialmente em informações reveladas pela CPI, no final de agosto Goulart determinou a suspensão por três meses das atividades do IBAD e da Adep. O decreto presidencial previa que os órgãos do Poder Judiciário examinassem a atuação da entidade e tomasse as medidas cabíveis. No final de novembro, Goulart prorrogou por mais três meses a suspensão, levando em conta o fato de que as investigações sobre as atividades ilícitas das duas organizações ainda se encontravam em curso. Finalmente, em 20 de dezembro, o IBAD e a Adep foram dissolvidos por determinação do Poder Judiciário.

Quem quiser saber mais, leia: René Armand Dreifuss – 1964: A Conquista do Estado. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.


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